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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Do Que Você Tem Medo?: uma análise comportamental das reações fóbicas

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Fobia vem do grego Fobos. Para os gregos Fobos era filho de Ares. Na Mitologia Grega Ares é o deus da guerra e Fobos é a personificação do medo e do terror. Fobos era levado pelo pai para as guerras para aterrorizar e afugentar os inimigos. Se Fobos é a personificação do terror, a fobia, seria, então, um tipo de reação emocional marcada exclusivamente pelo medo.

Na fobia o medo é o ator principal e também o plano de fundo, sendo usado como critério para identificá-la. Geralmente quatro condições devem ser satisfeitas para caracterizar uma fobia: 1) A ocorrência de um medo intenso; 2) O medo estar relacionado com uma situação específica; 3) O medo criar a condição para a fuga da situação responsável por sua ocorrência; 4) O medo ser acompanhado por alterações fisiológicas como a taquicardia, a sudorese, o tremor, as vertigens etc.

O Analista do Comportamento olharia com suspeitas para as condições enumeradas. Em primeiro lugar, ele não entenderia a fobia como ela normalmente é entendida. Nas abordagens psicodinâmicas, aquelas que compreendem o comportamento como o produto do funcionamento de um aparelho mental, uma fobia seria a expressão de conflitos inconscientes. A cura ocorreria pela identificação destes conflitos, que por sua vez promoveria uma catarse, ou seja, uma descarga emocional que colocaria fim ao desgaste energético gerado pelos próprios conflitos. Neste sentindo, a fobia seria uma espécie de patologia mental.

O Analista do Comportamento assumiria uma posição bastante distinta. Para ele uma fobia não é uma doença. Aliás, é bom que se diga que ele suspeitaria não somente da fobia enquanto manifestação psicopatológica, como também entenderia que o termo "fobia" serve ao único propósito de descrever a topografia de alguns comportamentos que ocorrem enquanto a pessoa está sentindo um medo intenso, medo que notoriamente está relacionado à exposição a certas contingências de reforço. Isso significa que a descrição é insuficiente, pois ela não revela a funcionalidade do comportamento, ou seja, ela não revela os motivos que produzem o medo e nem como a sua ocorrência está relacionada a circunstâncias bastante específicas.

O Analista do Comportamento seria ainda mais criterioso. Ele não assumiria o medo como a causa da fuga. O medo e a fuga são causados pelas mesmas circunstâncias. O que nelas existe para provocar o medo e a fuga é a presença de controle coercitivo. Como o controle coercitivo assumiu o poder de gerar o medo e de produzir a fuga é algo que se deve investigar na história de reforçamento do indivíduo que sente medo e também foge. Cai, portanto, por terra, o terceiro critério para a caracterização de uma fobia: "O medo criar a condição para a fuga da situação responsável por sua ocorrência". O medo não é a causa da fuga. Ele é tão produto quanto o comportamento de fugir da situação temida. Emoções não são causas de comportamento. Emoção também é comportamento. Isso já foi longamente trabalhado em outras postagens, basta clicar aqui para acessá-las.

O Analista do Comportamento também derrubaria a condição de número quatro, pois o medo é um exemplo de comportamento emocional, o que significa que ele não é marcado apenas pelo aparecimento de respostas reflexas produzidas a partir de condicionamento respondente: taquicardia, tremor, sudorese etc. Ele também é marcado pela ocorrência de consequências que alteram a frequência com que ocorre, o que o caracteriza como comportamento operante. A consequência é manter afastada a situação temida. Sempre que exposto à situação temida o sujeito foge. Fugir é um exemplo de comportamento mantido por reforçamento negativo.

Portanto, a fobia não é uma doença. A fobia é um conjunto de comportamentos que envolve a fuga de uma situação temida. A situação temida é fonte de controle aversivo. O que a fuga faz é afastar os estímulos aversivos. Mas quanto mais o sujeito foge ou mesmo evita a situação temida, mais ele diminui as chances de que o medo enquanto comportamento emocional seja colocado em extinção. É aí que entra a análise funcional. Ela revelará a frequência com que o medo ocorre, que estímulos aumentam as chances dele ocorrer e, que, sobretudo, estabelecem a ocasião para o comportamento de fugir. Feito isso, podem ser planejadas intervenções que tenham como tônica a exposição do sujeito às situações relacionadas com o medo e com a fuga.

Está exposição contribui para que seja rompido o pareamento de estímulos estabelecido por meio de condicionamento respondente. Lembram-se do cão de Pavlov? Quando Pavlov apresentou o som sem que ele fosse associado com a comida, o que acabou acontecendo? O som perdeu a sua função de eliciar a resposta de salivação. A situação temida é o estímulo condicionado que provoca as respostas reflexas que constituem a dimensão respondente do medo: taquicardia, sudorese, tremor, desarranjo gastrointestinal etc. A exposição planejada ao estímulo condicionado diminuirá o mal estar provocado por todas estas respostas reflexas, pois este estímulo sofrerá uma extinção gradual, perdendo, assim, sua função de provocar as respostas enumeradas.

Algo novo ocorre quando o mal estar é minimizado. O sujeito diz para si mesmo: "sou capaz de enfrentar esta situação". Ele produz uma regra que sustentará o comportamento de enfrentamento da situação temida. Essa regra descreve as contingências de uma nova forma: "não preciso ter medo de enfrentar esta situação". As regras anteriores diziam: "tenho medo desta situação, não consigo enfrentá-la". O sujeito passa a descrever as contingências de reforçamento de um modo diferente, e nesta descrição os estímulos aversivos perdem o seu lugar de destaque. Caem por terra as antigas regras, aquelas que faziam com que a situação parecesse temerosa.

Portanto, numa análise comportamental, o que interessa é identificar as contingências que modelaram e que fazem a manutenção dos comportamentos fóbicos, comportamentos que envolvem as dimensões respondentes e operantes do medo. Isso é o mesmo que submeter a fobia a uma análise funcional, análise que fornecerá os parâmetros para a construção de intervenções que coloquem em extinção o comportamento de fugir das situações temidas, e ao mesmo tempo terminem o mal estar produzido por estas situações.


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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Laranja Mecânica: uma análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O filme Laranja Mecânica conta a história de Alex, um jovem inglês que é líder de um grupo de deliquentes que cometem todos os tipos de horrores durante as madrugadas: espancamentos, brigas com grupos rivais, assaltos, estupros e até mesmo assassinato. Numa das investidas realizada pelo grupo durante uma madrugada, os companheiros de Alex armam contra ele, pois estavam cansados de sua liderança autoritária. Como o grupo só conhece a agressão, usam-na para dar uma lição em Alex.

Num assalto realizado em um hotel fazenda, Alex acaba assassinando a proprietária do hotel. Os companheiros de gangue atinjem-no com algumas garrafas de leite na cabeça, deixando-o inconsciente e transformando-o em um alvo fácil para a polícia que já havia sido acionada. Por ironia do destino a violência de Alex acaba se voltando contra ele, pois os liderados se rebelam e o destituem do poder usando os mesmos métodos coercitivos. Enfim, coerção gera coerção, e o filme Laranja Mecânica é muito claro neste sentido, pois elucida de maneira bastante óbvia os efeitos colaterais gerados pela utilização de controle coercitivo.

Tais efeitos se fazem evidente no tratamento que Alex é submetido depois que é levado para a prisão. Tendo recebido uma pena de 14 anos de reclusão em um instituto prisional que usa a coerção para manter sob controle os detentos, Alex enxerga num tratamento revolucionário a possibilidade de encurtar o cumprimento de sua pena. Trata-se de um tratamento que ilustra com bastante clareza o paradigma do condicionamento respondente, ao mesmo tempo que cria a oportunidade para que possamos discutir a eficácia da punição como meio para a modificação de comportamentos.

Por possuir um perfil bastante agressivo Alex é escolhido para ser submetido ao tratamento, sendo, então, transferido para uma clínica em que é colocado sob os cuidados de uma equipe médica. O tratamento consiste em assistir filmes com cenas explícitas de violência enquanto um medicamento que provoca uma terrível sensação de náusea é administrado. Veja o esquema abaixo:

Veja a semelhança com o experimento realizado por Pavlov no estudo do condicionamento respondente:
No experimento de Pavlov o estímulo incondicionado, ou seja, o estímulo que provoca a resposta reflexa de salivação, uma resposta que ocorre sem a necessidade de aprendizagem, é a comida. No experimento realizado com Alex o medicamento cumpre a função de estímulo incondicionado. Após a associação temporal entre o alimento e a campainha no arranjo experimental construído por Pavlov, o som passou a adquirir a função de estímulo condicionado, provocando, desta forma,  a resposta de salivação quando apresentado. Já na experiência ao qual Alex foi submetido, as cenas de violência exibidas nos filmes que ele foi obrigado a assistir, adquiriram a função de provocarem a resposta reflexa de náusea, ou seja, adquiriram a função de estímulos condicionados. Para maiores detalhes sobre o condicionamento respondente, é interessante ler outro artigo deste blog intitulado: "O condicionamento respondente: definição e aplicações."

Era esperado com a realização do tratamento que Alex se sentisse mal todas as vezes que se engajasse em um comportamento violento. E de fato isso aconteceu. Depois de sair da prisão Alex se sente mal em inúmeras oportunidades em que tem a chance de se engajar em comportamento violento ou quando presencia alguma cena de violência. As fortes sensações de náusea sentidas por Alex o incapacitavam de cometer atos de violência. Enquanto estava ocupado sentindo náuseas ele não podia se engajar em comportamentos violentos. Trata-se aqui de incompatibilidades entre comportamentos do mesmo repertório comportamental, e venciam aqueles comportamentos que tinham maior força. No caso de Alex, venciam as náuseas, e para se esquivar de senti-las era necessário não cometer nenhuma violência.

Na história de Alex também é possível ver operar o reforçamento negativo. Engajar-se em atos de evitação da violência permitia que as punições fossem evitadas. As respostas reflexas sentidas como náuseas eram ao mesmo tempo um exemplo de comportamento respondente eliciado por cenas de violência, como eram também a consequência de comportamentos que tinham como objetivo a prática de ações violentas. As náuseas puniam os comportamentos de cometer violência, impedindo-os de acontecerem enquanto o estímulo aversivo "enjoos" estivesse operando. Em última instância, o corpo e os comportamentos de Alex eram suas fontes de punição. Ele não podia fugir de si mesmo, então, o melhor seria esquivar-se da violência. O esquema abaixo sintetiza a análise dos operantes de Alex:


Mas como era de se esperar o tratamento teve alcance limitado, pois logo as respostas reflexas de náusea foram se extinguindo, e as cenas de violência que sinalizavam a possibilidade de punição acabam perdendo esta função de sinalização, ou seja, perdem a função de serem estímlos discriminativos que sinalizam a ocorrência de punições. Se tais cenas perdem a função de estímulos condicionados no eliciamento das respostas reflexas de náusea, os comportamentos de violência têm a chance de ocorrerem sem serem punidos, pois também perdem a função de eliciarem as sensações de desconforto que atuavam como punição. Esta é uma questão clássica, ou seja, estímulos aversivos condicionados vez ou outra precisam ser pareados com o estímulo punidor incondicionado, caso contrário perdem a função de punidores ou de sinalizadores de punição.

No caso de Alex, seus comportamentos de cometer violência eram ao mesmo tempo estímulos condicionados para as respostas reflexas de náusea, sinalizadores de ocorrência da punição (náusea) e também eram punidores e geradores da punição que era sentida com o grande desconforto que acompanhava as crises de náusea. Quando é desfeito o condicionamento respondente, ou seja, quando as cenas de violência e os comportamentos de se engajar em violência perdem a função de eliciarem as respostas reflexas de náusea, os comportamentos violentos perdem também a função de punidores e sinalizadores de punição, ao mesmo tempo em que cometer violência deixa de ser punido pela ocorrência dos desconfortos. Neste sentido, o filme evidencia duas coisas muito importantes: 1) Um programa de modificação de comportamentos não deve se limitar à ocorrência dos comportamentos respondentes e nem deve 2) fazer uso de punição. A punição tem efeitos colaterais nocivos, e a sua eficácia em suprimir comportamentos dura enquanto o estímulo aversivo estiver presente. Além do mais, os estímulos aversivos condicionados precisam ser pareados habitualmente com estímulos aversivos incondicionados para não perderem a função de punidores.

Um pai que ameaça o filho com uma chinela nas mãos, vez ou outra precisa dar uma chinelada para que a chinela continue funcionando como estímulo sinalizador de punição ou ainda como estímulo punidor. Mas este mesmo pai ao usar de punição está sujeito aos efeitos colaterais que ela gera: contracontrole, ansiedade, medo, submissão etc. No caso de Alex, para que as náuseas continuassem funcionando como punição para os comportamentos de se engajar em violência, as cenas de violência teriam que ser pareadas ocasionalmente com a medicação, ou seja, ele teria que ser submetido de vez em quando a novas sessões do tratamento. Mas os efeitos do tratamento foram terríveis, pois transformaram Alex em um sujeito submisso e temeroso dos desconfortos que podiam ser sentidos a qualquer instante.

Melhor seria se Alex tivesse a oportunidade de acessar fontes de reforçamento positivo todas as vezes em que se engajasse em comportamentos mais funcionais. Aí estaríamos falando de um programa de modificação de comportamentos que também contemplaria a análise funcional dos operantes de cometer violência, ou seja, que contemplaria a função exercida por tais comportamentos, um programa que fosse capaz de analisar as variáveis responsáveis pela manutenção dos comportamentos violentos, e que não se limitasse somente a aplicação de técnicas de condicionamento respondente, que acima de tudo foram altamente intrusivas e tiveram resultados questionáveis, pois fizeram utilização de controle coercitivo. 

Se o filme ilustra bem o paradigma do condicionamento respondente e os efeitos nocivos da utilização do
controle aversivo, ele não serve para ilustrar a proposta da Análise do Comportamento e de sua filosofia, o Behaviorismo Radical. A Análise do Comportamento não defende o uso do controle aversivo, pois este tipo de controle tem consequências bastante nocivas. A respeito do controle comportamental, é sugerido o seguinte texto: "Controle Comportamental: algumas considerações". A Análise do Comportamento estuda o controle aversivo como forma de demonstrar as consequências que ele produz, e como forma de demonstrar que há outras alternativas muito mais viáveis. Um bom programa de modificação de comportamentos envolve a análise funcional dos comportamentos que se quer modificar e não somente a aplicação de técnicas para modificações comportamentais. Para aprofundar nesta questão, aconselho a leitura do seguinte texto deste blog: "Por que a Terapia Comportamental é Comportamental?".

Voltemos ao filme. Como no experimento de Pavlov em que o som perdeu a função de eliciar a resposta reflexa de salivação ao ser apresentado sozinho, ou seja, ao ser apresentado sem que fosse pareado com a alimentação, as cenas de violência deixaram de eliciar as respostas reflexas de náusea quando o pareamento entre elas e a medicação foi rompido. Ocorreu, então, uma extinção das respostas reflexas condicionadas de náusea. Este pareamento foi rompido quando Alex foi submetido a diversas ocasiões de violência ao sair da prisão. Quando, por exemplo, os antigos amigos de gangue que se tornaram policiais o agrediram, ou quando foi obrigado a ouvir a nona sinfonia de Beethoven na casa do escritor que ele agredira no início do filme. A nona sinfonia de Beethoven também adquirira a função de estímulo condicionado quando no experimento foi tocada como a música de fundo enquanto Alex assistia às cenas de violência.

Não suportando os efeitos provocados pela nona sinfonia de Beethoven, Alex se joga do terraço do quarto em que se encontrava. Depois disso vai parar num hospital todo quebrado. Enquanto jazia em uma cama de hospital, um médico e uma enfermeira tinham relações sexuais em uma cama ao lado. Em todas estas situações Alex vai sendo exposto a cenas de violência sem que elas fossem pareadas com o estímulo incondicionado. Por isso perdem sua função de eliciarem as respostas reflexas de náusea. O filme termina com Alex imaginando uma cena de sexo selvagem, o que demonstra que se engajar em atos de violência não mais funciona como estímulo condicionado para eliciar respostas reflexas de náusea e também como fonte geradora de punição.

Portanto, o tratamento ao qual Alex foi submetido revelou-se um fracasso total. Também pudera, pois além de coercitivo foi desprovido da realização de qualquer análise funcional dos comportamentos de se engajar em violência. Sem uma uma boa análise funcional qualquer procedimento utilizado para modificar quaisquer comportamentos tem uma grande chance de ser ineficaz.

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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Metamorfoses

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Há não muito tempo vi na foto de capa do facebook de alguém uma foto de um milho de pipoca e do lado do milho uma pipoca. Logo abaixo estava escrito que grandes mudanças ocorrem de dentro para fora. A imagem você pode ver aí ao lado. Fiquei pensando sobre o assunto e me perguntei: "o Behaviorismo Radical concorda com esta afirmação?" Se ela estiver se referindo a possibilidade de que mudanças são originadas por um eu interior, o Behaviorismo Radical vai discordar diametralmente.

Mas mesmo sabendo a posição do Behaviorismo Radical com relação a este tema, confesso que continuei encantado com a metáfora do milho que quando aquecido se transforma em pipoca. Muita gente gosta de usar essa historinha da pipoca para justificar que é dentro do organismo que se processam as mudanças que se fazem visíveis em seu exterior. No entanto, poucos são os que param para pensar que para o milho se transformar em pipoca precisam existir algumas condições:

1. É necessário um fogão com uma panela, ou um microondas e um pacote de pipoca de microondas;
2. A panela precisa ser aquecida com um pouco de óleo em um fogão, o mesmo é válido para o pacote de pipoca, mas este é aquecido no microondas;
3. É preciso existir alguém para controlar o ponto de estouro das pipocas, pois elas podem se queimar ou se transformarem em piruá. Aqui em Minas Gerais piruá é o milho de pipoca que não estourou.

Sem as condições 1, 2 e 3 não há pipocas. Simples assim! A mudança não está no interior do milho. O milho pode até reunir as características genéticas para se transformar em pipoca. Isso é fato! Mas estas características de nada adiantariam se as condições 1, 2 e 3 não fossem atendidas. Penso que o leitor já deva estar capitando a minha mensagem. O que são as condições 1, 2 e 3? Estas se referem às contingências de reforço. Elementar meu caro Watson!

Se alguma coisa ocorre dentro do organismo como as mudanças fisiológicas, e se estas são descritas como a emoção "x" ou "y", é porque houveram contingências de reforço que possibilitaram a ocorrência destas mudanças. Antes que me acusem de desconsiderar as contingências filogenéticas, trato de adiantar que elas também têm um papel em tudo isso. Mas como isso é quase uma obviedade, não entrarei no mérito da questão.

O que quero que fique claro é que o que é sentido é produto das contingências de reforço da mesma forma que o comportamento também o é. Se não houvesse fogo todo o potencial genético do milho não entraria em ação e ele não se transformaria em pipoca. Então, o que de fato é relevante são as condições que possibilitam a manifestação deste potencial. Transpondo a metáfora para o caso humano de modo que possamos explicar porque nos comportamos assim ou assado, o que é relevante é identificar as contingências que produzem tanto o que é sentido quanto aquilo que fazemos enquanto nos sentimos desta ou daquela maneira.

Portanto, a origem das mudanças não estão no interior do organismo, mas nas condições que afetam o seu comportar-se. Estas condições também afetam o que sentimentos, pois os sentimentos também são comportamentos. Clique aqui para ser direcionado para outros textos em que o comportamento emocional é debatido com mais detalhes. Se é comum tomarmos sentimentos como exemplos de causas de comportamentos, é porque geralmente eles ocorrem enquanto nos comportamentos, próximos ou antes de nos comportarmos. A proximidade temporal entre o sentir e o agir acaba gerando toda esta confusão.

Por conseguinte, para que os comportamentos se modifiquem e as metamorfoses possam operar, não são os sentimentos que precisam ser alterados. Qualquer mudança é produto em modificações que se processam nas contingências de reforço. Alterando as contingências alteramos comportamentos e sentimentos. Então, sempre que alguém te contar a história da pipoca, lembre-se de olhar para as contingências responsáveis pela transformação do milho. Agindo assim você aumenta as chances de olhar para as contingências que operam em sua vida. Não se esqueça, as metamorfoses estão nas contingências!

Vixe, termino este post com vontade de comer pipoca! Rs!!! E você, o que achou do texto? Poste seu comentário abaixo.

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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Uma Análise Comportamental da Dor de Amor

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Ahhhh, o amor... Nobre sentimento que inspirou pelos séculos os poetas e artistas. Quantas pinturas não foram feitas para expressar um amor? Quantos poemas não foram escritos por amor? Queria muito nesta postagem tratar deste tema sem recorrer à ciência, pois a ciência parece fria, distante, e aparentemente o que ela teria a dizer sobre o amor? Bem, ela tem muita coisa, principalmente a ciência do comportamento, ciência que tem o Behaviorismo Radical como seu fundamento filosófico.

O amor tem um grande poder. Como estímulo reforçador ele pode modelar os mais diferentes comportamentos. Uma pessoa apaixonada escreve cartas de amor, manda ao longo do dia mensagens de sms para expressar o seu querer, posta no facebook imagens e mensagens para tornar público sua alegria de amar. Ahhh, eu não poderia deixar de citar os "sms's" e o "facebook", pois em pleno século XXI o amor encontra nestes meios as suas formas de expressão... Rs!!! É a modernidade atualizando os meios para se expressar o amor.

Amor é comportamento! Sim, é comportamento. Sei que parece esquisito, mas amor é comportamento emocional sujeito a ação das consequências que produz. Um(a) amante expressa seu amor pela(o) amada(o) através do facebook, orkut (morto ou não?! Rs...), twitter, youtube etc, porque desta forma obtém a atenção e as carícias da(o) parceira(o). Vejam, então, o condicionamento operante de fato operando... O comportamento opera no ambiente modificando-o e é ao mesmo tempo modificado, ou seja, o amado que manifesta seu amor modifica o ambiente ao aumentar a probabilidade de que a amada responda satisfatoriamente com carícias e juras de amor.

O amado faz isso com seus próprios comportamentos, como os já citados: postando no facebook, usando sms, etc. Estes comportamentos geram estímulos que aumentam a probabilidade da amada agir de forma a reforçar o que o amado faz e vice-versa. Assim o amor enquanto comportamento vai sendo fortalecido, de modo que sua frequência de emissão vai aumentando. Mas, como "nem tudo são flores", o amor também enfrenta problemas, e isso os poetas sabem muito bem, tanto que Camões assim descreveu este nobre sentimento (compotamento): "Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É dor que desatina sem doer."

O amor "é dor que desatina sem doer". Quem já amou e perdeu um amor sabe o que é isso! A dor da perda de um amor costuma se manifestar por comportamentos respondentes bastante distintos: ansiedade com aquela pontada no coração, o que faz parecer que o coração é o reduto do amor; estômago nauseado; rigidez muscular, etc. Quando se ama alguns comportamentos reflexos ficam sob o controle dos estímulos gerados pelo comportamento da pessoa que se ama. Ao se perder quem se ama, perde-se algo importante, o que produz controle aversivo, ou seja, quem perde um amor diz que a perda dói, e isso acontece porque a perda produz punição (controle aversivo). Punição produz todos estes estados emocionais colaterais, que são na verdade exemplos de comportamentos reflexos.

Mas a perda de um amor também é ocasião para a emissão de muitos comportamentos operantes. Quem já perdeu um amor, provavelmente nos primeiros dias e semanas sentiu a todo instante uma vontade de estar com a(o) amada(o), ouviu músicas que lembravam o amor perdido, ensaiou pegar o telefone várias vezes para ouvir a voz daquele(a) que era a fonte de todo o amor, chorou, falou da pessoa perdida para todo mundo, etc. Essa é uma experiência universal para o fim de todos os amores.

É universal porque o que ocorre quando se perde um amor é que todos os comportamentos que antes eram dirigidos à pessoa amada começam a entrar em extinção. Todo comportamento quando emitido e não reforçado entra em extinção, ou seja, começa a perder sua força até voltar ao que era antes de ser modelado, de ser fortalecido pelos diversos reforços que o seguiram. Mas no início do processo de extinção os comportamentos ao invés de declinarem aumentam de frequência. Por isso no início da perda de um amor se pensa tanto em quem se perdeu, se ensaia ligar para o(a) amado(a) que se foi, são ouvidas músicas que lembram os velhos tempos, etc.

Todavia, a cada ocorrência destes comportamentos, se eles não são reforçados, acabam se enfraquecendo, até desaparecerem. Então, caro leitor, não se assuste se no início da perda de um amor você se ocupa apenas do amor perdido. Não se preocupe, pois cada vez que se engajar nestes comportamentos e eles não forem reforçados, inevitavelmente entrarão em extinção. Ou seja, a dor acaba passando. Lógico que ela passa mais fácil se você se engajar em outros comportamentos que sejam capazes de produzirem reforços que substituam aqueles que eram gerados pelos comportamentos da pessoa amada.

Não necessariamente você precisa entrar numa nova relação imediatamente, pois isso nem sempre ajuda. Quando falo de reforços que possam substituir àqueles gerados pelo amor que foi perdido, me refiro aos reforços que podem surgirem como consequências de você se expor a novas contingências de reforço, contingências que podem ser experimentadas em atividades como lazer, uma boa leitura, um bom filme, um papo com os amigos, uma atividade esportiva, etc. Se expor a novas contingências é o melhor remédio! Tente e depois me diga.

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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O condicionamento respondente: definição e aplicações

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

No post de apresentação do behaviorismo falamos da existência de dois tipos de classes de comportamentos: respondentes, também chamados de reflexos, e operantes. Nos debruçaremos nest post sobre o comportamento respondente. Mas antes vejamos um vídeo bastante ilustrativo. Trata-se de um vídeo que conta a história de como esta classe de comportamentos foi descoberta.

Ivan Petrovich Pavlov é o cientista responsável pela descoberta da classe de comportamentos que chamamos de reflexos. Eis uma descrição suscinta do experimento que levou a descoberta desta classe de comportamentos. A um cão privado de alimentos foi apresentado uma porção de comida. Observou-se que após a apresentação da comida o cão salivou. Acrescentou-se à situação experimental um novo estímulo. Junto com a apresentação da comida tocou-se uma campainha. Depois de seguidas apresentações da comida acompanhada do som da campainha, notou-se que o som passou a provocar a resposta de salivação. No instante 1:14 do filme é dito que o cão de Pavlov aprendeu a antecipar a comida. Supõe-se algum tipo de faculdade mental que permitiu a atencipação da comida. Mas não foi bem isso que aconteceu. O que ocorreu é que outros estímulos da situação experimental, que se associaram ao estímulo comida, passaram adquirir a função de provocar a resposta reflexa de salivação. Pavlov testou este princípio associando o som com a apresentação da comida. Chamamos de condicionamento respondente (reflexo) o processo através do qual um outro estímulo que a princípio era neutro, passa a adquirir a função de eliciar (provocar) uma resposta reflexa. Este estímulo só adquire tal função porque foi associado a um estímulo que tem a função inata de provocar uma resposta reflexa. Chamamos de estímulo incondicionado o estímulo que tem a função inata de provocar uma resposta reflexa. O termo incondicionado faz referência ao fato de que este estímulo provoca uma resposta sem nenhuma necessidade de aprendizagem, ou seja, faz parte da dotação genética do organismo apresentar certas respostas diante de certas modificações no ambiente (estímulos). Por isso muitas vezes as respostas reflexas são chamadas de instintivas, embora o termo instinto faz supor a existência de alguma força oculta capaz de provocar tais respostas.

Não se trata de nenhuma força oculta ou um ellan vital, mas apenas de respostas que foram selecionadas ao longo da evolução das espécies por causa de seu valor de sobrevivência para a espécie. Assim como a evolução selecionou traços anatômicos e morfológicos, ela também foi responsável pela seleção de comportamentos que fossem capazes de aumentarem as chances de sobrevivência da espécie. Da mesma forma a seleção natural selecionou a susceptibilidade de certos comportamentos serem afetados pelas consequências que produzem, comportamentos que chamamos de Operantes. Mas esta é uma outra história a ser abordada em outros posts. Nos interessa no momento a análise da classe de comportamentos que chamamos respondentes. Voltemos então ao que nos interessa.

No instante 2:01 é dito que o cão aprendeu relacionar (associar) o som com a apresentação da comida. Se há alguma associação é aquela que se dá entre o estímulo comida e o estímulo som, e esta associação não se dá dentro do cão em algum tipo de instância mental rudimentar, mas fora do organismo. Se o estímulo que tem a função inata de provocar uma resposta reflexa - uma resposta selecionada pela seleção natural - chamamos de incondicionado, o outro que a ele é associado e passa a adquirir a mesma função é chamado de condicionado. No experimento de pavlov a comida é o estímulo incondicionado enquanto o som é o estímulo condicionado.

A resposta provocada pelo estímulo incondicionado chamamos de resposa reflexa incondicionada. Já a resposta reflexa provocada por um estímulo condicionado chamamos de resposta reflexa condicionada. Em seu experimento Pavlov descobriu dois outros princípios: generalização e extinção.

Uma vez estabelecido o condicionamento de uma resposta reflexa, qualquer estímulo que se assemelhe ao estímulo condicionado é capaz de provocar a resposta reflexa condicionada. Pavlov testou este princípio apresentando sons semelhantes ao som que originalmente foi associado ao estímulo incondicionado (comida). Todos estes sons também foram capazes de provocar a resposta de salivação. Este princípio é chamado de Generalização de Estímulos.

Já o princípio de extinção diz respeito ao enfraquecimento da resposta reflexa condicionada até que esta desapareça. Isso é feito rompendo-se a associação entre estímulo incondicionado e condicionado. Se o estímulo condicionado é apresentado sozinho, com o tempo acaba perdendo sua função de provocar a resposta reflexa condicionada. Ele pode readquirir esta função, desde que, seja novamente associado ao estímulo incondicionado. Pavlov testou este princípio apresentando somente o som, que com o tempo deixou de provocar a resposta de salivação.

Os princípios do condicionamento respondente podem ser aplicados a uma infinitude de situações para explicar o nosso agir, principalmente podem ser aplicados para explicarem nossas reações emocionais, pois parte daquilo que sentimos e expressamos quando nos emocionamos são respostas reflexas. O parceiro que se excita quando vê a lingerie da parceira é um bom exemplo de uma resposta reflexa condicionada. A visão da lingerie foi diversas vezes associada às carícias recebidas durante os momentos de intimidade sexual. Desta associação a lingerie passou a adquirir a função de provocar a resposta de excitação sexual. Está aqui parte da explicação para a formação dos fetiches.

Quando dizemos que nosso estômago embrulha quando estamos na presença de uma certa pessoa, estamos relatando uma resposta reflexa condicionada. Certamente vivenciamos episódios desagradáveis na companhia desta pessoa, ou mesmo ouvimos diversas pessoas falando mal dela, por isso em sua presença nos sentimos nauseados. A pessoa enquanto estímulo se associou aos efeitos dos episódios desagradáveis vividos em sua companhia.

Parte do que acontece nas reações fóbicas são exemplos de repostas reflexas condicionadas. Alguém que um dia tenha presenciado um acidente de automóvel pode sentir-se angustiado, ansioso e nauseado quando entra em um carro. Poderíamos aumentar infinitamente nossa lista de exemplos, mas estes são suficientes para fornecer-nos uma noção da importância desta classe de comportamentos conhecidos como Comportamentos Respondentes (Reflexos).

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