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terça-feira, 10 de junho de 2014

Cão de Briga: do controle coercitivo ao reforçamento positivo

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O filme Cão de Briga não é um daqueles filmes que têm um roteiro brilhante, mas estimula-nos a pensar sobre os processos relacionados com a determinação do comportamento humano. Quando falamos de comportamento humano, inevitavelmente, estamos falando de comportamento operante, isso porque a maior parte dos comportamentos que constituem nossos repertórios comportamentais fazem parte desta classe de comportamentos que chamamos operantes. Clique aqui caso você queira saber um pouco mais sobre o comportamento operante.

O filme "Cão de Briga" pode ser analisado a partir de duas perspectivas: de uma perspectiva mais poética ou de uma perspectiva mais técnica. De uma perspectiva mais poética diríamos que o amor tudo transforma, mas incorreríamos no erro de analisar a determinação do comportamento conforme o senso comum e insistir na tese de que ele é um produto das emoções. Pelo conhecimento que a análise experimental do comportamento já acumulo até o momento, não há nada mais falacioso do que afirmar que o comportamento é um produto das emoções. Emoções são comportamentos como quaisquer outros comportamentos. Clique aqui se você quiser saber um pouco sobre como as emoções são analisadas a partir da perspectiva do Behaviorismo Radical.

Nosso interesse aqui é analisar o filme de uma perspectiva mais técnica. Mas não abandonaremos a premissa de que o amor tudo transforma, desde que amor seja entendido como um conjunto de disposições comportamentais modeladas a partir de contingências de reforço em que o reforçamento positivo seja predominante. Sendo assim, ser tocado pelo amor e ser por ele transformado é o mesmo que ser exposto a contingências de reforçamento positivo e sofrer as ações destas contingências. Quando amamos alguém é mais do que lógico que queiramos estar do lado da pessoa amada, pois os seus comportamentos são para nós fontes abundantes de reforçamento positivo.

Talvez seja por aqui que devemos iniciar a análise dos comportamentos do personagem principal: Danny (Jet Li). A grande lição que fica do filme Cão de Briga é que quando bem aplicados os reforços positivos podem modelar comportamentos que aumentam as chances de sucesso na interação do sujeito com o mundo ao seu redor. Já o controle coercitivo pode diminuir as chances de sucesso e produzir efeitos colaterais bastante nocivos. Saiba mais sobre o controle coercitivo clicando aqui. Você também pode clicar aqui.

As mudanças comportamentais observadas em Danny são produtos das mudanças que ocorreram nas contingências de reforçamento que modelaram os seus comportamentos. Danny fora criado pelo seu "tio Barty" (Bob Hoskins), um mafioso e agiota que usava a força bruta (espancamento e ameaças de espancamento) para cobrar a dívida daqueles que lhe deviam dinheiro. Danny era o "instrumento" utilizado por Barty para espancar os seus devedores quando eles ameaçavam não pagar.

Na verdade Barty não era tio de Danny. Barty criou Danny desde criança quando a sua mãe fora brutalmente assassinada em sua frente pelo mafioso. Barty criou Danny como se fosse um cachorro, sendo "adestrado" para atacar e matar. É relevante salientar que Danny chegava a usar uma coleira. Quando Barty queria que Danny atacasse ele tirava a coleira e dizia: "pega". Danny partia para cima do seu alvo e o espancava até que Barty mandasse parar. Para Danny não haviam alternativas, ou ele atacava ou era severamente punido por Barty. O comportamento de atacar era mantido por reforçamento negativo.

Danny vivia literalmente como um cão. Tinha um repertório de socialização e verbalizações muito limitado. Ele também comia com as mãos e não tinha hábitos de higiene pessoal. Era quase um autista. O uso de controle coercitivo gera produtos colaterais nefastos que interferem na aprendizagem de comportamentos mais úteis. Uma criança severamente punida na escola possivelmente apresentará problemas de aprendizagem. Ela passará a maior parte do tempo tentando fugir ou se esquivar das punições, e esses comportamentos vão interferir com os comportamentos de aprender, vão com eles se incompatibilizarem. Dificilmente ela conseguirá ao mesmo tempo aprender matemática e fugir das punições. Ou a criança faz uma coisa ou se dedica a outra. Esta análise pode ser estendida a Danny. Severamente punido por Barty, o controle coercitivo produziu efeitos nocivos que dificultaram na aprendizagem de comportamentos mais úteis.

Por um acaso do destino tudo se modifica quando Danny tem a oportunidade de conhecer a família de Sam (Morgan Freeman) e Victoria (Kerry Condon). Não entraremos aqui nos meandros de como esse acaso do destino se processou, assistam ao filme e descubram. Com Sam e Victoria Danny teve uma das primeiras oportunidades em sua vida de ter acesso a fontes de reforçamento positivo. Sua vida é transformada ao desfrutar desta possibilidade. Sam e Victoria acolheram Danny. Habilidosamente ofereceram carinho e atenção para cada iniciativa demonstrada por Danny no sentido de tentar estabelecer episódios de interação social. A princípio não questionaram a respeito do seu nome e nem muito menos a respeito da coleira que usava.

Quando o ambiente se tornara suficientemente confortável é que Victoria retirou a coleira de Danny. A esta altura Danny já percebera que não tinha mais do que fugir ou se esquivar, pois naquele ambiente não existiam punições. Naquele ambiente a coleira não sinalizava a possibilidade de ser punido, pois não existiam agente punidores. Aos poucos a coleira vai perdendo a sua função de estímulo discriminativo que sinalizava a possibilidade de ser submetido a punições. Naquele ambiente Danny fizera uma descoberta formidável, algo que sinalizava reforços positivos de um passado longínquo: a música e o piano.

Victoria tocava pianos e Sam era um afinador de pianos. Sam descobrira que Danny gostava de pianos. Depois de diversas idas e vindas na história do filme, com o retorno do "tio Barty" e outros contratempos, Sam e Victoria ajudaram Danny a se lembrar de seu passado. A mãe de Danny também tocava pianos e fora assassinada porque não conseguiu saldar sua dívida com Barty. O dinheiro havia sido utilizado pela mãe de Danny para pagar as mensalidades da faculdade de música. Piano para Danny era um estímulo discriminativo que sinalizava os reforços positivos proporcionados pela mãe. Os comportamentos de se lembrar do passado foram suscitados pela mudança nos estímulos discriminativos, ou usando uma linguagem um pouco mais técnica, foram suscitados pela mudança no controle de estímulos.

O que fica da história do filme "Cão de Briga"? Que entre usar controle coercitivo e reforçamento positivo é melhor usar reforçamento positivo. O reforçamento positivo evita os contratempos produzidos pelo uso do controle coercitivo e aumenta as chances de sucesso na interação do sujeito com o mundo ao seu redor. Coerção não é a melhor opção. Seus efeitos são drásticos, e vão desde o aniquilamento da saúde do indivíduo punido até a sua insurreição contra o agente punidor. Nem mesmo o agente punidor escapa dos efeitos da punição, pois a revolta é sempre uma reação que pode acontecer a qualquer instante, que o diga o nosso personagem Danny que no final do filme se voltou contra o seu tio Barty. Assistam ao filme e voltem para conversarmos...


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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Amizades fazem bem para a saúde

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Um estudo que vem sendo conduzido por cientistas da Universidade de Harvard nos EUA desde 1937, tem demonstrado que a amizade é algo extremamente importante para se ter qualidade de vida. De acordo com o estudo ter laços fortes de amizade pode aumentar a vida em até 10 anos e prevenir uma série de doenças, isso porque os laços de amizade contribuem para a produção de um hormônio chamado ocitocina. Este hormônio tem efeito contrário ao efeito provocado pela adrenalina. Enquanto a adrenalina aumenta os níveis de estresse do organismo, a ocitocina diminui os batimentos cardíacos e a pressão arterial, diminuindo, assim, a probabilidade de ocorrência de derrames e problemas cardíacos. Clique aqui para acessar a reportagem sobre o estudo.

O estudo demonstra algo muito importante: o tipo de relação que estabelecemos com o mundo ao nosso entorno é determinante para a saúde do nosso organismo. Em outras palavras, o que fazemos afeta a forma como nosso organismo funciona, estimulando certas funções e inibindo outras. Este achado é importante tanto de um ponto de vista médico, quanto de um ponto de vista comportamental, pois demonstra que nossos comportamentos afetam a nossa vida. Somos produtos das interações que estabelecemos com o mundo, seja de um ponto de vista médico ou de um ponto de vista comportamental, e esta interação, este intercâmbio é estabelecido através dos nossos comportamentos.


Portanto, entender o comportamento e suas leis é fundamental para a construção de uma vida mais saudável. Imaginemos uma pessoa com um déficit de habilidades sociais, ou seja, uma pessoa que não tem em seu repertório comportamentos que permitam estabelecer relações com outras pessoas. Esta pessoa pode sofrer por não conseguir interagir, como pode também está susceptível, de acordo, com o estudo citado ao desenvolvimento de certas doenças. O que pode ser feito por ela? Pode se programar contingências de reforço que possibilitem a expansão do seu repertório de habilidades sociais. Lógico que tal programação precisa estar fundamentada numa boa análise funcional do repertório de comportamentos da pessoa de nosso exemplo hipotético.

O que mais o estudo demonstra? Ele deixa claro como contingências de reforçamento positivo podem não somente modelar comportamentos de interação social, comportamentos que possibilitem interações de maior qualidade, como podem melhorar a saúde do organismo estimulando a produção de certas substâncias como a ocitocina. Isso demonstra como as contingências de reforço modificam não somente o comportamento. Elas também modificam o organismo.

A dica é expandirmos nossa rede de contatos sociais. Expandindo nossa rede de contatos sociais aumentamos a probabilidade de nos expormos com mais frequência a contingências de reforçamento positivo. Estas contingências aumentarão nossos padrões de qualidade de vida, e nosso organismo agradece por isso.

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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Casal emagrece junto: refletindo sobre contingências de reforçamento positivo

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Olhem a chamada de uma reportagem que encontrei na internet: “Casal engordou junto porque costumava abusar de comidas calóricas. Ela já eliminou mais de 30 kg, e os dois agora se exercitam juntos.” Clique aqui para ler a reportagem na íntegra. Em resumo, uma jovem precisava emagrecer, e para incentivá-la o namorado resolveu mudar junto com ela seus hábitos alimentares.

Ambos mudaram seus hábitos alimentares e começarem a se exercitarem, atingindo desta forma o objetivo que se proporam: o emagrecimento. Este é um caso que demonstra perfeitamente que comportamento é relação, não porque o casal emagreceu junto, mas porque alterações no ambiente, nas contingências de reforço produziram mudanças nos comportamentos alimentares do casal, e estas mudanças levaram ao emagrecimento.


A primeira mudança significativa foi a de conseguir um fator motivador para o emagrecimento da namorada. Para isso o namorado se propôs fazer junto com ela exercícios e mudanças na forma de comer. Este comportamento do namorado sinalizou: “estou junto com você nesta empreitada”. Trata-se de um estímulo discriminativo sinalizando a possibilidade de reforçamento positivo.


O comportamento do namorado criou uma contingência que favoreceu a motivação para emagrecer por parte da namorada. Certamente a cada quilo perdido o namorado consequenciava os comportamentos de continuar buscando o emagrecimento da namorada com reforço positivo. Por outro lado, a cada quilo que ele perdia a namorada podia ver que a mudança estava surtindo efeito. Ela via os efeitos da mudança em si e no namorado. Vejam o poder das contingências de refoçamento  positivo quando o reforço é utilizado para reforçar os comportamentos corretos.

O reforço também pode ser utilizado para consequenciar (seguir) comportamentos cujos resultados podem trazer malefícios à saúde. Basta olhar a vida deles antes do propósito da mudança. A comida era um reforçador positivo que fortalecia hábitos alimentares bastante inadequados. Eis uma prova de que reforço positivo nem sempre produz resultados assim tão positivos.

O problema superado por este casal é um problema enfrentado por muitas pessoas no mundo: a obesidade. Na pré-história da humanidade o “comer” era uma questão de sobrevivência, por isso trazemos em nós a susceptibilidade para termos muitos de nossos comportamentos reforçados com comida. Comida é um reforçador incondicionado em potencial. A questão é que o mundo mudou, e não temos que sair para caçar. Agora a comida está acessível, pode ser adquirida com muita facilidade, e isso é uma grande tentação, ou seja, isso cria contingências de reforço que aumentam a probabilidade dos comportamentos de comer.


Na pré-história o Homem comia muito, mas por outro lado queimava todo o excesso calórico na caça, nos cuidados da prole, no êxodo entre uma região e outra em busca de comida e proteção etc. O homem moderno tem comida em fartura, e não precisa mais sair de um lugar para o outro buscando proteção e alimentos. Os reforços positivos estão nas prateleiras, são noticiados nos meios de comunicação, e por isso a obesidade se tornou um grande problema. O Homem continua comendo muito, pois comer é altamente reforçador, no entanto, não queima os excessos calóricos, uma vez que sua vida é bastante sedentária. O resultado disso é obesidade, diabetes, enfartos etc.


Trata-se de contingências-armadilhas: contingências imediatas que provêm reforçamento imediato versus contingências postergadas que sinalizam com possibilidade de controle aversivo. O resultado é que as contingências imediatas geralmente se sobrepõem sobre as contingências postergadas, e quem perde com isso somos nós, e possivelmente toda a humanidade, pois se nada for feito estaremos deixando para as próximas gerações um péssimo legado. Tratei destas contingências no post que fala sobre o hábito de fumar. Clique aqui para ir para o post mencionado.

Parabéns ao casal, pois souberam modificar as contingências responsáveis por seus comportamentos alimentares! Fica aí o exemplo para que possamos fazer o mesmo... Aff, mas nem pensemos que vai ser fácil, pois na verdade não será. Até que antigos hábitos alimentares entrem em extinção uma dose de sofrimento certamente ocorrerá. A dica é investir em outros lazeres que não sejam somente o comer, pois substituímos um comportamento por outro e nossa saúde agradece.

E quem viu as fotos acima tem que concordar que valeu a pena as mudanças conseguidas pelo casal... Rs!!!



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