Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.
Não restam dúvidas que a humanidade caminha a passos
largos. Nunca se viu tantas tecnologias surgirem tão rapidamente e em tão pouco
tempo. Até bem pouco tempo não existia internet. Há algumas décadas poucos eram
os que tinham um aparelho de televisão em casa. Se viajarmos um pouco mais no
tempo chegaremos num momento em que o “Repórter Esso” era um dos poucos meios
de divulgação de notícias, e muitos ficavam grudadinhos em seus rádios para
saber o que se passava no mundo. Agora quase todos têm computador com acesso à
internet.
Vivemos num mundo das pessoas conectadas. Existe uma
teia de relações espalhadas pelos ares através das ondas de transmissão de
informação. Existem neste momento inúmeros relacionamentos sendo construídos
via bytes que trafegam pelos cabos de fibra ótica ou de telefonia convencional.
Teias de relacionamentos se formam como teias de aranha em uma caverna escura e
abandonada, ambiente perfeito para proliferação de aracnídeos.
É o mundo midiático, em que tudo vira notícia. Caiu,
escorregou e se machucou, vira vídeo e vai para o youtube, ou vira foto e é
compartilhado por famigerados usuários do facebook em busca de uma sensação
momentânea de satisfação originada pela desgraça do outro. É o mundo dos 15
minutos de fama em que pessoas buscam aparecer na mídia de qualquer forma em troca
de dinheiro, em busca da tão prometida ascensão social veiculada nos outdoors e
capas de revistas. Alguns poucos até conseguem seus poucos minutos de fama, mas
logo são esquecidos, pois o turbilhão de informações que circulam nas teias da
web faz o novo rapidamente ficar velho. É o mundo do passageiro: o novo é logo
velho, tudo é descartável numa velocidade impressionante.
Com isso a lógica da web vai se impregnando em nossas relações. Pessoas são descartadas, relacionamentos são efêmeros e rapidamente substituídos por outros. É o mundo do fast food, da comida rápida, do sexo virtual. E neste mundo o que importa é o prazer. É o mundo que permite acesso fácil a inúmeras fontes de reforçamento positivo sem muito esforço. Este mesmo acesso facilitado treina pessoas pouco resistentes à frustração. Já parou para perceber qual é sua reação quando sua conexão de internet cai? Provavelmente você vai da ira à melancolia em instantes.
O mundo moderno é um circo dos horrores. Quando as
pessoas são “treinadas” para terem acesso fácil a reforços positivos, ao
ficarem sem eles entram em colapso, se debatem em um quadro quase caótico. É um
mundo que nos condiciona a sermos felizes a custa da desgraça dos outros. Isso
banaliza a cultura da punição. O legal é se divertir punindo os outros. O que
dá IBOPE é mandar alguém para o paredão, só para fazer alusão a um certo
programa de televisão em que a desgraça do outro gera muita audiência. O que dá
IBOPE é tramar estratégias para fazer com que o outro seja colocado no paredão.
É a perpetuação sem fim da cultura do controle aversivo, da cultura em que punir
o outro é algo banal, algo normal. Normal? Se isso for normal quero gritar com
Raul Seixas: “Pare o mundo que eu quero descer!”
No mundo moderno o que faz feliz as pessoas é ver uma panicat trocando suas madeixas por um pouco de grana e fama. É o circo dos horrores! É a banalização do esforço desmedido para se tornar famoso doa a quem doer. Neste esforço tudo se faz para se conseguir um lugar ao sol, vale até puxar o tapete do outro, vale até colocá-lo no paredão, e por que não fuzilá-lo? Vale vender suas madeixas, e por que não vender todo o resto, já que a sexualidade no mundo moderno é mercadoria altamente vendável? É o mundo do fast food sexual, em que as pessoas estão trocando relações reais por relações sexuais virtuais. Perde-se a referência do contato com o outro e com isso fontes importantes de reforçamento que poderiam contribuir para a modelagem de habilidades sociais.
É o mundo do Reality Show, em que a vida privada
virou comércio. Com isso perpetua-se a lógica de que não existe intimidade, de que
tudo se pode fazer para invadir a privacidade alheia. É o mundo dos paparazzis,
das revistas de fofoca, dos programas de Sônia Abrão, Casos de Família etc.
Leva-se famílias para um palco de um programa de televisão para discutirem os
seus problemas íntimos. Isso é fonte de diversão para muitos. Com isso
perpetua-se a lógica da invasão da privacidade, da intimidade escancarada.
Estamos a um passo de uma cultura em que não haverá limites claros entre a vida
íntima e a vida pública, e esta confusão nos colocará muito próximos da
completa ausência de parâmetros éticos, pois se tudo pode em nome do ibope,
inclusive invadir a intimidade, o que será então proibido?
São as contingências do comportamento de consumir
desenfreadamente, de consumir sexo virtual, consumir a intimidade escancarada
nos reality shows, de consumir a cerveja gelada associada à imagem da mulher
seminua, de consumir a novela que nos ensina que se vingar e punir é coisa
normal. Onde vamos parar? Que mundo estamos construindo? Um mundo regido por
contingências de controle aversivo e por contingências que expõem a vida
íntima, pois expor a vida íntima é altamente reforçador. Um mundo que oferece
acesso fácil a inúmeras fontes de reforçamento positivo, reforçamento
consequenciado a muitos comportamentos que produzem prejuízos individuais e
coletivos.
Reforçamento positivo também pode gerar problemas, e isso não é
novidade, pois o leitor que tem acompanhado o blog já viu esta questão trabalhada
em outros posts. Estamos construindo um mundo de pessoas que são treinadas para
serem frustradas, pois se acostumam tanto ao prazer fácil que quando ficam sem
ele entram em colapso emocional. Estamos treinando pessoas que não sabem se
esforçarem para obterem seus objetivos, pois desde tenra infância são acostumadas
aos prazeres fáceis. Mundo dos circos dos horrores! Mundo das futilidades. Fica
a pergunta: que futuro estamos construindo para a humanidade?
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