segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Redes Sociais e Correntes de Ajuda: uma análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Fala sério, não tem nada mais entendiante do que ter que tolerar aquelas correntes de ajuda que as pessoas compartilham via redes sociais. Digo entendiante para não ter que usar outro adjetivo que possa fazer com que meus leitores sintam-se insultados, afinal de contas eles merecem todo o meu respeito. A moda agora é acreditar que o facebook vai doar uma quantia em dinheiro para o compartilhamento de certas imagens, e é bom que se ressalte que em sua maioria são imagens muito grotescas: crianças doentes, pessoas em situação de calamidade social, entre outras.

Agora tem também a modinha do "sou defensor" dos direitos dos animais. Aí os defensores dos pobres animais para demonstrarem seu "espírito de solidariedade", compartilham imagens que prometem alguns poucos centavos para entidades que defendem estas criaturas. As consequências destas correntes são diversas. Há quem critique abertamente, há quem saia compartilhando, há quem envie indiretas etc. A questão é que de uma forma ou de outra as correntes acabam se proliferando.

Quetiona-se: que contingências estão por trás da manutenção destes comportamentos? Hipótese número um: o que importa é a aparência e não a ação. O fenômeno internet no Brasil é algo bastante recente. É algo que começou a ganhar volume em meados da década de 1990. As pessoas não foram educadas para saberem utilizar os meios de comunicação criados com a internet. Por conseguinte, não estavam preparadas para lidarem com a visibilidade proporcionada por estes meios de comunicação.

E não se pode negar o quanto estes meios de comunicação proporcionam visibilidade, o quanto têm o poder de tornarem público aquilo que é da esfera privada. E quando o privado é tornado público muito ibope acaba sendo gerado, ou seja, muito reforço positivo acaba sendo produzido. Na vida real não importa se a pessoa realiza caridade, se ela se compromete com as causas alheias, se acolhe animaizinhos que precisam de ajuda, pois o que faz na vida real não tem tanta visibilidade quanto o que faz na web. Ela não vai ganhar tanto ibope na vida real promovendo a caridade e se engajando em causas alheias. Não vai deixar de ganhar ibope, mas esse não é tão potencializado quanto pode ser via web.

Em função disso muitas pessoas aparentam se importarem na web com certas "causas" que na vida real elas não estão nem ligando. Hummm, a vida real não gera tanto ibope quanto o mundo virtual! Isso é preocupante, pois as contingências criadas pelo mundo virtual podem estar produzindo pessoas que vivam de aparências, que fingem ser algo que não são, que se escondem atrás de um perfil de rede social ou de um nick de uma sala de bate-papo. Portanto, o que acaba importando é a aparência e não a ação!

Hipótese número dois: como as pessoas não foram educadas para um mundo virtual, aliás, elas foram educadas em escolas com quadros negros - que sempre foram verdes - aos frangalhos, em escolas em que faltavam giz e apagador, e professor se virava para conseguir educar, não formaram um repertório de comportamentos que permita entender o mundo da web, principalmente o mundo das redes sociais. Uma pergunta para você: na vida real você fica compartilhando (falando) com seus amigos notícias sobre animaizinhos em situação de perigo, de pessoas em situação de calamidade social, de crianças com câncer que precisam de doações de R$0,05 (cinco centavos) com tanta frequência quanto faz nas redes sociais? Na vida real você acreditaria que cada vez que falasse destes assuntos uma quantia em dinheiro seria doada para um órgão qualquer? Certamente você não age assim e não é tão ingênuo de acreditar que falando destes assuntos algo concreto vai acontecer.

É uma questão de contingências de reforço. Se na vida real você agir como descrito acima, esse comportamento logo será colocado em extinção, pois ninguém vai doar nenhum dinheiro porque você fala de crianças com câncer. Você pode organizar um movimento para conseguir dinheiro para crianças com câncer, mas estaríamos falando de outro repertório de comportamentos que poderia produzir consequências reais. Mas o simples falar não gera doações em dinheiro, certo? Certíssimo, não gera mesmo! Por isso na realidade você não age como na web, pois as contingências são diferentes.

Na web os comportamentos acabam sendo reforçados com a função "curtir" ou "compartilhar" do facebook, e a pessoa pensa assim quando vê todo mundo curtindo e compartilhando: "se todos curtem e compartilham, então, vou fazer também". Surge daí uma regra que não descreve uma contingência real. Lembre-se, regras são descrições de contingências de reforço, descrições que descrevem relações do tipo "se/então". "Se" aperto o botão da tomada, "então" a lâmpada acende. A regra que descreve o comportamento de apertar o botão da tomada, que tem como consequência o acender da lâmpada, é uma regra que descreve uma contingência real, em que o "se" está relacionado com o "então".

Mas na web não é bem assim que acontece. "Eu compartilho esta imagem e a criança com câncer recebe uma doação de cinco centavos". A pessoa não vê a consequência final acontecendo, consequência que reforçaria todo o encadeamento de respostas que produziram o clicar e o compartilhar, pois esta consequência não existe, ela é lenda! Mas o que mantém o comportamento? O curtir de outras pessoas e a regra já descrita: "todo mundo compartilha, então deve ser verdade". O brasileiro não foi devidamente educado para se comportar no mundo virtual, então, falta no seu repertório comportamentos que permitam discriminar como funciona o infinito universo da web.

Enfim, podem existir outras hipóteses explicativas, mas estas que aqui foram levantadas nos dão uma ideia das diferenças existentes entre as contingências de reforço no mundo virtual e no mundo real, e dos tipos de comportamentos que ambas modelam. A questão é: estamos preparados para lidar com os comportamentos que as contingências de reforço do mundo virtual têm modelado?

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As Bromélias e a Teia de Aranha

Por: Hélio José Guilhardi e Patrícia B. P. de S. Queiroz.

- Quanta bromélia junta! Formam um canteiro natural sobre a rocha.
- Olhe essa teia de aranha entre as folhas...
- Nem a tinha notado... Interessante: olhei e não a vi... Faltou alguma contingência para me fazer vê-la.
- Minha frase criou a contingência. Agora você a vê.
- Assim, no dia a dia, fica claro como o comportamento - de ver no caso - é controlado.
- Os cognitivistas diriam que você não “prestou atenção”, por isso não viu a teia.
- Nesse caso, “prestar atenção” antecederia ver? Seria um pré-requisito?
- Para os cognitivistas sim. No entanto, “prestar atenção” não é causa de ver. As contingências me levam a notar aspectos do meio, a “prestar atenção” em detalhes como a teia. Nesse sentido “prestar atenção”, definida como olhar para algo (teia) e nomeá-lo (“teia de aranha”) é comportamento.
- Mas, então, qual foi a contingência para eu ter notado as bromélias já que ninguém “chamou minha atenção” para eu vê-las?
- Neste caso, a contingência está na sua história de vida. Em algum momento, alguém lhe mostrou uma determinada planta (SD) e lhe disse “Isto é uma bromélia” (SD verbal com função de modelo para nomeação). A partir daí, quando você diante de uma bromélia verbalizou “bromélia” (R verbal), sua comunidade verbal a consequenciou com algum tipo de reforço positivo (“Muito bem”, “Isso mesmo”, “Vê como as bromélias são lindas?”, etc.).
- Mas, se aprendi em casa o que é uma bromélia, como a reconheço nas rochas?
- Se o treino discriminativo foi repetido com diferentes tipos de bromélias, em diferentes circunstâncias, você, provavelmente, formou o “conceito bromélia”. Isto é, passou a ser capaz de dizer “bromélia” para muitos tipos diferentes de plantas,  todas bromélias: generalizou dentro da classe de estímulos (bromélias grandes ou pequenas, floridas ou sem flores, ao vivo ou em fotos, etc.). Simultaneamente, discriminou entre classes de estímulos  (não diz “bromélia” diante de uma avenca, ou de uma samambaia, etc.). Tendo formado o “conceito bromélia”, portanto, você está habilitada a identificá-la (uma vegetal bromélia tem função de SD para você) e a nomeá-la em qualquer ambiente.
- Se esse treino ocorreu no passado, onde ficou armazenado para eu usá-lo no presente?
- A idéia de “armazenamento” é cognitivista. Aquilo que foi aprendido não fica “guardado” em nenhum arquivo psicológico, de onde é retirado quando necessário.
- Mas, eu nem estava pensando em bromélias e quando as vi imediatamente as reconheci.
- O “conceito bromélia” está no organismo. Tudo que é aprendido (passou pela condição indispensável de ter sido exposto a uma contingência de reforçamento) passa a fazer parte do organismo. Assim,  organismo é o conjunto formado pelo equipamento biológico e pelo repertório de comportamentos adquiridos. 
- Entendo. Uma pessoa que nunca aprendeu o que é “bromélia” não poderia nomeá-la, mesmo a tendo diante dos olhos. Não teria pré-requisitos para  vê-la. O que não entendo, então é, o papel dos olhos? Eu não vejo com os meus olhos? 
- É uma questão interessante. A resposta é não. Os olhos, enquanto equipamento biológico, são um pré-requisito para o comportamento de “ver”, mas não bastam para ver. O que faz um organismo ver, através ou com os olhos, são as contingências que produzem uma discriminação visual. 
- Como assim?
- Suponha que você olhe para uma lâmina com sangue através das lentes de um microscópio antes de uma aula prática sobre células sanguíneas. Embora, os diferentes tipos de células sanguíneas estejam lá você não conseguirá distingui-las. Após a aula, em que lhe foram ensinados os conceitos  de eritrócitos, eosinófilos, basófilos, plaquetas, etc. você “verá” os diferentes  tipos de células. Foram as contingências (produzidas pela aula) que lhe ensinaram a ver aquilo que você não via antes de ter os conceitos, embora as células estivessem o tempo todo diante de seus olhos. Assim, são necessários os olhos (parte do organismo) e as contingências ambientais para ocorrer o comportamento de ver.
- Acho que entendi. Preciso pensar mais sobre isso... Mas, se  fui ensinada a ter o “conceito” de “bromélia”, ou seja, se sou, digamos, “um organismo bromeliado”, por que não fico dizendo “bromélia” o tempo todo?
- Porque o “conceito bromélia” está no organismo e também nas contingências ambientais. O “organismo bromeliado”, como você disse (aquele que incorporou o conceito de bromélia em função de sua história de vida) está apto para nomeá-la, mas precisa ser exposto a contingências que  evoquem, num determinado momento ou contexto, a resposta verbal para, de fato, nomeá-la. Assim, poderia ser a visão de uma bromélia (SD), a minha presença (um ouvinte com função de SD e com provável função de Sr) como aconteceu no episódio. Poderia ter sido outra contingência, por exemplo, alguém perguntar “O que é uma bromélia?”, “Quem viu uma bromélia?", etc. 
- Mas, houve um momento no nosso percurso em que sem ter visto nenhuma bromélia eu “pensei” nela.
- Pensou em quê exatamente?
- Pensei que nestas montanhas, bem que poderíamos encontrar bromélias...
- Seu pensamento estava, neste exemplo, sob controle do ambiente físico: um local onde há certa probabilidade de existirem bromélias. (É pouco provável que você pensasse em bromélias no meio do oceano, por ex., exceto sob circunstâncias arbitrárias especiais, como ouvir alguém dizendo “Estou com vontade de comer abacaxi..."). É um exemplo de generalização de estímulos. A probabilidade de pensar em bromélia depende da  força da resposta: contingências sob as quais o comportamento foi instalado e o grau de semelhança entre os estímulos presentes e aqueles sob os quais a resposta foi condicionada.
- Você tem razão... Eu já havia visto bromélias em uma região semelhante a esta numa outra viagem que fiz. Agora, o que me chamou a atenção na sua explicação foi que você tratou o meu pensamento como se fosse um outro comportamento qualquer.
- Exato. Pensar é comportar-se. O pensamento é comportamento, sujeito às mesmas leis que qualquer outro comportamento. Sua única particularidade é o acesso para observá-lo. Como se trata de um comportamento privado, sua observação só é acessível à própria pessoa que se comporta (pensa): você no caso.
- Ainda uma coisa me deixa em dúvida... Quando você me perguntou em que exatamente eu havia pensado, dei-lhe uma resposta, mas não foi tudo. De fato, pensei que queria encontrar uma bromélia mas ,além disso, eu “vi” a bromélia que gostaria de encontrar. Posso até descrevê-la para você. Mas, como posso “ter visto” uma planta, com sua flor vermelha, se ela não estava ali?
- Quando você diz que “viu” alguma coisa, e neste caso você viu uma planta que não estava presente, está se referindo a uma outra classe de comportamentos encobertos, que não exatamente pensar. Usualmente, emprega-se nestes casos o verbo imaginar. Ou seja, você imaginou que estava vendo uma planta (é como se você estivesse vendo uma imagem). A concepção de ver uma imagem é também dualista: é como se existisse um objeto e uma cópia dele e em circunstâncias especiais nós vemos a cópia, a imagem. Um resquício da concepção religiosa de corpo-alma, que por sua vez se baseia na filosofia platônica do mundo das sensações e das idéias...
- Como explicar, então, que eu “vi” a bromélia florida?
- A explicação seria a mesma usada para explicar o comportamento de pensar, como foi feito acima, mas agora aplicado a outra classe de comportamento: “ver na ausência do objeto visto”. Assim, é necessário um SD ambiental, no caso região montanhosa, onde bromélias podem ser encontradas. Uma  história passada em que existiram contingências que lhe ensinaram a discriminar (visualmente) uma bromélia, a ter um conceito visual de bromélia, ou, mais específico ainda, de bromélias com flores vermelhas e ainda lhe ensinaram que bromélias crescem e florescem em regiões montanhosas parecidas com a que você está escalando. Sem essa história de contingências e sem o controle de estímulo ambiental você não “veria” bromélias. A bromélia que você “viu” não está no mundo platônico das idéias, está na relação entre seu organismo e o aspecto funcional do ambiente; está nas contingências passadas e atuais.



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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Autoestima: uma breve análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Vamos começar pelo desmembramento da palavra: auto + estima. Auto é relativo a si mesmo. Autobiografia, por exemplo, é uma narrativa que conta a história do próprio autor que a escreveu. Estima é o apreço que se tem por alguém. Estima vem do verbo estimar. Estimar significa determinar o valor. Na frase, "os cientistas estimam que o sol ainda brilhará por 5 bilhões de anos", estimar significa calcular, ou seja, os cientistas calculam que o sol ainda vai brilhar durante muito tempo. De estimar vem a palavra estimativa, que é o mesmo que calcular aproximadamente. Quando se faz uma estimativa, na verdade está se calculando aproximadamente o valor de alguma coisa. Então o cálculo dos cientistas são estimativas, pois não podem determinar aproximadamente por quanto tempo o sol vai brilhar.

O que importa é que estimar significa determinar o valor de algo. A todo instante estamos determinando o valor das coisas. Uma pessoa pode ter para nós um valor maior ou menor dependendo do seu comportamento. Se seu comportamento é para mim fonte de reforçamento positivo, certamente essa pessoa terá um grande valor para mim. Valorizamos, por exemplo, os nossos pais, pois apesar de todos os problemas eles nos ajudaram e ajudam em diversas circunstâncias da vida. Sim, há aqueles que por motivos vários não valorizam seus pais, e isso é explicável pela história de reforçamento, pela história que está por trás deste relacionamento estabelecido entre filhos e progenitores.

Se por outro lado, o comportamento de uma determinada pessoa é para mim fonte de controle aversivo, esta pessoa terá então um valor menor ou nenhum valor, ou seja, minha estima por ela será muito pequena, meu sentimento de afeição por ela será bem diminuto. Como sentimento é comportamento, com pouca frequência demonstrarei minha afeição por esta pessoa, e se o fizer este comportamento não será assim tão intenso como seria com outra pessoa que tenho muita estima. Se assim o fizer a topografia (aparência/forma) do meu comportamento não demonstrará que meu afeto é assim tão intenso. Para entender porque sentimento é comportamento, leia outros posts em que esta questão é desenvolvida, para isso clique aqui.

Então, o leitor já deve ter percebido que o comportamento de estimar está relacionado com aquilo que sinto com relação às pessoas com quem me relaciono. Tem também relação com a forma como percebo as pessoas. Tanto o sentir quanto o perceber, que são comportamentos, são determinados pelas contingências de reforço que se fazem presente nos relacionamentos estabelecidos com as pessoas. Ou seja, o que sinto com relação a uma pessoa é determinado pelos efeitos dos comportamentos dela sobre os meus comportamentos.

Se os efeitos são agradáveis tomo essa pessoa como alguém agradável. Descrevo minha relação com ela como sendo uma relação agradável. Essa descrição é uma regra. Regras são descrições de contingências de reforço, descrições que fazem relação do "se" com o "então". "Se" eu fizer isso "então" acontece aquilo. Se eu me aproximar de "fulano" ele vai me tratar bem, então vou me sentir realizado. Consequentemente criarei circunstâncias que favoreçam o encontro com esse "fulano". Aqui temos a explicação para o comportamento de perceber.

As chamadas "representações mentais" que se formam a partir da percepção, são na verdade regras que descrevem relações do tipo "se"/"então". Não há representações mentais e nem há um processo chamado percepção que aglutina dados sensoriais e forma imagens na mente. Perceber algo é reagir a uma dada circunstância em função dos estímulos presentes nesta circunstância e das consequências gerados pelo nosso comportar-se. Se diz que o artista tem uma percepção mais refinada para arte do que o leigo. O artista tem uma história de reforçamento que modelou comportamentos de discriminar com maior precisão artes deste ou daquele profissional. Ele estudou, se informou, pesquisou, dedicou sua vida às artes, e nada mais natural que reaja a uma tela num museu de uma forma diferente da forma como reagiria o leigo.

O artista seria capaz de dizer que tinta foi usada na tela, quando ela foi pintada e a qual escola artística ela pertence, pois tem em seu repertório comportamentos que o leigo não tem. Não é sua percepção que é diferente, mas sim seu repertório de comportamentos. Sua percepção não tem nada de diferente. Ele simplesmente reage às circunstâncias, às contingências de reforço, pois tem em seu repertório os comportamentos apropriados para reagir de uma forma diferente da forma como reagiria uma pessoa leiga.

Agora aplique tudo que leu acima em si mesmo. Aplicando você entenderá que autoestima é nada mais nada menos do que o comportamento de estimar o próprio valor. Sua autoestima será elevada dependo da forma como se sente com relação a si mesmo e dependendo da forma como se percebe, ou seja, dependendo da forma como descreve a si mesmo. Mas o que sentimentos com relação a nós mesmos e a forma como nos descrevemos é fruto de nossa história.

Alguns aprenderam ao longo da vida que não têm valor nenhum, pois tendo sido mal avaliados por outras pessoas, tomaram a descrição destas como sendo verdadeiras, ou seja, utilizaram estas descrições como regras para descreverem a própria vida. A questão é que estas descrições podem estar erradas. Quando estão erradas geram autoavaliações disfuncionais. Por sua vez, estas avaliações disfuncionais criam circunstâncias aversivas que fazem as pessoas se sentirem mal. Quando se sentem mal dizem que têm uma baixa autoestima. Como mudar este sentimento? Mudando as contingências de reforço.

Uma terapia pode ajudar a pessoa a mudar as contingências que determinam o comportamento de se avaliar de forma tão negativa. O que importa é a pessoa saber o quanto a sua autoavaliação a incomoda. Se houver incômodos é hora de procurar ajuda, pois este incômodo pode gerar interferências em outros comportamentos, tornando, desta forma, a vida menos produtiva. Uma vida menos produtiva pode se tornar escassa em reforçamento positivo. Por sua vez a escassez de reforçamento positivo pode gerar uma série de outros problemas comportamentais (emocionais).

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domingo, 13 de janeiro de 2013

Democracia brasileira: que democracia?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O Brasil é um país que tem como regime político a democracia. Enquanto regime político a democracia se caracteriza pela possibilidade de participação da população na gestão do bem público. Em termos analíticos-comportamentais a democracia cria contingências de reforço que permitem que membros de uma dada sociedade possam exercer contracontrole sobre seus governantes. Ao mesmo tempo aqueles que governam estão sujeitos aos efeitos das legislações que por eles são criadas, ao menos em tese é o que deveria acontecer. Por sua vez estas legislações descrevem contingências de reforço que especificam que tipo de consequências seguirão cada tipo de comportamentos emitidos em espaços públicos. Podem ser consequências reforçadoras ou podem ser consequências punitivas. Na maior parte das vezes elas são punitivas.

Se a democracia cria espaços de participação popular, ou seja, permite o exercício do contracontrole, é de se esperar que esta participação não seja punida pelos governantes, pois a punição poderia suprimir os comportamentos de participação, o que acabaria por descaracterizar a própria democracia, transformando-a em uma espécie de absolutismo disfarçado de regime democrático. E não é que isso é muito comum no Brasil?

Com a popularização das redes sociais, que se transformaram em espaços de intensa participação popular, o controle da circulação das informações acabou fugindo ao poder daqueles que governam. Se estes podem controlar a imprensa local, e fazem isso legalmente através de contratos entre prefeituras e mídias impressas, e por vezes também com mídias televisivas, não podem fazer o mesmo com o espaço da internet e redes sociais. Com estes contratos a mídia impressa noticia aquilo que quem governa quer que seja noticiado. O reforço condicionado dinheiro tem grande poder de controle.

Mas este reforço pouco atinge os comportamentos de quem participa nas redes sociais. Se este é ineficaz, entra em cena o controle aversivo, entra em cena a coerção, ou seja, a punição ou ameaça de punição. Quem está no poder tem acesso privilegiado a espaços e instrumentos que um sujeito comum não tem. Consequentemente pode desfrutar de reforços que são inacessíveis ao restante da população e perder estes reforços não é algo que faça parte dos planos. Perder estes reforços representa a possibilidade voltar à condição de sujeito comum, de sujeito que não pode usar a máquina administrativa para ameaçar ou para estabelecer relações de influências que produzirão inúmeros estímulos reforçadores.

Estas relações de influências são muito comuns na política brasileira. As ciências políticas chamam este tipo de fenômeno de fisiologismo. O fisiologismo consiste na troca de favores, leia-se cargos, entre partidos para a manutenção de apoio político. Partidos trocam cargos para manterem o controle da máquina administrativa e assim aumentarem suas chances de se perpetuarem no poder. No fundo trata-se de uma troca de reforços que acabam por manterem estas práticas culturais, e estas práticas criam contingências que fazem a manutenção de comportamentos de usar o público como se privado fosse. A utilização do público como se privado fosse é chamada de patrimonialismo.

O público acaba sendo tomado como patrimônio particular, uma espécie de volta ao absolutismo, em que uma família ou grupo de pessoas se "agarram ao osso", ou melhor dizendo, se agarram ao poder e nele se mantêm por meio de nomeações em que somente o grupo é beneficiado. Desta prática deriva a nomeação de parentes para cargos públicos importantes. A consequência direta deste tipo de prática é que pessoas que não têm competência técnica acabam ocupando funções que são determinantes na gestão de segmentos importantes do patrimônio público.

Abre-se mão dos critérios técnicos, e no lugar entram os critérios da politicagem, os critérios da troca de favores. Isso acaba provocando indignação. Se a impressa local geralmente está sob controle do poder público, em que lugar a indignação encontra terreno livre para ser manifestar? Se você pensou nas redes sociais, digo-lhe que está correto. Por isso as redes sociais se popularizaram tanto como meio para o exercício do contracontrole, e em muitos lugares elas têm causado um profundo incômodo. Em muitos lugares pessoas têm se unido para formarem grupos que agem como fiscalizadores do poder público. E não é essa a essência da democracia, ou seja, a de criar espaços quer permitam inclusive que a sociedade fiscalize o poder público?

Portanto, em tempos de globalização e popularização da internet e redes sociais é necessário que nossos governantes repensem suas posturas. Aqueles que não se atentarem para o poder da internet podem correr sérios riscos de serem extintos, ou melhor dizendo, correm o risco de terem suas carreiras como políticos extintas. E se depender deste blogueiro que vos fala as redes sociais vão se popularizar cada vez mais como instrumentos para o exercício do contracontrole, algo que as ciências sociais chamam de controle social.

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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A Difícil Tarefa de Falar de Sentimentos

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Você já percebeu que falar de sentimentos e emoções não é uma tarefa muito fácil? Nós psicólogos vivenciamos isso todos os dias na clínica. Muitos dos nossos clientes querem falar de seus sentimentos, mas as palavras parecem escapar-lhes, e quando alguma palavra é encontrada ela parece não descrever com exatidão aquilo que se sente. No entanto, não é um "privilégio" dos psicólogos poder observar de perto a dificuldade que a maior parte das pessoas têm de falar de seus sentimentos. Aliás, é bom que se diga que os profissionais da psicologia não estão isentos desta dificuldade, afinal de contas nós também somos humanos, e como o resto da humanidade aprendemos a falar de nossos sentimentos com quem não tem acesso ao que estamos sentindo.

Já assinalamos em outros textos que emoções são comportamentos.Tenha acesso a alguns destes textos clicando aqui. O behaviorista não atribui às emoções nenhum status especial. Ele não considera as emoções como os fatores causais daquilo que fazemos. Tanto o que sentimos quanto o que fazemos são comportamentos selecionados (modelados) pelas contingências de reforço que fomos sendo expostos ao longo da vida. Isso não quer dizer que as contingências filogenéticas, aquelas relacionadas à sobrevivência da espécie humana e as contingências culturais não tenham um papel na causação do comportamento emocional.

As contingências filogenéticas selecionaram os comportamentos respondentes que são eliciados quando nos emocionamos. Quando alguém, por exemplo, diz sentir ansiedade, na verdade está relatando algumas transformações fisiológicas que estão se processando no organismo: taquicardia, respiração ofegante, queimação no estômago ou ânsia de vômito, tensão muscular, etc. Estas transformações fisiológicas são os respondentes eliciados quando se sente ansiedade. Isso é apenas parte do comportamento emocional de se sentir ansioso. Outra parte se manifesta através de comportamentos operantes: agitação, fala acelerada, dificuldade de concentração, impaciência, etc.

As transformações fisiológicas foram selecionadas ao longo da evolução das espécies por causa do seu valor de sobrevivência. Imaginemos o caso da ansiedade. Taquicardia e respiração ofegante, por exemplo, ajudam o organismo a entrar num estado de alerta que o prepara para a fuga e contra-ataque. Nos primódios da civilazação humana o Homem disputava alimentos e abrigo com outras espécies, fugir e contra-atacar foram respostas adaptativas selecionadas por contngências filogenéticas. O problema do mundo moderno é que qualquer sinal insignificante de perigo é interpretado como motivo para fugir e contra-atacar, e isso explica porque tantas pessoas têm problemas relacionados com a ansiedade e porque muitas outras vivem explodindo e contra-atacando aquilo que se considera um objeto de temor.

Mesmo os comportamentos de contra-atacar e fugir não são puramente filogenéticos. Há neles um componente operante. Se o contra-ataque minimiza ou elimina os sinais de perigo, acaba por se estabelecer uma contingência de reforçamento negativo. Se a fuga evita danos à integridade física, também se estabelece uma contingência de reforçamento negativo. Mas as respostas de aceleração cardíaca, respiração ofegante, entre outras são puramente filogenéticas, cuja função é colocar o organismo em condições para fuga ou contra-ataque. Neste sentido, podemos dizer que ansiedade enquanto comportamento emocional é um comportamento adaptativo, pois ajudou o homem na luta por alimentos e abrigo.

Mas se a ansiedade como qualquer outro comportamento emocional pode ser um comportamento adaptativo, por que temos padrões emocionais que acabam produzindo problemas, que acabam colocando a integridade do organismo em risco? A resposta está nas contingências de reforço. Se alguém é muito ansioso, pode ser que tenha tido uma história repleta de muitas punições. Sendo assim, vários foram os estímulos que se associaram às punições e por isso se tornaram estímulos aversivos. Então, a pessoa age como se tudo fosse aversivo, como se estivesse prestes a ser punida, por isso precisa manter-se alerta. Uma generalização de estímulos é responsável por este estado de prontidão.

As contingências culturais também têm um papel na causação do comportamento emocional. É dito, por exemplo, que os brasileiros são bastantes expressivos, enquanto que os ingleses são mais frios e introspectivos. Se analisarmos a cultura brasileira encontraremos contingências que favorecem a extroversão, enquanto na Inglaterra encontraremos outras contingências completamente diferentes. Uma análise completa dos comportamentos emocionais também deve levar em consideração estas contingências. Um psicoterapeuta brasileiro atendendo um inglês deve ter o cuidado de não forçar a ocorrência de certos comportamentos emocionais, caso contrário pode criar contingências de controle aversivo que levem o cliente a fugir do tratamento.

Até aqui aprendemos que emoções são comportamentos. Por trás da causação dos comportamentos emocionais estão contingências filogenéticas, contingências de reforço (ontogenéticas) e contingências que envolvem o processo de transmissão da cultura. Resta responder a seguinte pergunta: por que é tão difícil falar de emoções? Lembremos que parte do que ocorre enquanto nos emocionamos são comportamentos respondentes (mudanças fisiológicas). Boa parte destes mudanças geram transformações no interior do organismo, geram estímulos interoceptivos, estímulos que ocorrem no interior do organismo, estímulos que correspondem exatamente aquilo que sentimos quando nos emocionamos.

Estes estímulos são privados, pois só quem tem acesso a eles é aquele que se emociona. Quando descrevemos que estamos sentindo determinada emoção, estamos na verdade descrevendo a ocorrência destes estímulos gerados por comportamentos respondentes. A questão é que aprendemos a descrever tais estímulos, ou descrever nossos estados emocionais com quem  não tem acesso ao que estamos sentindo. Chamamos de comunidade verbal aqueles que nos ensinam tal tarefa. A comunidade verbal é formada por todos os membros que fazem parte dos grupos aos quais frequentamos ao longo da vida: família, escola, grupos sociais, etc.

Se a comunidade verbal não tem acesso ao que sentimos, como ela nos ensina a falar de nossas emoções? Ela faz isso com base em eventos públicos que acompanham nossos estados emocionais. Vamos a um exemplo. Imagine uma criança que ao aprender a dar os seus primeiros passos acaba caindo e ferindo a boca. Imediatamente ela começa a chorar. A mãe presume que ela está sentindo dor e começa a dizer: "oh dó, está doendo bebê? Machucou a boquinha? Fez dodói?" Assim a criança aprende que aquilo que está sendo sentido se chama dor.

Mas não é em todos os estados emocionais que há um evento púbico claro acompanhando um estímulo privado que se presume estar ocorrendo. A comunidade verbal vai sempre inferir a presença de um estímulo privado a partir de eventos públicos correlatos, mas estes últimos nem sempre são assim tão evidentes. Deste fato deriva-se a dificuldade que geralmente temos em falar de emoções, pois aprendemos a relatá-las de modo bastante impreciso, e toda imprecisão decorre do acesso que a comunidade não tem aos estímulos que se originam da ocorrência de comportamentos respondentes.


Este é um dos principais motivos que explicam a dificuldade que todos temos em falar de emoções. Há outros. Emoções que geram estimulação aversiva também vão ser relatadas com dificuldades, pois os estímulos aversivos irão gerar comportamentos que concorrerão com o comportamento de relatar a emoção sentida. Pessoas com pouco treino em habilidades sociais também podem sentir muita dificuldade ao falar de emoções, pois o falar pressupõe um ouvinte (plateia), e a ausência de comportamentos que permitam a socialização transforma as situações sociais em fontes de estímulos aversivos.

Portanto, antes de julgarmos alguém, é bom que nos questionemos se estamos em condições de descrever o que a pessoa está sentindo. Nem sempre os eventos públicos que acompanham os comportamentos emocionais são pistas confiáveis para aquilo que as pessoas estão sentindo. Ao lembrarmos disso evitamos os riscos de chegarmos a conclusões precipitadas a respeito daquilo que as pessoas sentem.

E você, o que achou deste texto? Manifeste sua opinião.

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