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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Boca, Coração e Repertórios Comportamentais

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

No evangelho de Mateus 12:34, é atribuída a Jesus uma frase que sintetiza alguns princípios muito importantes para o entendimento do comportamento humano: "(...) a boca fala daquilo que o coração está cheio". Os princípios aos quais nos referimos são teoricamente sintetizados por aquilo que chamamos de contingências de reforço. Não vamos nos deter sobre a definição do que seriam as contingências de reforço. Existe um outro texto postado neste blog que se encarrega desta tarefa: "Há algo mais profundo que as contingências de reforço?"

Propomos uma tradução comportamental para a frase de Jesus: "nos comportamos com os comportamentos que fazem parte de nossos repertórios". Numa linguagem mais leiga e menos técnica, diríamos que agimos de acordo com aquilo que somos, com aquilo que aprendemos ao longo de nossa história de vida. Ao vivermos nossa história, ao experimentarmos diferentes experiências, nossos comportamentos vão sendo modelados pelas contingências de reforço aos quais vamos sendo expostos. Isso significa que estas contingências têm uma ação seletiva.

Esta ação é válida para os três níveis de determinação do comportamento: filogênese, ontogênese e sociogênese. Na filogenia os comportamentos que aumentaram as chances de adaptação da espécie foram selecionados por causa do seu valor de sobrevivência. Estão incluídos entre estes comportamentos os padrões fixos de ação e os comportamentos respondentes. Saiba mais sobre os comportamentos respondentes clicando aqui. Na ontogênese são selecionados os comportamentos que preparam o homem para viver num ambiente em constante mutação. Neste nível de determinação estão os comportamentos operantes. Saiba mais sobre eles clicando aqui. E na sociogênese ou cultura, são selecionados os comportamentos que beneficiam a sobrevivência de grupos e instituições. A sociogênese inclui uma categoria de comportamentos que chamamos de comportamentos verbais.

Sem entrar no mérito da definição de comportamento verbal, que é complexa e gastaria um post unicamente para ela, o que podemos dizer é que o homem é um ser de linguagem. O homem fala. O homem possui comportamento verbal. Parece que Jesus está se referindo a esta categoria de comportamentos, ou seja, ele indica que provavelmente está fazendo referência aos comportamentos verbais. Ele parece querer assinalar que se o homem fala de amor, é porque o amor tem lugar em sua vida. Se ele fala de ódio, é porque o ódio é uma experiência marcante em sua história.

No entanto, alguém pode falar de amor, mas viver como se não soubesse o que é o amor. Os psicólogos rogerianos, também conhecidos como humanistas, chamariam isso de incongruência. É uma boa adjetivação! Incongruência é o mesmo que incoerência. Os analistas do comportamento falariam da não correspondência entre comportamento verbal e comportamento não-verbal. Grosseiramente seria o mesmo que falar uma coisa e fazer outra. Mas tecnicamente não é bem assim... Deixemos o tecnicamente para uma outra. Por enquanto nos contentemos com uma explicação mais superficial. Nos tempos de Jesus os fariseus eram os mestres da incongruência. Pregavam uma coisa e viviam outra. Nos tempos de hoje temos muitos fariseus por aí, como, por exemplo, os Malafaias da vida. Pregam o amor e se opõem ao reconhecimento dos direitos de algumas minorias... Melhor nem comentar!

Os fariseus analisados a partir da ótica da frase de Jesus - e aqui vamos abrir um parêntese para dizer que a análise também se estende aos fariseus dos tempos de hoje, principalmente àqueles que levantam muitas bandeiras como a do amor ao próximo e a da igualdade de acesso aos bens da cultura e sociedade, mas que na vida privada se comportam de modo a contrariar o que defendem -, seriam, então, categorizados como incongruentes, ou hipócritas, caso utilizemos as palavras do próprio Jesus. Na verdade, estão se comportando com os comportamentos que têm em seus repertórios, comportamentos selecionados pelas contingências de reforço que figuraram em suas histórias de vida. Isso é em essência  falar o que existe no coração, ou seja, comportar-se com os comportamentos que se tem.

Então, se alguém fala de amor, mas pratica o ódio, isso quer dizer que os comportamentos de praticar o ódio são muito mais reforçadores. Mas é preciso estender a compreensão do que entendemos como expressões do comportamento verbal. Comportamentos verbais não são expressos apenas pelo falar. Não falamos apenas com a boca. Alguém pode falar através de uma risada ou mesmo um olhar irônico. A vantagem de não falar com a boca, como, por exemplo, falar com olhares e expressões, é que não se sabe ao certo o que os olhares e expressões querem dizer, ou seja, não se sabe ao certo a função exercida por esses comportamentos. Assim, o falante se esquiva de possíveis punições, pois ninguém poderá alegar que a função exercida pelos olhares e expressões irônicas é a de exercer controle coercitivo. Vejam, portanto, a maleabilidade do comportamento verbal.

Topograficamente um comportamento pode ser apenas uma risada, mas funcionalmente ele pode ser uma ironia. Em sua forma ele é uma risada, algo que deveria produzir reforçamento positivo, mas em sua função ele exerce controle coercitivo. Está aí a plasticidade do comportamento operante, em especial a plasticidade do comportamento verbal. Jesus denuncia esta plasticidade utilizada, sobretudo, para o exercício do controle coercitivo, ou seja, para punir ou ameaçar de punições. Não deveríamos nos perguntar se a denúncia de Jesus não continua atual? Não deveríamos nos perguntar sobre o que estamos falando e o que o conteúdo do que expressamos denuncia sobre o que está em nossos corações? Comportamentalmente falando, não deveríamos olhar para os nossos comportamentos e a partir deles analisarmos o que revelam sobre nossos repertórios comportamentais e sobre as contingências que fazem suas manutenções? São contingências que mantêm comportamentos que exercem controle coercitivo ou são contingências que mantêm comportamentos que promovem o bem estar daqueles com quem convivemos?

Fica aí a pergunta para que todos façamos uma reflexão sobre nós mesmos e sobre o mundo que estamos construindo com os nossos comportamentos. Esse mundo é menos ou mais habitável? A longo prazo ele contribuirá ou não para a sobrevivência da espécie?

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sábado, 17 de maio de 2014

Somos Todos Macacos?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

"Somos todos macacos" foi mais uma das polêmicas produzidas dentro de um campo de futebol. Tudo começou quando o jogador Daniel Alves, atleta do time espanhol Barcelona, comeu uma banana atirada no campo pela torcida do time adversário. A imprensa oportunista, incluindo a equipe de publicidade do jogador Neymar, colega de time de Daniel Alves, lançou a campanha "Somos Todos Macacos". Muitos embarcaram na campanha, inclusive um certo apresentador de TV, que sendo dono de uma loja virtual, lançou uma camisa com o slogan "Somos Todos Macacos" junto a imagem de uma banana. Não precisa dizer que o dito cujo faturou muito com a polêmica...

Eis aí as contingências do capitalismo transformando um debate tão importante, como é o caso deste que gira entorno do racismo, em uma mercadoria. De quebra a transformação do debate em mercadoria acaba contribuindo para o seu esvaziamento. O seu esvaziamento é funcional aos anseios daqueles que administram as contingências do capital, pois assim podem continuar usando estas contingências para explorarem os que estão às margens da sociedade, inclusive e principalmente os negros. Desta forma vai sendo feita a manutenção das contingências coercitivas, aquelas cujo os resultados nefastos nós conhecemos, que vão desde a desumanização do homem até a sua completa aniquilação.

No entanto, não é este o foco deste texto. Tecnicamente, que resposta pode ser dada para a pergunta que intitula este post? Afinal, somo todos macacos ou não? Definitivamente não! Não somos todos macacos, ainda que guardemos com os chimpanzés uma semelhança genética de 98%. Desde o polegar opositor ao neocórtex mais desenvolvido, há muitas diferenças que nos distanciam dos macacos. E não se trata apenas de diferenças estruturais, mas também de diferenças que surgem a partir de nossa inserção no mundo da linguagem, da nossa capacidade de ampliarmos os efeitos das contingências ontogenéticas através das descrições que delas fazemos, o que é indicativo de que o comportamento verbal inaugura um novo tipo de seleção que supera e complementa os outros níveis que operam na filogenia e na ontogenia.

A filogenia prepara a espécie para um ambiente semelhante ao que ela se desenvolveu. A ontogenia seleciona comportamentos que permitem uma melhor adaptação a um mundo em constante mudança. E não venham os críticos da noção de adaptação igualarem-na à ideia de submissão. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Adaptar-se é comportar-se com o repertório comportamental que se tem dada as circunstâncias que selecionaram este repertório e as contingências que no presente continuam fazendo a sua manutenção.

Um indivíduo pode ter como alternativa para lidar com determinados problemas o escape proporcionado por entorpecentes. Dada a sua história de vida e as contingências que fazem a manutenção dos comportamentos que levam ao uso de drogas, a utilização destas substâncias pode ter sido a alternativa construída como saída para lidar com os problemas que se vive. Esta é uma forma de adaptação. Já um outro indivíduo com uma outra história de reforçamento, pode encontrar na arte, nos estudos, no trabalho ou numa vida de ativista político a sua forma de adaptação. Adaptar-se não é submeter-se. Adaptar-se é comportar-se com o repertório que se tem, modelado e mantido por contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais.

Com relação a sociogenia, o nível em que operam as contingências culturais, contingências que selecionam práticas culturais que mantêm a forma de funcionar de uma cultura, o que se tem a dizer é que elas nos distanciam de qualquer possibilidade de sermos macacos. Mas não nos entusiasmemos muito, pois não podemos ignorar que compartilhamos com as outras espécies, inclusive com os macacos, aquilo que nos torna tão humanos: as leis que regem os nossos comportamentos, e é isto que possibilita a generalização dos resultados de estudos feitos a partir da análise das contingências envolvidas na determinação do comportamento animal para o entendimento do comportamento humano.

Não somos assim tão especiais quanto pensamos. Querendo ou não, compartilhamos com os macacos, e não somente com eles, uma história evolutiva em comum. Tanto eles como nós temos comportamentos selecionados por causa do seu valor de sobrevivência: comportamentos respondentes. Tanto eles como nós temos comportamentos que são afetados pelas consequências que produzem, e o que torna isso possível para humanos e não humanos é a susceptibilidade ao reforçamento. A susceptibilidade ao reforçamento, ou seja, a sensibilidade de certa classes de comportamentos às consequências que produzem, é um produto da evolução.

Depois de Galileu ter retirado a Terra do centro do universo, a segunda grande decepção da humanidade foi constatar que ela não era a obra prima da criação. Este foi o grande golpe desferido por Charles Darwin contra a vaidade humana, vaidade tão anticientífica. Mais do que anticientífica, ela perpetua a crença no criacionismo, que diga-se de passagem é uma prática cultural muito comum em círculos religiosos que se protegem dos avanços da ciência criando entorno de si uma blindagem metafísica.

O terceiro e definitivo golpe é aquele produzido a partir dos estudos da Análise Experimental do Comportamento, que revela-nos que não só compartilhamos uma história evolutiva em comum com as outras espécies, como também compartilhamos as leis que regem o funcionamento do nosso comportamento, ou seja, as contingências envolvidas na determinação do comportamento animal são as mesmas envolvidas na determinação do comportamento humano, e isso se aplica ao comportamento verbal, que é um exemplo de comportamento operante, de comportamento afetado pelas consequências que produz.

Não somos macacos, mas nada nos autoriza a ignorarmos as descobertas que já foram produzidas a partir do estudo do comportamento animal!


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domingo, 5 de janeiro de 2014

Introspecção: um exemplo de comportamento

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

No nascimento da Psicologia, que de acordo com os manuais históricos ocorreu em 1879 com a criação do primeiro laboratório de Psicologia na Universidade de Leipzig na Alemanha, a instrospecção ocupava o lugar de destaque. Wund, criador do referido laboratório, foi um dos precursores na utilização da introspecção como método de estudo. Introspecção é uma palavra formada pela junção de duas outras: intro + prospecção. Intro quer dizer dentro e prospecção significar sondar. Sendo assim, introspecção é o mesmo que olhar para dentro em busca de algo, em busca da realização de algum tipo de sondagem.

Durante muito tempo a introspecção continuou sendo utilizada como método de estudos. Sua finalidade era possibilitar a sondagem dos elementos responsáveis pela formação da vida mental. Lógico que sua utilização envolvia uma série de dificuldades, e por isso o observador tinha que ser treinado para observar os seus próprios estados internos, de modo que seu relato pudesse ser o mais livre possível de contaminações subjetivas. A ciência se edifica sobre métodos, não somente sobre estes, mas faz deles usos que os tornam indispensáveis na produção de conhecimento científico, não sendo possível imaginar a empreitada científica sem a utilização de alguma metodologia.

Mas imaginemos as dificuldades envolvidas na utilização da introspecção. Há dificuldades metodológicas e também epistemológicas. Estas últimas dão origem a um raciocínio mentalista circular, em que as observações dos estados internos constituem o único indício de uma mente em funcionamento, ou seja, os efeitos são as únicas evidências das causas, se é que os estados internos observados podem de fato serem chamados de efeitos.

Uma outra alternativa mais interessante é pensarmos a introspecção como mais um comportamento a ser explicado. O comportamento de olhar para dentro é válido? Certamente! Mas ele é um comportamento como qualquer outro e deve ser explicado a partir das contingências de reforçamento. O que nós vemos quando enxergamos o nosso interior? Não temos olhos de raios-x, então, não podemos ver as nossas vísceras, e mesmo que pudéssemos isso não seria muito agradável.

Ao olharmos para o interior, ao contrário do que se pensa, não enxergamos uma mente em funcionamento. Enxergamos o nosso comportamento em funcionamento. O que enxergamos relatamos em forma de sentimentos. Ao olharmos para o nosso interior podemos sentir com mais acuidade nosso peito apertado e nossa respiração ofegante. Essa observação é relevante, pois permite-nos dar um nome para esses estados fisiológicos: angústia. Identificada a angústia podemos nos questionar: que eventos estão me deixando angustiado, que eventos estão fazendo com que eu me sinta desta forma? O mesmo procedimento é válido para outros estados emocionais.

A pergunta sobre as causas a respeito dos estados emocionais é importante, pois faz o olhar voltar-se para fora, para as contingências de reforçamento. Posso estar me sentindo angustiado por ter feito algo muito errado, por ter magoado alguém, por ter ferido uma pessoa que gosto. Essa pessoa pode ter suspendido temporariamente alguns reforços positivos em função do meu comportamento coercitivo. Então, o que sinto é um produto destas contingências de reforçamento. Se consigo fazer a correlação entre o que é sentido e o que ocorre em termos de contingências de reforçamento, posso dessa forma alterar estas contingências. Posso me desculpar, posso reconhecer os meus erros, posso tentar restabelecer o relacionamento rompido etc.

Posso aprender com as contingências e compreender que a pessoa ferida não suporta certos comportamentos meus direcionados a ela. Na presença dessa pessoa terei que evitar certos comportamentos. Desse modo a presença dela é estímulo discriminativo para evocar comportamentos contrários aos comportamentos de tratá-la coercitivamente, o que explicaria o meus comportamentos de autocontrole. O autocontrole consiste em manipular de tal forma as contingências de modo a evocar comportamentos incompatíveis com aquilo que pede as circunstâncias.

Voltemos ao comportamento de introspecção. No cotidiano ele é de grande relevância, pois permite a observação de tendências de nos comportamos neste ou naquele sentido. Ele possibilita a observação de nossos estados emocionais, e as emoções fornecem indicações sobre as contingências que afetaram nossos comportamentos no passado, que afetam nosso comportamento no presente e que podem afetá-lo no futuro. A introspecção permite a construção de autoconhecimento, e este é um comportamento modelado pela comunidade verbal por causa do seu valor em promover relações interpessoais mais saudáveis.

Todavia, temos grandes dificuldades de colocar em prática no cotidiano o comportamento de introspectar nossos estados emocionais e repertórios comportamentais encobertos. Isso é compreensível, tendo em vista que corremos o risco de nos depararmos com descobertas a nosso respeito que podem ser assustadoras. Nesse sentido a introspecção pode estar associada ao controle coercitivo. No entanto, não há alternativas. Se queremos ampliar o conhecimento que temos sobre nós mesmos, a introspecção pode ser uma via que possibilite a descrição das contingências relacionadas ao nosso comportar-se.

Vamos, então, introspectar? Eu estou fazendo isso e espero lograr muitos êxitos. Convido o leitor a fazer o mesmo...

Abraços!


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sábado, 4 de janeiro de 2014

Jesus e as Relações Interpessoais

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O que este texto pretende é proceder a uma análise de algumas passagens dos evangelhos, tentando com isso evidenciar as contingências que envolvem os comportamentos de Jesus, e como estas parecem apontar para algo que está no centro da missão de divulgar a boa nova: transformar o mundo através da transformação das pessoas.

Não é pretensão dessa análise realizar questionamentos sobre a historicidade do personagem que na bíblia é descrito como Jesus e nem mesmo sobre a sua divindade tão advogada pelas religiões cristãs, divindade utilizada como critério para apontá-lo como o senhor do Céu e da Terra. Mas, o que se pretende é demonstrar a centralidade da missão de Jesus em divulgar uma boa nova que tem como tema central o amor, e para isso o veículo utilizado foram as relações interpessoais, afinal, ao falar de amor, ele precisava demonstrá-lo por meio das relações estabelecidas com as pessoas que o seguiam.

E como demonstrar amor? Jesus ensinava lições de amor dando exemplos de como ele poderia ser expressado. Eis aí um exemplo de modelação. Na modelação o comportamento de alguém serve de modelo. O comportamento de alguém como modelo tem a função de estímulo discriminativo, cuja função é sinalizar os reforços positivos que serão apresentados se o comportamento for imitado. Boa parte dos comportamentos aprendidos na infância ocorrem por modelação. A criança imita os pais, e e pela imitação acaba recebendo alguns reforços.

O jeito de ensinar de Jesus se distinguia da forma de ensinar dos fariseus e doutores da lei, grupos que ele criticava com frequência, pois ao mesmo tempo em que se entregavam aos rituais, por outro lado se mantinham longe das pessoas, e sobretudo, submetiam-nas a regimes religiosos bastante opressores. O texto da mulher apanhada em adultério fornece um bom exemplo das habilidades sociais de Jesus e de como ele valorizava muito mais o contato humano - contato permeado por muitos reforços positivos - do que os rituais de oblação e expiação dos pecados.

Estes rituais tinham duas funções: 1) Manter o poder da classe de sacerdotes que dominavam a forma de execução dos rituais; 2) Manter a arrecadação do templo, que além de ser um centro religioso, era também um centro financeiro importante. Não é difícil concluir então, que os sacerdotes do tempo de Jesus utilizavam os poderes que tinham para oprimir o povo, e faziam isso buscando na religião as justificativas para a manutenção de um sistema coercitivo que rendia altos dividendos para a privilegiada casta sacedortal. Essa religião estabelecia um distanciamento entre os sacerdotes e o povo e esse distanciamento era permeado por muita coerção.

Ao valorizar as relações interpessoais Jesus rompe com esse sistema que usa a coerção como meio exclusivo para manter o controle dos fiéis. Voltemos ao exemplo da mulher adúltera (João 8, 1-11). Esta mulher seria apedrejada por ter sido apanhada em adultério. Escribas e fariseus levaram-na diante de Jesus. Como se não bastasse lembraram que a lei de Moisés mandava apedrejar esse tipo de mulher até a morte. Narra o evangelho de João que a resposta de Jesus não foi imediata, pois deteve-se durante um tempo escrevendo com o dedo no chão. Temos duas possibilidades para o comportamento de Jesus: 1) Jesus tentou conseguir um tempo para pensar antes de dar uma resposta; 2) Jesus evitou entrar em confronto direto com os escribas e fariseus, pois estes estavam exaltados e desejavam colocá-lo à prova.

A segunda possibilidade parece ser a mais provável tendo em vista os comportamentos de Jesus em outras passagens encontradas nos outros evangelhos, passagens em que ele responde ao ódio com o amor e o perdão (Lucas 7, 36-47) e às  ofensas com o acolhimento (Lucas 22, 50). Jesus respondeu aos escribas e aos fariseus: "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra." (João 8, 7b). Esta é uma valiosa lição para se praticar no âmbito das relações interpessoais. Todos erram. Às vezes os erros dos outros punem com bastante intensidade alguns de nossos comportamentos, assim como os nossos erros também podem punir os comportamentos de pessoas muito próximas.

Conforme os costumes da época a mulher adúltera havia errado, e certamente seu erro puniu gravemente alguns comportamentos do seu esposo. Mas Jesus assume uma postura diferente aos costumes da época que aconselhavam o tipo mais severo de punição: a morte por apedrejamento. O que ensina Jesus com este exemplo? Ele ensina que não se combate coerção com coerção. E ao final do mesmo texto encontramos a seguinte descrição: "Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: 'Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?' Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor.' Disse-lhe então Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar". (João 8, 10-11).

Jesus não condenou. Ele poderia ter seguido o grupo. Poderia ter se vingado. E vingando, poderia ter condenado a mulher. Aliás, ele a livrou da condenação dos outros e da condenação que ela poderia dirigir a si mesma. Talvez nisso resida a beleza do perdão, em libertar os outros do fardo emocional da culpa que pode se originar das mais diferentes contingências coercitivas. Comportamentalmente falando, o perdão sinaliza que aquele que perdoa não está disposto a revidar com a mesma lógica da coerção utilizada por aquele que cometeu o "delito". Coerção não elimina coerção. Ao contrário, gera um ciclo vicioso de coerções. Basta que olhemos para o nosso sistema prisional e constataremos que a coerção utilizada para "corrigir" os detentos só faz crescer as rebeliões e multiplicar as facções criminosas dentro do próprio sistema.

Há mais alguma coisa no perdão. Ele oferece a possibilidade do perdoado tomar consciência das condutas que de sua parte provocaram danos em alguém. Isso faz todo o sentido se levarmos em conta que o homem é um ser verbal, um ser inserido numa comunidade verbal e que suas interações com o mundo são mediadas por esta comunidade. O perdão aponta para as consequências do comportamento que provocou os danos, e como bem sabemos são as consequências do comportar-se que movem o mundo, ou seja, o operante é uma classe de comportamentos determinados pelas consequências que produzem.

Se a comunidade verbal explicita as condições responsáveis pelo comportamento e como as suas consequências foram capazes de provocar danos os mais diversos, ela está dando ao ouvinte a oportunidade de descrever o próprio comportamento e as condições do qual ele é função. Isso gera aprendizagem e possibilita o controle por regras, de modo que o ouvinte pode dizer para si mesmo que comportamentos geram danos e que comportamentos produzem benefícios. Não adianta apenas punir o comportamento que produziu danos. A punição não ensina o que precisa ser feito. No máximo ela ensina o que não deve ser feito, e consegue isso produzindo paralelamente subprodutos emocionais bastante nocivos: angústia, ansiedade, medo, culpa etc. No fim das contas não se combate coerção com coerção.

Em Mateus 5, 38 Jesus deixa clara o que ele pensa sobre a coerção: "Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra." A nota de rodapé da bíblia Ave Maria interpreta esse trecho mencionando que Jesus salienta a importância de se ter um espírito de suavidade e paciência, e que se deve evitar a todo custo a prática da vingança. Em termos comportamentais podemos dizer que praticar a suavidade significa ao mesmo tempo evitar a coerção como método de controle e utilizar o reforçamento positivo como meio para a resolução das querelas de todos os tipos

E Jesus não perde a oportunidade de apontar que os atos concretos geradores de reforçamento positivo são mais importantes do que os rituais: "Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-se com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta" (Mateus 5, 23-24). Eis uma alusão à importância das relações interpessoais, e de que estas devem estar baseadas em reforçamento positivo, mesmo quando existe entre as pessoas querelas que as distanciem. O que Jesus salienta é que o perdão diante do altar tem pouco valor se ele não gera mudanças concretas nas relações interpessoais.

Jesus incentiva as pessoas a se aproximarem uma das outras e resolverem os seus problemas. A religião de Jesus é a religião das relações interpessoais. E religião significar religar. O que Jesus ensinou foram meios para as pessoas se religarem. A amálgama deste religamento é o amor, e a forma de colocá-lo em prática é abolindo a coerção - "olho por olho, dente por dente" - e utilizando o reforçamento positivo. Este último pode se expressar por meio do perdão e da reconciliação. Mesmo no auge de sua dor, pendurado na cruz, Jesus foi capaz de dizer: "Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem" (Lucas 23, 34a). Jesus não olhou apenas para a sua dor. Poderia ter praguejado e proferido juras de maldição, mas mesmo no último instante de sua vida ele ensina que os efeitos do reforçamento positivo devem suplantar o uso da coerção, mas para que isso aconteça devemos escolher a alternativa da construção de relações que sejam naturalmente reforçadoras.

Então, temos ou não muito a aprender? Falo por mim... Eu tenho muito a aprender com Jesus! E que em 2014 procuremos construir relações naturalmente reforçadoras através da prática do perdão e da reconciliação. Esses são os votos do Blog Café com Ciência para todos os seus seguidores. E para os que eu causei algum dano em 2013 ou em qualquer outro tempo, vai aqui o meu mais sincero pedido de desculpas!

Shalom e feliz ano novo!


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domingo, 6 de outubro de 2013

Contingências acidentais: análise comportamental do filme Monstros S.A.

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Monstros S.A. é um brilhante filme produzido pela Pixar em parceria com a Walt Disney. Os números de bilheteria são impressionantes e dão uma ideia da atraente trama que continua atraindo a muitos aficcionados por filmes no estilo desenho animado. Lançado em 2001 ele rendeu somente nos EUA US$ 255.873.250. No mundo inteiro produziu a cifra de US$ 525.366.597. Estes dados estão de acordo com a página do filme na Wikipédia. De acordo ainda com o site, o filme teve aprovação de 95% dos críticos de cinema.O índice de aprovação é quase um record.

Mais do que atrair pela trama bem humorada e envolvente, Monstros S.A. ensina-nos algumas lições importantes sobre a Análise do Comportamento. Ele demonstra como contingências acidentais podem criar ocasiões para o surgimento de novos comportamentos e até mesmo de novas práticas culturais que beneficiam os grupos que operam segundo estas práticas e também as pessoas que deles fazem parte. Logicamente que estas também podem resultar em acidentes que produzem comportamentos e práticas culturais pouco adaptativos.

Em certo sentido todo comportamento é adaptativo conforme as contingências responsáveis por sua manutenção, mas há comportamentos que beneficiam aquele que se comporta e também as pessoas que estão próximas, enquanto existem também aqueles comportamentos que geram malefícios ou benefícios bastante diminutos para pessoas e grupos. O que importa é que tanto um comportamento quanto o outro são selecionados e mantidos pelas contingências de reforço, e podem surgir de contingências acidentais como bem demonstra o filme Monstros S.A. No filme contingências acidentais mudam a história dos personagens principais e alteram também as práticas culturais responsáveis pelo funcionamento da cidade de Monstrópolis.

O filme conta a história de Monstrópolis. Monstrópolis é como uma cidade humana qualquer, exceto pelo fato de ser habitada por monstros. A energia responsável pelo funcionamento da cidade é produzida pela empresa Monstros S/A. Monstros entram no quarto de crianças humanas pela porta do armário assustando-as. O grito de medo das crianças produz energia que é armazenada e posteriormente distribuída para toda a cidade. A porta do armário funciona como uma ligação entre dois mundos, entre duas dimensões diferentes: a dimensão humana e a dimensão dos monstros. Por sua vez a porta é operada por um equipamento responsável por produzir a conexão entre os dois mundos.

O trabalho de assustar as crianças é feito em duplas. Um parceiro é responsável pelo manuseio do equipamento. Já o outro entra pela porta e realiza o trabalho de assustar. Há uma disputa entre as duplas e um ranking geral que pontua o desempenho de todos. Os melhores desempenhos entram para o ranking e recebem uma pontuação. Eis aí o reforçamento positivo. As melhores duplas são Mike e Sulley e seu concorrente direto que é Randall e o seu parceiro. Randall utiliza de todos artifícios para superar Mike e Sulley, inclusive tentar trapacear de modo a ficar no primeiro lugar do ranking.

Até aqui temos uma contingência de reforço importante: gritos de medo de crianças humanas produzem energia. Tal contingência é descrita sobre a forma de uma regra que controla o comportamento de assustar dos monstros. Regras são descrições de contingências de reforço. Elas descrevem relações do tipo "se" e "então". Por exemplo, se aperto o interruptor, então, a lâmpada se acende. O "se" é a condição em que o comportamento ocorre, neste caso a existência do interruptor e de uma lâmpada que não esteja queimada. O "então" é a consequência produzida em decorrência da emissão do comportamento que ocorre  na ocasião especificada pelo "se", neste caso é a lâmpada acesa.

No filme o "se" é o acesso ao quarto das crianças humanas através da porta operada pelo equipamento que conecta os dois mundos. O "então" é a energia produzida pelo comportamento de assustar as crianças. Se o susto é grande, mais energia é produzida, e mais significativo é o reforço para o comportamento de assustar do monstro. Os comportamentos de assustar são mantidos tanto pelo reforço imediato gerado pela energia produzida pelo susto, quanto pela regra que especifica que assustar é essencial para a geração de energia. Esta regra é muito importante para o funcionamento de Monstrópolis. Aliás, toda a energia de Monstrópolis depende do seguimento desta regra. Sendo assim, ela é uma prática cultural importante para o funcionamento da sociedade dos monstros, e sua falência poderia representar o colapso desta sociedade.

No entanto, em determinado momento do filme essa regra vai ser questionada por um evento inesperado que ocorreu durante a operação do equipamento que permite a conexão entre os dois mundos. Mike havia deixado uma papelada sem preencher. Diante disso pediu ao amigo Sulley para retornar ao trabalho e preenchê-la. Chegando no andar das portas, Sulley encontrou uma conectada a um equipamento em funcionamento. Este estava sendo operado por Randall que trapaceando trabalhava fora do horário de expediente para aumentar sua pontuação no ranking geral. Num acidente Sulley abre a porta e uma criança humana tem acesso ao mundo dos monstros.

Depois disso ocorre uma sucessão de eventos que levam Sulley e Mike a tentarem esconder a criança, pois crianças humanas são consideradas tóxicas, sendo, portanto, fontes potenciais de contaminação. Existe, inclusive, uma agência responsável pela descontaminação dos monstros quando estes têm contato com crianças ou qualquer objeto humano. Para não serem apreendidos por esta agência e serem demitidos, Mike e Sulley enfrentam as mais inusitadas situações para esconderem a criança chamada de "Boo".

Todavia, a convivência com Boo produziu contingências acidentais que mudaram a história de Monstrópolis para sempre. A primeira delas permitiu a descoberta de que crianças humanas não eram tóxicas. Com isso vai se embora a crença da toxidade. Esta crença era uma regra. Ela era responsável pela manutenção dos comportamentos que preservavam os monstros longes das crianças. Esta regra era baseada em controle aversivo. O monstro que tivesse contato com crianças tinha que passar por um humilhante procedimento de desintoxicação. Não ter contato com as crianças era um modo de fugir da humilhação e da possibilidade de contaminação. Trata-se de comportamentos de fuga/esquiva mantidos por reforçamento negativo.

Contudo, o contato com Boo não produziu nenhuma contaminação. Disso, conclui-se, que a regra sobre o contato com crianças era falsa, ou seja, ela não descrevia contingências reais. Muitas vezes em nossas vidas sofremos porque estamos sob o controle de regras que não descrevem contingências reais. Na base dos estereótipos estão regras deste tipo. "Todo baiano é preguiçoso". Este é um estereótipo típico dos regionalismos deste país continental chamado Brasil. Ela não se aplica a todos os baianos. Ela não se sustenta diante de provas empíricas. Há baianos preguiçosos, como também há mineiros, paulistas, cariocas, paranaenses etc. Entre populações de humanos sempre vamos encontrar alguém que se comporta de maneira mais preguiçosa em determinadas ocasiões. Mas mesmo o mais "preguiçoso" dos seres não age com preguiça a maior parte do tempo.

O depressivo costuma dizer para si mesmo: "melhor eu me fechar em meu mundo, eu me trancar em meu quarto, pois assim evito aborrecimentos". O depressivo acaba realizando uma generalização, pois nem todos os contatos sociais vão resultar em aborrecimentos. Portanto, sua regra é falsa. Mas, quanto mais ele se fecha, mais ele se priva das possibilidades de submeter sua regra a um teste real, a um teste que resista a exposição a novas contingências de reforço. Foi o que ocorreu no filme. A regra sobre a contaminação não resistiu a contingências reais. Quando submetida a um teste descobriu-se que ela era falsa. Isso foi fundamental para alterar o comportamento dos monstros com relação as crianças e as práticas culturais que mantinham o funcionamento de Monstrópolis.

Mas, o contato com Boo levou a uma outra descoberta. O sorriso das crianças produziam muito mais energia do que o grito de medo. Esta descoberta gerou uma nova regra: "melhor fazer as crianças rirem do que fazer elas chorarem". Isso aumentou o índice de produção de energia da fábrica Monstros S/A. Toda a sociedade de Monstrópolis ganhou com isso. A descoberta também garantiu para Sulley uma promoção para o cargo de supervisor do andar em que ficavam as portas e os equipamentos que conectavam o mundo dos humanos e dos monstros.

Uma única contingência acidental mudou o funcionamento de toda uma sociedade. Isso demonstra algo importante: a exposição a novas contingências é essencial para a modelagem de novos comportamentos e para o surgimento de novas práticas culturais. Aumentando a variação nas contingências aumentamos as possibilidades de seleção de novos comportamentos. Se esta variação ocorrer de modo planejado, maiores são as chances de serem selecionados comportamentos e práticas culturais que beneficiem indivíduos, grupos, instituições, sociedades e também toda a humanidade. A Análise do Comportamento coloca a nossa disposição os fundamentos teóricos e o amparo metodológico necessário para a realização deste tipo de planejamento, basta utilizarmos estes meios para aumentarmos as chances de sobrevivência das sociedades humanas.



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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Há algo mais profundo que as contingências de reforço?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Psicologia profunda é somente aquela que cuida da mente inconsciente? Muitas vezes o termo profundidade é quase sinônimo de vida mental, ou ao menos aponta para a possibilidade de existência de uma vida mental, de uma mente que funciona apesar de todo ato de volição. Isso faz com que a psicologia fique dividida entre as psicologias profundas, aquelas que cuidam da vida mental, em especial se debruçam sobre a tarefa de desvendar os segredos do inconsciente, e as psicologias superficiais, aquelas que tratam o comportamento apenas como respostas que surgem como ações provocadas por estímulos. Nada mais enganoso!

O mentalismo é mesmo encantador. Ele abre-nos a possibilidade de uma hermenêutica sem fim, fazendo acreditar que ciência se constrói com retórica. Retórica como a arte de falar não define aquilo que o cientista faz. O cientista trabalha com previsão e controle, e isso significa que deve ser capaz de isolar as variáveis responsáveis pelo comportamento de seu objeto de estudos. Não há nada mais trabalhoso e "profundo" do que selecionar as variáveis relevantes para a explicação do comportamento de um determinado de objeto de estudos, principalmente quando este objeto é o comportamento humano.

O problema com o mentalismo é que ele não deixa claro quais são as variáveis relevantes para se ter um mínimo de controle e previsão sobre o comportar-se. Se estas variáveis são o id, o ego e o superego, não temos como alterá-las, uma vez que são inacessíveis a qualquer tentativa de manipulação direta. Objetariam os mentalistas dizendo que estas podem ser acessadas indiretamente via comportamento. Então, temos aqui um problema. Se o objeto de estudos, no caso o comportamento, é a única evidência sobre as variáveis que o produzem, não há possibilidades reais de serem testadas mudanças significativas neste objeto, já que a rigor é inviável provar que as mudanças apontadas estão relacionada a alteração em certas variáveis. Em outras palavras, qualquer relação de causalidade não pode ser estabelecida, o que abre campo para a pura especulação.

O problema se agrava quando se hipotetiza sobre as variáveis causadoras do comportamento, especulando que estas têm um comportamento muito próprio. Isso vai tornando cada vez mais problemático o estudo, pois não são mencionadas que outras variáveis são responsáveis pelo comportamento daquelas variáveis que são diretamente responsáveis pelo comportar-se. As variáveis responsáveis pelo comportar-se precisam ter o seu comportamento explicado, e ao se explicar o comportamento destas, perde-se o foco do comportamento em si. Desta forma, toda explicação mentalista tende a ser circular. O comportamento é a única evidência das causas que o provocam, e as causas precisam ter o seu comportamento explicado para que se possa acreditar que o comportamento em si é uma evidência contundente daquilo que o causa. No fim das contas o comportamento é a explicação para si mesmo.

As contingências de reforço fornecem-nos uma saída mais interessante, pois indicam qual é o objeto a ser estudado e quais são as variáveis responsáveis pela forma como esse objeto se apresenta. Na Análise do Comportamento as contingências de reforço constituem a unidade básica de análise. Elas indicam a princípio que pelo menos dois processos são responsáveis pela ocorrência do comportamento: o reforçamento e o controle por estímulos. Para melhor compreensão destes processos é sugerida a leitura do texto "Condicionamento operante: definição e aplicações."

O reforçamento faz referência às operações de consequenciação. Trocando em miúdos, o comportamento é afetado por suas consequências, que podem ser de dois tipos: reforçamento positivo e negativo. A princípio parece ser um modelo explicativo bastante simples. Mas não é como parece. As consequências afetam o comportamento de diferentes formas. Elas vão depender, por exemplo, dos esquemas que determinam a forma como elas são apresentadas, e aqui entramos no terreno dos esquemas de reforçamento. O leitor vai entender melhor os esquemas de reforçamento lendo outro texto deste blog: "Jogos de azar: uma breve reflexão sobre os esquemas de reforçamento." O esquema de reforçamento vai ser determinante para que as consequências produzam comportamentos mais ou menos resistentes à extinção, comportamentos mais ou menos frequentes, comportamentos mais ou menos vigorosos.

O número de consequências que podem afetar os comportamentos que constituem nosso repertório total de comportamentos são incontáveis. Algumas consequências podem ter maior poder de controle sobre o comportamento se forem biologicamente importantes: sexo, bebidas, comidas etc. A importância biológica vai ser determinada pela história filogenética da espécie a qual o organismo pertence. Então, o ambientalismo como modelo explicativo não está contido em si mesmo, pois depende de outros níveis de explicação. A adoção do modelo de causalidade ambientalista remete-nos a um diálogo fecundo com outras ciências que explicam como funcionam o substrato biológico que dá amparo ao comportar-se. Neste sentindo, uma psicologia contida em si mesma é um projeto estéril desde a sua concepção. Não se faz análise do comportamento sem considerar variáveis ambientais e também variáveis biológicas.

O número de consequências que afetam o comportar-se aumenta exponencialmente se considerarmos que variáveis previamente neutras quando associadas a outras variáveis que já afetam o comportar-se, passam a adquirir poder de controle sobre este. Neste rol entram aquelas variáveis que foram associadas às consequências de importância biológica. Estas novas variáveis podem se associar a outras, gerando, assim, novas variáveis controladoras do comportamento. Há um infinito de possibilidades de associações entre variáveis ambientais e comportamentais, o que demonstra o quão "profundas" são as contingências de reforço.

Até aqui estivemos considerando somente as operações de reforçamento. Há as operações de controle de estímulos, o que é outra forma de dizer que não somente as consequências afetam o comportar-se, mas também os contextos em que os comportamentos ocorrem. Nestes contextos estão estímulos que assumem o controle do comportamento depois de serem associados às consequências. Após esta associação estes estímulos adquirem a função de sinalizadores de consequências, aumentando ou diminuindo a probabilidade dos comportamentos que controlam. No texto "O Condicionamento operante: definição e aplicações" o leitor vai encontrar uma explicação mais detalhada sobre como os contextos assumem o controle do comportar-se.

O número de variáveis dos contextos que afetam o comportar-se é ampliado se considerarmos que outras variáveis parecidas àquelas que controlam as emissões do comportamento, adquirem também a função de diminuir ou aumentar suas probabilidades de ocorrência. Por sua vez, o poder de controle destas variáveis sobre o comportar-se vai depender dos esquemas de reforçamento, ou seja, vai depender da forma como as consequências ocorrem. As combinações entre variáveis do contexto e as operações de consequenciação podem ser as mais diversas possíveis, o que revela o caráter multideterminado do comportamento, ao mesmo tempo que revela a complexidade deste objeto de estudos. Sobretudo, revela quão "profunda" são as contingências de reforço.

A coisa piora se ainda considerarmos que as contingências dos comportamentos individuais podem se entrelaçar com as contingências culturais. Por sua vez a cultura acaba estabelecendo regras para as condutas individuais, regras que afetam o comportamento de pessoas e grupos. O resultado final do comportamento de pessoas, grupos e instituições é a manutenção ou mudança de padrões culturalmente estabelecidos, e tais padrões podem ser determinantes para a sobrevivência da humanidade e de seu modo de existir. E aqui se revela a necessidade de diálogo da Análise do Comportamento com as Ciências da Sociedade, por mais que estas tenham a tendência em descrever as culturas em termos topográficos ou apelarem para descrições mentalistas no afã de explicar os comportamentos das coletividades.

De tudo isso fica uma constatação: as contingências de reforço são muito mais profundas do que qualquer modelo de causalidade mentalista. Enquanto unidade de análise as contingências do reforço permitem uma visualização das variáveis determinantes para a ocorrência do comportar-se, e da complexidade que envolvem a sua emissão. Sobretudo, elas permitem a construção de uma empreitada científica que abre margens para o controle e previsão. Por sua vez esta empreitada as transforma em um instrumento não somente de análise, mas também numa poderosa ferramenta de intervenção. Então, porque as contingências do reforço não haveriam de ser profundas?



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sábado, 13 de julho de 2013

"A dor é inevitável. O sofrimento é opcional": breve reflexão sobre o comportamento social

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O título deste texto faz menção a uma famosa frase do poeta Carlos Drummond de Andrade. Ela no mínimo indica que há circunstâncias na vida em que a dor vai ocorrer independente daquilo que fizermos. Isso aponta para algo que caracteriza os comportamentos sociais, que é a incontrolabilidade dos eventos ambientais, como, por exemplo, a incontrolabilidade dos estímulos reforçadores, pois estes dependem dos comportamentos de outrem. Neste sentido os comportamentos dos outros com quem nos relacionamos se constituem como ambiente para aquilo que fazemos. Desta forma, ambiente é tudo aquilo que afeta o comportar-se. Por definição é tudo aquilo que é externo ao comportamento e não necessariamente o que é externo ao organismo que se comporta. Não importa a localização dos eventos que afetam o comportar-se, se estão sob a pele ou fora dela, ou seja, se são privados ou públicos. O que importa é se eles afetam o comportamento e como eles o afetam. 

No caso do comportamento social, que Skinner (1998, p. 325) define "como o comportamento de duas ou mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto em relação ao ambiente comum", as consequências do comportar-se são mediadas pelo comportamento do outro com quem nos relacionamos. Isso acaba diferenciando o comportamento social do comportamento reforçado diretamente pelo ambiente mecânico. "O comportamento reforçado através da mediação de outras pessoas diferirá de muitas maneiras do comportamento reforçado pelo ambiente mecânico. O reforço social varia de momento para momento dependendo da condição do agente reforçador." (SKINNER, 1998, p. 327).

O reforço social varia de momento para momento e depende das condições do agente reforçador. Isso quer dizer que em tese é impossível prever com exatidão a maneira como o outro agirá. Lógico que o conhecimento sobre o comportamento do outro e das circunstâncias que o afetam acabam possibilitando a construção de margens de previsão bastante aproximadas. Mas, ainda, assim, há espaço para o imprevisível, até porque o comportamento é afetado por múltiplas variáveis simultaneamente, e ter o conhecimento de todas elas em ambiente natural é algo que em tese é impraticável. A partir daí chegamos à conclusão que o comportamento social é mais flexível e ao mesmo tempo caracterizado pela incontrolabilidade dos eventos que o afetam. Mas neste contexto a incontrobalidade quer dizer que não se pode construir margens de previsão absolutas. Estas margens são sempre aproximadas.

Mas incontrabilidade também quer dizer que independente do que fizermos há outras variáveis que afetam o comportamento do outro com quem relacionamos de modo mais contundente, e por isso que as consequências não podem ser alteradas. Em outras palavras, independente do que fizermos em muitas circunstâncias o comportamento do outro não vai se alterar, e é aí que mora o perigo, ou seja, é daí que vem o sofrimento, ou para ser fiel ao poeta, é daí que surgem os eventos inesperados que nos fazem sentir dor. Por isso vamos com ele concordar que a dor é inevitável. Mais cedo ou mais tarde ela vai acontecer. Às vezes porque somos incapazes de alterar o curso de ação das outras pessoas, ou porque formulamos regras que não descrevem com fidelidade as contingências que afetam o comportamento destas. Quando o segundo caso acontece, podemos falar que alimentamos uma expectativa com relação ao outro e esse outro agiu de modo a contrariar a nossa expectativa.

Se a dor é inevitável, o poeta ensina-nos que o sofrimento é opcional. Há um ensinamento na segunda parte da reflexão poética. Ela quer dizer que podemos alterar os nossos comportamentos de modo a atenuar a dor gerada pelos comportamentos dos outros. Podemos, por exemplo, evitar a pessoa que provocou a dor. Podemos evitar a exposição às situações que nos lembrem o agente causador da dor: um restaurante, uma música, um perfume etc. Podemos nos expor a situações que nos proporcionem bem estar: conhecer novas pessoas, frequentar novos lugares, estabelecer novos diálogos etc. Se não podemos em muitas situações mudar a forma como as pessoas agem, e na maior parte do tempo as variáveis que afetam os comportamentos dos outros não estão sob o nosso controle e daí vem a incontrolabilidade, podemos, no entanto, por outro lado mudar os nossos comportamentos.

É mais salutar tentarmos modificar a nossa forma de agir do que insistir na mudança dos comportamentos dos outros. Assim evitamos aborrecimentos desnecessários e temos a oportunidade de ampliarmos nosso repertório de habilidades sociais. Portanto, a dor pode se transformar em ocasião para construirmos novos olhares sobre as nossas formas de agir, ou seja, a dor pode estabelecer a ocasião para o surgimento do autoconhecimento, e o autoconhecimento é ponto de partida para efetuarmos mudanças em nós mesmos.

Referência:

SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 10 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.




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sábado, 1 de junho de 2013

Cinco Dicas Para Acabar Com Um Casamento

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O texto que se segue não tem a pretensão de incentivar os casais a acabarem com os seus casamentos. Ao contrário, ele se presta a esclarecer os tipos de situações que costumam minar as relações entre as pessoas casadas. Ao invés de seguir as dicas, é aconselhado que se faça tudo ao contrário, ao menos que o leitor queira colocar um fim no seu relacionamento. Seguem cinco tipos de situações que é comum ver os casais vivendo, e que de alguma maneira acabam gerando grandes "desgastes" nas relações.

Acredite na fábula do amor eterno. Nossa cultura permeada por valores cristãos e construída sobre o ideal da monogamia, costuma incentivar a crença no amor eterno. No altar os casais juram ficarem um do lado do outro até que a morte os separem. Nada contra tal juramento, desde que não se acredite que o amor vai subsistir às tempestades sem que se faça algo para que ele possa ser fortalecido. Explico-me! Amor é comportamento operante. Todos sabemos que comportamentos operantes são mantidos se forem reforçados. Comportamento reforçado é comportamento mantido. O problema com a fábula do amor eterno é que ela leva as pessoas a pensarem: "se ele(a) me ama precisa me tolerar do jeito que sou!" Com isso a pessoa abre mão de buscar melhorias em seus próprios comportamentos. Pior do que isso, ela deixa de reforçar os comportamentos de amar do(a) parceiro(a) por acreditar que ele(a) é obrigado(a) a amá-la só porque fez o juramento de suportá-la até o fim de sua vida. Nada mais incoerente! Comportamento de amar que não é consistentemente reforçado pode se extinguir!

Um relacionamento não pode estar fundamentado em um juramento! Um relacionamento precisa estar fundamentado em práticas concretas. É necessário que os comportamento que expressem amor sejam reforçados. Amar não é uma obrigação que se coloca em prática em função de um juramento. Amar é comportar-se porque o comportamento é seguido de reforços. Se as pessoas entendessem que relacionamentos são feitos de comportamentos, certamente elas teriam maiores chances de serem felizes, pois se comportariam de modo a prover reforços para os comportamentos de amar do(a) parceiro(a).

Desrespeite a individualidade do(a) parceiro(a). Via de regra alguém casa com outro alguém diferente de si. Nem gêmeos idênticos são de fato idênticos. Podem possuir a mesma carga genética, mas são psicologicamente diferentes, portanto, possuem repertórios e tendências comportamentais bastante distintas. Numa relação é preciso respeitar a individualidade do parceiro. Outro valor de nossa cultura cristã e monogâmica é que os casais devem ser uma só carne. Muitos levam isso ao pé da letra e acham que devem compartilharem todos os seus momentos, ou seja, que devem fazer tudo juntos! Nada mais entediante e falacioso. É fácil combater tal argumento. Pessoas são diferentes, portanto, o que é reforçador para um pode não ser para o outro.

Então, os parceiros devem ter os seus momentos em que possam fazer coisas sozinhos.Se o cara gosta de futebol ele não precisa obrigar a esposa a acompanhá-lo nas peladas no clube. Às vezes ela não gosta de futebol, então não deve se sentir obrigada a acompanhá-lo, mas também deve tentar não impedi-lo de jogar com os amigos. O que muitas vezes acontece entre casais é que depois de casados eles abrem mão de prazeres que desfrutavam durante a vida de solteiro. É lógico que muita coisa muda com a vida de casado. No entanto, não se pode abrir mão de tudo. Pelos menos alguns dos prazeres, ou em outras palavras, ao menos algumas fontes de reforçamento precisam ser mantidas, sob pena de privar um dos parceiros de reforços importantes, o que gera frustração, e frustração acaba gerando raiva.

Não valorize a relação sexual. A história evolutiva nos tornou sensíveis aos reforços de origem sexual. É uma questão filogenética. A prática sexual foi importante para a sobrevivência da espécie humana. Ela contribuiu para o aumento da prole, mas também se transformou em importante fonte para a obtenção de prazer. Portanto, os reforços sexuais extraem seu poder da história evolutiva da espécie humana, sendo importantes reforçadores primários, ou seja, reforçadores de importância biológica. Disso conclui-se que sexo não deve ser feito apenas com um fim procriativo. Não somos animais. Fazemos sexo porque é prazeroso. Não valorizar a relação sexual é ignorar que ela pode ser uma interessante fonte de prazer para o casal, ou seja, que ela pode ser uma interessante fonte de reforços positivos. Ela também pode ser um momento em que o casal se encontra para aprofundar a sua intimidade, para aprofundar no conhecimento do corpo e dos sentimentos do(a) parceiro(a). Desvalorizar a relação sexual é ignorar que esta pode criar as contingências que possibilitam a construção deste tipo de conhecimento.

Logicamente existem pessoas que não conseguem viver a relação sexual em toda a sua plenitude, pois têm histórias de repressão sexual que as bloqueiam para o sexo. Neste caso é importante buscar ajuda profissional, pois a relação sexual pode acabar se transformando em fonte geradora de estímulos aversivos que produzem ansiedade, temor, entre outros sentimentos desconfortáveis.

Aja com indiferença. Dentro de um relacionamentos cada parceiro têm demandas diferentes. Se tornar indiferente a estas demandas pode ser prejudicial à relação. A indiferença se traduz pelo comportamento de não valorizar aquilo que o outro parceiro considera importante. Isso leva a suspensão de reforços condicionados importantes, tais como: afeto, carinho, atenção etc. Inevitavelmente a suspensão destes reforços vai colocar em extinção comportamentos de demonstração de amor por parte do parceiro. Se um dos parceiros esfria, isso acaba atingindo a outra parte, pois ela vai sentir a mudança de comportamentos. No entanto, esta outra parte pode não estar percebendo que o esfriamento do parceiro se deve à suspensão de importantes reforços condicionados. Então, um relacionamento é formado por comportamentos em constante interação. A emissão de um comportamento de uma das partes acaba afetando a outra parte e isso precisa ficar bem claro. Quase nunca um relacionamento se esfria por causa apenas de um dos parceiros. Mas, pode ser que o comportamento de um tenha mais peso do que o outro. No entanto, somente uma avaliação profissional pode identificar os pesos dos comportamentos dos parceiros dentro de uma relação.

Abuse do controle aversivo. Controle aversivo diz respeito ao uso de punição ou de ameaça de punição. Os subprodutos deste tipo de controle são inúmeros: ansiedade, tristeza, raiva, descontentamento, retraimento emocional e social etc. Há casais que não conseguem conversar, eles apenas berram, ou seja, só conversam para punirem a outra parte. Não observam a ocorrência dos comportamentos que beneficiam a relação e nem os reforçam. Mas quando um comportamento incômodo é manifestado logo vem a punição. Isso gera a seguinte impressão na parte punida: "ele(a) só repara em meus defeitos. Será que não tenho qualidades?" É preciso lembrar que o outro é diferente de mim, e ele nunca agirá como eu ajo. Alimentar este tipo de expectativa é criar condições para se frustrar, pois quando o outro não corresponde ao que eu espero, minha atitude é puni-lo por agir de modo não esperado. O outro pode reagir a punição exercendo contracontrole, então, cria-se as condições para que o conflito se estabeleça. Ainda que o outro não exerça contracontrole, ele inevitavelmente vai se afastando da fonte de punições e este afastamento acaba distanciando os parceiros e tornando mais escassos os reforços positivos na relação.

Dessas cinco dicas fica claro uma coisa: relações são o produto de contingências que surgem da interação entre os parceiros. A relação é produto da maneira como se comportam os parceiros. Mudanças na relação só ocorrem se houverem mudanças de comportamentos. Não há milagres! Sem mudanças comportamentais não há mudanças que se efetivem no interior da relação.

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terça-feira, 16 de abril de 2013

Textos, Contextos, Pretextos e Protestos


“Um texto fora do contexto vira pretexto para protestar.” Este ditado popular nos informa algo muito importante sobre a comunicação, um fenômeno tipicamente humano, pois só os homens possuem comportamento verbal, e com ele podem descrever as contingências que modelam os seus comportamentos e os comportamentos das pessoas com quem se relacionam. A questão é que nem sempre as descrições que são feitas das contingências são de fato fiéis a elas e isso leva a erros de percepção, ou melhor dizendo, levam a erros comportamentais, pois as pessoas podem agir com base em suas descrições e desconsiderarem as contingências de reforço.

O ditado também informa que o contexto de um texto ajuda a dar sentido à narrativa. Opa, narrativa é comportamento humano. Comportamentos humanos, verbais ou não, ocorrem em contextos, e estes contextos estabelecem com os comportamentos relações de causalidade, aumentando ou diminuindo suas probabilidades de ocorrência. Este tipo de relação de causalidade é conhecido como controle de estímulos. Isso significa que o comportamento, pelo menos no caso do comportamento operante, é causado pelas consequências que produz e pelos contextos em que ocorre. Esta teorização é a materialização da famosa contingência de reforço, conceito que indica que consequências e contextos exercem controle sobre o comportar-se.

Textos e contextos, outra forma de dizer: comportamento e controle de estímulos. Outra forma de dizer que entenderemos mais claramente um comportamento quando olharmos para os contextos em que ocorrem. Se a narrativa sobre um comportamento  descontextualiza-o do contexto em que ocorre, somos privados de informações importantes sobre as variáveis relacionadas à sua emissão, o que leva a enganos de percepção, pois podemos acreditar que alguém agiu de determinada forma quando na verdade os motivos são outros completamente diferentes.

Imagine que você convide uma pessoa para ir ao museu. Vocês passeiam pelas galerias durante horas sem que a pessoa emita nenhuma palavra. Você certamente acha estranho e pode pensar: “que pessoa antipática, não deu nenhuma opinião sobre nenhuma das obras que estavam em exposição”. Este é um julgamento, uma tentativa de explicar o comportamento de não emitir nenhuma palavra a respeito das obras expostas no museu. O problema deste julgamento é que ele não considera as contingências de reforço responsáveis pelo comportamento do convidado de passeio. Esta pessoa conhece alguma coisa sobre obras de arte? Imagine que você é um crítico de obras de arte e esta pessoa não saiba nada a respeito. Ela pode se sentir constrangida e evitar qualquer comentário por temer as críticas que podem ser feitas. Trata-se de um comportamento de esquiva que evita possíveis punições. Outra causa possível para o seu comportamento é não conhecer nada sobre obras de arte.


Se ela não conhece nada sobre obras de arte, não tem em seu repertório comportamentos apropriados para emitir qualquer tipo de comentário. Em outras palavras, o contexto “museus com suas obras de arte” não exerce nenhum controle especial sobre os comportamentos que constituem o seu repertório comportamental. Ora, como ela vai então emitir qualquer comportamento verbal a respeito das obras? O rótulo “antipático” adjetiva o comportamento do convidado especulando sobre as causas relacionadas à sua emissão. É uma descrição de contingências descontextualizada, que não leva em conta o controle do contexto sobre o comportamento. Se levado a sério, o rótulo pode ser tomado como verdade e daquele episódio em diante se transformar em pretexto para não convidar a pessoa para outros tipos de passeios, produzindo até mesmo um afastamento, pois ele sinaliza que aquela relação é aversiva ou pouca reforçadora. O rótulo age como estímulo discriminativo sinalizando a ocorrência de possíveis consequências aversivas.

Um pacifista e defensor dos direitos dos animais pode se rebelar ao ver alguém chutando um cachorro na rua. Pode mover um processo contra o agressor. Pode denunciá-lo às autoridades competentes. Enfim, pode fazer muitas outras coisas. A questão é que este pacifista pode ter visto apenas parte da cena. Às vezes o cachorro tenha avançado sobre a pessoa e num ato de autodefesa ela acabou chutando-o. Por ter visto apenas parte da cena o pacifista acabou descontextualizando o comportamento de chutar o cachorro do contexto em que ele ocorreu e transforma o que viu em motivo para a realização de um protesto sem medidas.

Os dois exemplos ensinam que devemos ter cuidado com o que vemos e com o que ouvimos. Sobretudo, eles nos ensinam que devemos ter cuidado com o que falamos. Será que o que falamos é fiel às contingências responsáveis pelos comportamentos das pessoas com quem nos relacionamos, ou procedemos de modo a descontextualizar o que as pessoas fazem para privilegiar apenas a nossa percepção da situação? Dependendo da resposta à pergunta corremos o risco de nos conscientizarmos de que somos tagarelas que criam pretextos para protestar por motivos tão pequenos e banais, transformando, assim, nossas relações em infernos existenciais.

Há outro ditado que diz que "boca fechada não entra mosquito." Melhor manter a boca fechada do que protestar sem motivos e correr o risco de engolir mosquitos!


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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Por que a Terapia Comportamental é Comportamental?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

É comum ouvirmos as pessoas dizerem: "a Terapia Comportamental dá muitos resultados em casos de fobias, principalmente as específicas." Que terapeuta comportamental nunca ouviu esta frase ou algo bem próximo disso? Se nunca ouviu não é terapeuta comportamental! Rs!!! Brincadeiras à parte, esta forma de pensar a terapia comportamental revela algo muito sério. Revela que as pessoas não sabem o que é a terapia comportamental. No imaginário coletivo a terapia comportamental é equivalente à aplicação de um conjunto de técnicas para a modificação do comportamento.

Nada mais enganoso do que achar que a terapia comportamental simplesmente se limita à aplicação de técnicas para a modificação de comportamentos. Uma determinada forma de conduzir o processo psicoterápico pode fazer uso de técnicas de modificação de comportamentos e mesmo assim não ser uma terapia comportamental, isso porque a terapia comportamental vai muito além da aplicação das técnicas pelas técnicas. As técnicas fazem parte do arsenal de intervenção em terapia comportamental, mas constituem apenas parte do setting clínico, e não constituem a parte mais importante. Isso mesmo, as técnicas de modificação de comportamentos não constituem a parte mais importante do setting clínico em terapia comportamental.

Então, vem a pergunta: o que faz com que a terapia comportamental mereça a denominação "comportamental"? De cara já sabemos que não é a simples aplicação das técnicas que fazem com que a terapia comportamental mereça tal denominação. É preciso entender que as técnicas são recursos para a realização de intervenções. Imagine um cientista que trabalha com tubos de ensaios e pipetas. Tubos de ensaios e pipetas fazem parte do arsenal que constitui o arranjo experimental sem o qual não seria possível o estudo de algumas reações químicas. Podem até ser parte do cenário que constitui este arranjo, mas não definem o que faz o profissional que estuda estas reações, neste caso o químico.

Seria muito grosseiro identificar o que faz o químico com a utilização de tubos de ensaios e pipetas. O que o químico faz vai muito além da utilização de tubos de vidro. Ele até precisa destes instrumentos para fazer a sua ciência, mas ela poderia muito bem ser construída sem eles. A comparação é válida para definir o que se faz na terapia comportamental. Técnicas de modificação do comportamento são análogas às pipetas e tubos de ensaio, mas não definem o que é a terapia comportamental. Como recursos para a realização de intervenções elas podem produzir modificações comportamentais. No entanto, estas modificações precisam estar ancoradas naquilo que é chamado de análise funcional do comportamento.

Somente com a análise funcional do comportamento o terapeuta tem condições de selecionar que comportamentos vão se tornar o alvo da intervenção e que contingências de reforço precisam ser modificadas para que os comportamentos sejam alterados. Isto joga por terra a crítica de que a terapia comportamental não consegue elucidar quais são os significados por trás de cada tipo de conduta. A terapia comportamental não faz outra coisa que não seja tornar claro quais são estes significados. Quando é elucidada qual é a função de um comportamento, ou seja, que variáveis estão relacionadas à sua ocorrência, estão sendo esclarecidos os seus significados, os motivos que fazem com que ele ocorra desta e não daquela forma.

O que faz com que a terapia comportamental mereça a denominação "comportamental", são os procedimentos analíticos que permitem uma análise minuciosa das contingências de reforço relacionadas à ocorrência dos comportamentos clinicamente relevantes. Estes procedimentos incluem a análise do comportamento, de suas consequências, dos contextos em que ocorre e dos esquemas relacionados às formas como as consequências seguem os comportamentos por elas mantidos. Há esquemas que produzem comportamentos resistentes à extinção, enquanto que outros produzem comportamentos menos vigorosos e facilmente extinguíveis.

Se todas as variáveis citadas forem levadas em consideração, dificilmente o comportamento modificado voltará a se manifestar, o que joga por terra outra crítica dirigida à terapia comportamental, de que nesta modalidade de terapia não há mudanças significativas, pois são abordadas apenas as manifestações sintomáticas. Em outras palavras, é dito por aí que a terapia comportamental lida apenas com sintomas. Esta clássica visão do comportamento como sintoma de processos mentais é descartada pela terapia comportamental.

O comportamento é produto de contingências de reforço. Ele também é produto de contingências filogenéticas e culturais, mas estas não estão ao alcance do trabalho terapêutico. Ele não é produto de processos mentais. Se as contingências de reforço forem efetivamente modificadas o comportamento também será. Então, não há probabilidade de ocorrerem novas manifestações sintomáticas, ou seja, de que o comportamento modificado volte a ser fonte de problemas.

Portanto, o que torna a terapia comportamental uma modalidade de intervenção psicoterápica que mereça a denominação "comportamental" são todos os procedimentos relacionados à analise e modificação dos comportamentos clinicamente relevantes. Não há modificação efetiva de comportamentos sem uma análise minuciosa das contingências de reforço. As modificações até podem ser alcançadas, mas sem uma análise das contingências de reforço elas não serão duradouras.

E você, entendeu o que é a terapia comportamental? Deixe os seus comentários sobre o texto nos campos destinados para este fim.

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Curso online de Psicologia Clínica e Terapia Cognitivo-Comportamental

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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Metamorfoses

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Há não muito tempo vi na foto de capa do facebook de alguém uma foto de um milho de pipoca e do lado do milho uma pipoca. Logo abaixo estava escrito que grandes mudanças ocorrem de dentro para fora. A imagem você pode ver aí ao lado. Fiquei pensando sobre o assunto e me perguntei: "o Behaviorismo Radical concorda com esta afirmação?" Se ela estiver se referindo a possibilidade de que mudanças são originadas por um eu interior, o Behaviorismo Radical vai discordar diametralmente.

Mas mesmo sabendo a posição do Behaviorismo Radical com relação a este tema, confesso que continuei encantado com a metáfora do milho que quando aquecido se transforma em pipoca. Muita gente gosta de usar essa historinha da pipoca para justificar que é dentro do organismo que se processam as mudanças que se fazem visíveis em seu exterior. No entanto, poucos são os que param para pensar que para o milho se transformar em pipoca precisam existir algumas condições:

1. É necessário um fogão com uma panela, ou um microondas e um pacote de pipoca de microondas;
2. A panela precisa ser aquecida com um pouco de óleo em um fogão, o mesmo é válido para o pacote de pipoca, mas este é aquecido no microondas;
3. É preciso existir alguém para controlar o ponto de estouro das pipocas, pois elas podem se queimar ou se transformarem em piruá. Aqui em Minas Gerais piruá é o milho de pipoca que não estourou.

Sem as condições 1, 2 e 3 não há pipocas. Simples assim! A mudança não está no interior do milho. O milho pode até reunir as características genéticas para se transformar em pipoca. Isso é fato! Mas estas características de nada adiantariam se as condições 1, 2 e 3 não fossem atendidas. Penso que o leitor já deva estar capitando a minha mensagem. O que são as condições 1, 2 e 3? Estas se referem às contingências de reforço. Elementar meu caro Watson!

Se alguma coisa ocorre dentro do organismo como as mudanças fisiológicas, e se estas são descritas como a emoção "x" ou "y", é porque houveram contingências de reforço que possibilitaram a ocorrência destas mudanças. Antes que me acusem de desconsiderar as contingências filogenéticas, trato de adiantar que elas também têm um papel em tudo isso. Mas como isso é quase uma obviedade, não entrarei no mérito da questão.

O que quero que fique claro é que o que é sentido é produto das contingências de reforço da mesma forma que o comportamento também o é. Se não houvesse fogo todo o potencial genético do milho não entraria em ação e ele não se transformaria em pipoca. Então, o que de fato é relevante são as condições que possibilitam a manifestação deste potencial. Transpondo a metáfora para o caso humano de modo que possamos explicar porque nos comportamos assim ou assado, o que é relevante é identificar as contingências que produzem tanto o que é sentido quanto aquilo que fazemos enquanto nos sentimos desta ou daquela maneira.

Portanto, a origem das mudanças não estão no interior do organismo, mas nas condições que afetam o seu comportar-se. Estas condições também afetam o que sentimentos, pois os sentimentos também são comportamentos. Clique aqui para ser direcionado para outros textos em que o comportamento emocional é debatido com mais detalhes. Se é comum tomarmos sentimentos como exemplos de causas de comportamentos, é porque geralmente eles ocorrem enquanto nos comportamentos, próximos ou antes de nos comportarmos. A proximidade temporal entre o sentir e o agir acaba gerando toda esta confusão.

Por conseguinte, para que os comportamentos se modifiquem e as metamorfoses possam operar, não são os sentimentos que precisam ser alterados. Qualquer mudança é produto em modificações que se processam nas contingências de reforço. Alterando as contingências alteramos comportamentos e sentimentos. Então, sempre que alguém te contar a história da pipoca, lembre-se de olhar para as contingências responsáveis pela transformação do milho. Agindo assim você aumenta as chances de olhar para as contingências que operam em sua vida. Não se esqueça, as metamorfoses estão nas contingências!

Vixe, termino este post com vontade de comer pipoca! Rs!!! E você, o que achou do texto? Poste seu comentário abaixo.

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domingo, 10 de março de 2013

"É Preciso Saber Viver": uma análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

A música de Roberto Carlose e Erasmo Carlos "É Preciso Saber Viver" tem uma mensagem linda. Neste texto propomos uma análise comportamental de sua letra, e desta análise esperamos sinceramente que as contingências que a música descreve se transformem para todos nós em alvo de reflexão, pois em dias tão atribulados como os que vivemos, muitas são as pessoas que não estão sabendo viver e desfrutar dos pequenos prazeres que a vida pode nos proporcionar. Isso ocorre porque em muitas ocasiões estamos ocupados demais correndo atrás de ilusões que não nos deixam sentir e viver em todas as matizes esses pequenos prazeres.

"Quem espera que a vida / Seja feita de ilusão / Pode até ficar maluco / Ou morrer na solidão / É preciso ter cuidado / Pra mais tarde não sofrer / É preciso saber viver". "É preciso ter cuidado para mais tarde não sofrer", eis aí a essência do comportamento operante. O que fazemos no presente é seguido de consequências. Estas consequências modelam ao mesmo tempo as topografias e as funcionalidades de nossos comportamentos, gerando, assim, propensões para agir de diferentes modos. Estas propensões se manifestam em condições semelhantes em que o comportamento foi modelado, o que revela a ação do contexto sobre o comportar-se, algo que é tecnicamente chamado de controle de estímulos.

Sendo assim, o que fazemos no presente será determinante no tocante à forma como nos comportaremos no futuro. Conscientizar-se das condições que podem afetar nossos comportamentos no presente, é uma forma de aumentar no futuro a margem de controle sobre as circunstâncias relacionadas às nossas propensões de agir desta ou daquela maneira. Isso pode potencializar as chances de que reforços positivos sejam produzidos e contingências de controle aversivo sejam mitigadas. O conhecimento a respeito de nós mesmos é primeiro passo rumo a uma vida mais feliz!

"Quem espera que a vida / Seja feita de ilusão". Muitos são os que sofrem porque encontram na fantasia, ou melhor dizendo, encontram no comportamento de fantasiar seu único refúgio. Quem é que não fantasia? Certamente todos nós vez ou outra nos refugiamos em nosso mundinho de fantasia, e como nesse mundinho os reforços positivos ocorrem em abundância! Isso é normal e saudável, desde que não façamos deste comportamento a nossa única via para a obtenção de reforços positivos.Uma perda de contato com a realidade minimiza as chances de conseguirmos transformá-la de modo que os reforços possam ocorrer de verdade. Mais cedo ou mais tarde a perda de contato com a realidade acaba ocasionando sofrimento, pois as chances reais para sermos felizes inevitavelmente são perdidas. Há até quem se sinta maluco quando isso acontece: "Pode até ficar maluco / Ou morrer na solidão." Fica maluco de frustração por ver que reforços que poderiam ser obtidos, deixam de ocorrer por medo de se encarar a realidade.

"Toda pedra do caminho / Você pode retirar / Numa flor que tem espinhos / Você pode se arranhar / Se o bem e o mal existem / Você pode escolher / É preciso saber viver." "Toda pedra do caminho / Você pode retirar": obstáculos fazem parte da vida. Não há vida sem algum controle aversivo, não há vida sem que às vezes ocorra alguma punição. A questão é saber se as punições estão sendo geradas pelo nossos comportamentos. Se sim, é hora de nos questionarmos: posso evitar certos cursos de ação? Isso é auto-conhecimento, ou seja, a descrição das contingências que estão relacionadas aos nossos cursos de ações, gera um tipo de conhecimento que pode ser utilizado para modificá-las, ou melhor dizendo, gera um tipo de comportamento que possibilita o melhor controle de outros comportamentos de nossos repertórios.

Esse melhor controle nos dá mais condições para retirar as pedras do caminho. Nos dá também melhores condições para entender que nem tudo que é belo quer dizer que é bom. Uma rosa pode ser bela, mas tem espinhos que podem nos arranhar. É preciso saber manusear uma rosa, como também é preciso saber manusear as contingências de reforço responsáveis pelos nossos comportamentos. Pode parecer bonito, por exemplo, se embebedar com os amigos, mas este comportamento tem consequências que produz a possibilidade de que arranhões irreparáveis sejam gerados. Saber se divertir, até isso envolve auto-conhecimento. Temos que nos perguntar: quais são os meus limites? Também podemos nos arranhar aos nos relacionarmos com as pessoas, mas isso não é motivo para transformar a vida em um muro das lamentações. Devemos escolher para o nosso círculo de convivência pessoas que nos fazem bem. Não somos obrigados a nos relacionarmos com pessoas desagradáveis.

"Se o bem e o mal existem / Você pode escolher." Muitas vezes nos encontramos em situações de conflito sem saber que tipo de decisão tomar. Escolheremos melhor se conhecermos as consequências que cada escolha pode produzir. Conhecendo as contingências relacionadas aos nossos comportamentos, podemos aumentar a probabilidade de ocorrência daqueles cursos de ações que produzem reforços positivos. Da mesma forma podemos evitar o controle aversivo relacionados a outras formas de agir. Certo é, que tudo isso só é possível com uma boa dose de auto-conhecimento.

Portanto, o que a música nos ensina, é que o auto-conhecimento é o ponto de partida para poder saber viver. Sem auto-conhecimento vamos continuar desperdiçando boas chances para sermos felizes. Continuaremos a reclamar, transformando, assim, a vida em um grande muro das lamentações! E você, se conhece bem o suficiente para aproveitar as chances de ser feliz que a vida tem te dado? Agora que terminou de ler o texto, curta a música na versão do Titãs:


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