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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Uma Análise Comportamental da Dor de Amor

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Ahhhh, o amor... Nobre sentimento que inspirou pelos séculos os poetas e artistas. Quantas pinturas não foram feitas para expressar um amor? Quantos poemas não foram escritos por amor? Queria muito nesta postagem tratar deste tema sem recorrer à ciência, pois a ciência parece fria, distante, e aparentemente o que ela teria a dizer sobre o amor? Bem, ela tem muita coisa, principalmente a ciência do comportamento, ciência que tem o Behaviorismo Radical como seu fundamento filosófico.

O amor tem um grande poder. Como estímulo reforçador ele pode modelar os mais diferentes comportamentos. Uma pessoa apaixonada escreve cartas de amor, manda ao longo do dia mensagens de sms para expressar o seu querer, posta no facebook imagens e mensagens para tornar público sua alegria de amar. Ahhh, eu não poderia deixar de citar os "sms's" e o "facebook", pois em pleno século XXI o amor encontra nestes meios as suas formas de expressão... Rs!!! É a modernidade atualizando os meios para se expressar o amor.

Amor é comportamento! Sim, é comportamento. Sei que parece esquisito, mas amor é comportamento emocional sujeito a ação das consequências que produz. Um(a) amante expressa seu amor pela(o) amada(o) através do facebook, orkut (morto ou não?! Rs...), twitter, youtube etc, porque desta forma obtém a atenção e as carícias da(o) parceira(o). Vejam, então, o condicionamento operante de fato operando... O comportamento opera no ambiente modificando-o e é ao mesmo tempo modificado, ou seja, o amado que manifesta seu amor modifica o ambiente ao aumentar a probabilidade de que a amada responda satisfatoriamente com carícias e juras de amor.

O amado faz isso com seus próprios comportamentos, como os já citados: postando no facebook, usando sms, etc. Estes comportamentos geram estímulos que aumentam a probabilidade da amada agir de forma a reforçar o que o amado faz e vice-versa. Assim o amor enquanto comportamento vai sendo fortalecido, de modo que sua frequência de emissão vai aumentando. Mas, como "nem tudo são flores", o amor também enfrenta problemas, e isso os poetas sabem muito bem, tanto que Camões assim descreveu este nobre sentimento (compotamento): "Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É dor que desatina sem doer."

O amor "é dor que desatina sem doer". Quem já amou e perdeu um amor sabe o que é isso! A dor da perda de um amor costuma se manifestar por comportamentos respondentes bastante distintos: ansiedade com aquela pontada no coração, o que faz parecer que o coração é o reduto do amor; estômago nauseado; rigidez muscular, etc. Quando se ama alguns comportamentos reflexos ficam sob o controle dos estímulos gerados pelo comportamento da pessoa que se ama. Ao se perder quem se ama, perde-se algo importante, o que produz controle aversivo, ou seja, quem perde um amor diz que a perda dói, e isso acontece porque a perda produz punição (controle aversivo). Punição produz todos estes estados emocionais colaterais, que são na verdade exemplos de comportamentos reflexos.

Mas a perda de um amor também é ocasião para a emissão de muitos comportamentos operantes. Quem já perdeu um amor, provavelmente nos primeiros dias e semanas sentiu a todo instante uma vontade de estar com a(o) amada(o), ouviu músicas que lembravam o amor perdido, ensaiou pegar o telefone várias vezes para ouvir a voz daquele(a) que era a fonte de todo o amor, chorou, falou da pessoa perdida para todo mundo, etc. Essa é uma experiência universal para o fim de todos os amores.

É universal porque o que ocorre quando se perde um amor é que todos os comportamentos que antes eram dirigidos à pessoa amada começam a entrar em extinção. Todo comportamento quando emitido e não reforçado entra em extinção, ou seja, começa a perder sua força até voltar ao que era antes de ser modelado, de ser fortalecido pelos diversos reforços que o seguiram. Mas no início do processo de extinção os comportamentos ao invés de declinarem aumentam de frequência. Por isso no início da perda de um amor se pensa tanto em quem se perdeu, se ensaia ligar para o(a) amado(a) que se foi, são ouvidas músicas que lembram os velhos tempos, etc.

Todavia, a cada ocorrência destes comportamentos, se eles não são reforçados, acabam se enfraquecendo, até desaparecerem. Então, caro leitor, não se assuste se no início da perda de um amor você se ocupa apenas do amor perdido. Não se preocupe, pois cada vez que se engajar nestes comportamentos e eles não forem reforçados, inevitavelmente entrarão em extinção. Ou seja, a dor acaba passando. Lógico que ela passa mais fácil se você se engajar em outros comportamentos que sejam capazes de produzirem reforços que substituam aqueles que eram gerados pelos comportamentos da pessoa amada.

Não necessariamente você precisa entrar numa nova relação imediatamente, pois isso nem sempre ajuda. Quando falo de reforços que possam substituir àqueles gerados pelo amor que foi perdido, me refiro aos reforços que podem surgirem como consequências de você se expor a novas contingências de reforço, contingências que podem ser experimentadas em atividades como lazer, uma boa leitura, um bom filme, um papo com os amigos, uma atividade esportiva, etc. Se expor a novas contingências é o melhor remédio! Tente e depois me diga.

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terça-feira, 31 de julho de 2012

Pular, pular: se expondo a novas experiências

 

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Se não conseguir assistir o vídeo clique no seguinte link para assisti-lo no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=9n-heE1F5Wo

Se você viu o vídeo acima deve ter percebido como às vezes a vida dá reviravoltas, e estas reviravoltas criam circunstâncias favoráveis para que possamos viver novas experiências, e com a vivência de novas experiências temos a oportunidade de experimentarmos novos sentimentos. Simples assim! Simples como dizer "oi". Não resisti ao jargão de certa operadora de celular! Rsrsrsrs...

O vídeo mostra um cordeiro que muito orgulhoso de sua felpuda lã, já ao raiar do dia começava a sapatear. Com isso chamava a atenção dos bichos que moravam nas circunvizinhanças. Todos ficavam impressionados com o sapateado do cordeiro, e logicamente direcionavam toda sua atenção para ele. Ops, aqui se vê em vigor uma operação de reforçamento positivo. O sapatear tinha como consequência obter atenção dos vizinhos. Quanto mais davam atenção, mais o cordeiro sapateava e mais se sentia orgulhoso.

Isso levou o cordeiro a formular uma regra para descrever as contingências de reforço as quais estava exposto. Falando menos tecnicamente, isso levou o cordeiro a formular uma regra de conduta. Esta regra o fazia entender que o que chamava atenção da bicharada era sua felpuda lã, e sapatear era uma forma de exibir o seu visual, ou seja, para o cordeiro o motivo para continuar sapateando era poder exibir sua lã, tanto é verdade que quando foi tosqueado ele perdeu toda a motivação para sapatear.

Está certo que a lã poderia exercer certo fascínio sobre o comportamento de observar e dar atenção da bicharada, mas este fascínio também era obtido pelo sapatear do cordeiro, tanto é verdade que os bichos imitavam-no e com ele sapateavam. A lã era um elemento a mais, um estímulo que contribuía para que a contingência de reforço fosse potencializada, ou seja, era uma espécie de "plus" que somado ao sapateado tornava a circunstância mais atraente, mas não era ela o elemento mais importante, caso contrário os bichos não imitariam o comportamento de sapatear, ficando apenas a observar a beleza do cordeiro.

O sapatear dos bichos é um indicativo de que o sapatear do cordeiro era o estímulo mais importante da contingência, ou seja, era o elemento mais importante daquela circunstância. Outro indicativo é que posteriormente o cordeiro conseguiu obter a atenção dos bichos com o comportamento de pular aprendido com o "coelho". Depois da aprendizagem do comportamento de pular a lã já não era mais importante, pois o cordeiro aprendeu obter reforço positivo (atenção dos bichos) através do pular, tanto não era importante que o cordeiro não mais se importava em ser tosqueado.

O cordeiro aprendeu a obter a atenção dos que estavam próximos com aquilo que ele era e não com aquilo que aparentava. A aparência ficou em segundo plano. O comportamento de pular se tornou intrinsicamente reforçador, ou seja, transformou-se em uma fonte de prazer, seja pela estimulação sensorial produzida, seja pela capacidade de conseguir atenção. As novas circunstâncias vividas a partir do encontro com o "coelho" geraram uma nova aprendizagem que se transformou em uma nova regra de conduta, e esta pode ser assim traduzida: agora o que importa é ser feliz independente da aparência.

O cordeiro aprendeu que o importante era ser feliz com aquilo que ele sabia fazer, ou seja, que sua felicidade dependia do seu agir no mundo e não de sua aparência. Mas tudo isso só foi possível porque ele foi exposto a novas contingências de reforço, ou em outras palavras, porque ele se permitiu viver novas experiências. Ao viver novas experiências acabou experimentando novos sentimentos que se sobrepuseram àqueles sentimentos gerados quando do primeiro tosqueamento.

O primeiro tosqueamento gerou perda de reforçamento positivo. Com isso o cordeiro fechou-se em si mesmo, ou seja, todos seus comportamentos de extroversão foram submetidos a extinção. Com a extinção surgiram sentimentos como tristeza, angústia etc. Digamos que se analisássemos o comportamento do cordeiro a partir de sua aparência (topografia), não teríamos dificuldades para rotulá-lo como "depressivo". Mas a partir de uma análise funcional descreveríamos os sentimentos vividos pelo cordeiro como consequência do processo de extinção de alguns de seus comportamentos.

Portanto, a história nos deixa uma lição. Que lição é essa? Devemos continuamente nos darmos a oportunidade de vivermos novas experiências. Se quisermos mudar nossos sentimentos, só conseguiremos esta façanha mudando as circunstâncias responsáveis pela ocorrência dos mesmos. O cordeiro teve seus sentimentos mudados porque mudaram também as circunstâncias  responsáveis por estes sentimentos. Sentimentos não são causas de comportamento. Sentimentos são comportamentos também, sendo, portanto, determinados pelas contingências de reforço, e só quando estas se alteram é que os comportamentos se modificam, inclusive os comportamentos emocionais.

Uma outra lição interessante é que nossa felicidade não depende exclusivamente de nossa aparência. O mundo capitalista que vivemos quer nos fazer acreditar nesta verdade para vender cosméticos e outras tantas mercadorias. Há inclusive milhares de pessoas que se tornam reféns dos padrões de beleza estabelecidos pela mídia, dependência que gera contingências de reforço que produzem sofrimento e desajustamentos, desajustamentos que às vezes chegam a extremos como os da Anorexia e Bulimia Nervosa.

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