Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.
Ao vasculhar a TV parei em um destes programas evangélicos. Advinhem quem estava pregando? O pastor proprietário de uma das maiores redes de televisão do país. Isso mesmo, o "Bispo" Edir Macedo. Me chamou a atenção a pregação utilizada pelo Sr. Edir, digo senhor porque ele já é um homem maduro, um homem de idade razoavelmente avançada, e que por isso merece o meu respeito. Aprendi com meus pais que devemos respeitar as pessoas mais maduras, por isso ao Sr. Edir o meu respeito.
Respeito-o por seus cabelos brancos, mas me causa estranhamento a estratégia utilizada na captação de novos fiéis. Dizia o Sr. Edir que a igreja estava fazendo uma campanha. Num determinado dia o fiel deveria colocar num envelope uma quantia em dinheiro. Junto com o dinheiro devia colocar também a foto de alguém que precisava de uma grande graça de Deus, seja uma graça no âmbito da saúde, ou uma graça no âmbito financeiro. Então nesta lista entram doentes e endividados.
Mas o bispo não parou por aí. Ele foi além, e, sobretudo, foi enfático ao dizer que quanto maior fosse a doação maiores seriam as chances de que a graça fosse alcançada. É a mercantilização da fé sendo utilizada como estratégia para cativar novos fiéis, algo disseminado no Brasil desde a década de 1980 quando chegou em terras tupiniquins a teologia da prosperidade.
O Brasil é um importador de bens materiais e culturais norte-americanos. A teologia da prosperidade é um bem cultural importado. Ela nasce nos EUA no inicio do século XX, e na essência ela diz que ao fiel é reservado o direito à prosperidade. Mas inevitavelmente temos que questionar: prosperidade de quem, dos fiéis ou das igrejas? O que se vê é um crescimento vertiginoso das igrejas que utilizam a teologia da prosperidade como meio para conquistar novos fiéis. O patrimônio destas igrejas já passou da casa dos milhões há décadas. Grandes templos são construídos com uma facilidade inimaginável.
Prosperidade de quem? Certamente o Sr. Edir não pode reclamar de sua conta bancária, ele e tantos outros disseminadores da teologia da prosperidade. Mas por que a teologia da prosperidade enquanto estratégia para cativar novos fiéis acaba funcionando? Porque ela cria poderosas contingências de reforçamento positivo. Se durante muitos anos fiéis iam às igrejas para fugirem do inferno e para ganharem o paraíso, punições e recompensas utilizadas para a manutenção dos comportamentos de ir à igreja e professar os seus ensinamentos, agora eles vão para obterem ainda nesta vida recompensas materiais.
O leitor vai concordar que entre recompensas que podem ser obtidas nesta vida e aquelas que só podem ser desfrutadas num porvir, as obtidas nesta vida são muito mais atraentes, portanto, as igrejas que forem capazes de oferecê-las aumentam exponencialmente sua capacidade de conquistar novos fiéis, e consequentemente aumentam também sua arrecadação do dízimo, engordando, assim, a conta de pastores inescrupulosos.
Recompensas materiais são muito mais fascinantes (reforçadoras) que possíveis recompensas espirituais. Num mundo marcado pela concorrência as igrejas se transformaram em poderosos nichos de mercado. Para vencer a concorrência é necessário oferecer ao fiel (consumidor) um produto agradável (reforçador). Quer um produto mais agradável do que a prosperidade no âmbito da saúde ou das finanças?
As igrejas estão cada vez mais se adaptando à logica do capitalismo. Elas passaram a oferecer recompensas materiais, recompensas que podem ser desfrutadas ainda em vida, sem que seja necessário esperar por promessas de recompensas espirituais que venham se concretizarem numa outra vida. E o esquema por trás destas promessas de recompensas materiais geralmente é o de razão variável, quando mais o fiel doa, mais ele aumenta as possibilidades de receber.
Agora imaginemos uma situação fictícia. O cara está endividado e precisa resolver seus problemas financeiros. Ele começa a frequentar a igreja e pagar seu dízimo. Vez ou outra, ou vez em sempre participa das campanhas de doar dinheiro para a igreja. Se esse cara anteriormente gastava todo seu orçamento com muita farra, consumindo excessivamente, etc, para conseguir pagar seu dízimo em dia ele começa a abandonar a antiga vida. Ele deixa de farrear e consumir excessivamente. Com isso o dinheiro começa a sobrar todo mês. Sobrando é possível fazer uma economia e conseguir saldar as dívidas. É uma questão de contingências de reforço, ou seja, se o sujeito mudou seus hábitos, inevitavelmente os resultados serão diferentes daqueles obtidos com o estilo de vida que tinha anteriormente.
Mas isso acaba fortalecendo as contingências criadas pela teologia da prosperidade, pois o cara acaba pensando: "quanto mais eu doar, mais eu vou receber". Ora, vejam aí o esquema de reforçamento de razão variável produzindo os seus resultados... O resultado produzido é a regra que passa a governar diversos comportamentos do fiel, a regra da graça que é proporcional à doação. No final a prosperidade é de quem? Das igrejas ou dos fiéis? Fica a pergunta...
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Bom dia Colega. Meu nome é Verônica sou psicóloga aqui no Rio de Janeiro. Gostei muito desta postagem. Sinto muito por essas pessoas, que se deixam enganar por esse tipo de gente, que ganham dinheiro em cima do sofrimento alheio. Lamentável.Já estou te seguindo. Te achei na Agenda dos Blogs. Meu cantinho é Consultório Psi
ResponderExcluirhttp://www.veronicaribeiropsicologa.blogspot.com.br/ e o facebook é https://www.facebook.com/psicologaveronicaribeiro . Beijos e boa semana.
Obrigado pela visita Verônica. Eu também sinto muito por estas pessoas que se deixam fisgar por estratégias tão "mesquinhas". Fique sempre a vonta para comentar, pois este espaço também é seu.
ExcluirAbraços.