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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Do Que Você Tem Medo?: uma análise comportamental das reações fóbicas

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Fobia vem do grego Fobos. Para os gregos Fobos era filho de Ares. Na Mitologia Grega Ares é o deus da guerra e Fobos é a personificação do medo e do terror. Fobos era levado pelo pai para as guerras para aterrorizar e afugentar os inimigos. Se Fobos é a personificação do terror, a fobia, seria, então, um tipo de reação emocional marcada exclusivamente pelo medo.

Na fobia o medo é o ator principal e também o plano de fundo, sendo usado como critério para identificá-la. Geralmente quatro condições devem ser satisfeitas para caracterizar uma fobia: 1) A ocorrência de um medo intenso; 2) O medo estar relacionado com uma situação específica; 3) O medo criar a condição para a fuga da situação responsável por sua ocorrência; 4) O medo ser acompanhado por alterações fisiológicas como a taquicardia, a sudorese, o tremor, as vertigens etc.

O Analista do Comportamento olharia com suspeitas para as condições enumeradas. Em primeiro lugar, ele não entenderia a fobia como ela normalmente é entendida. Nas abordagens psicodinâmicas, aquelas que compreendem o comportamento como o produto do funcionamento de um aparelho mental, uma fobia seria a expressão de conflitos inconscientes. A cura ocorreria pela identificação destes conflitos, que por sua vez promoveria uma catarse, ou seja, uma descarga emocional que colocaria fim ao desgaste energético gerado pelos próprios conflitos. Neste sentindo, a fobia seria uma espécie de patologia mental.

O Analista do Comportamento assumiria uma posição bastante distinta. Para ele uma fobia não é uma doença. Aliás, é bom que se diga que ele suspeitaria não somente da fobia enquanto manifestação psicopatológica, como também entenderia que o termo "fobia" serve ao único propósito de descrever a topografia de alguns comportamentos que ocorrem enquanto a pessoa está sentindo um medo intenso, medo que notoriamente está relacionado à exposição a certas contingências de reforço. Isso significa que a descrição é insuficiente, pois ela não revela a funcionalidade do comportamento, ou seja, ela não revela os motivos que produzem o medo e nem como a sua ocorrência está relacionada a circunstâncias bastante específicas.

O Analista do Comportamento seria ainda mais criterioso. Ele não assumiria o medo como a causa da fuga. O medo e a fuga são causados pelas mesmas circunstâncias. O que nelas existe para provocar o medo e a fuga é a presença de controle coercitivo. Como o controle coercitivo assumiu o poder de gerar o medo e de produzir a fuga é algo que se deve investigar na história de reforçamento do indivíduo que sente medo e também foge. Cai, portanto, por terra, o terceiro critério para a caracterização de uma fobia: "O medo criar a condição para a fuga da situação responsável por sua ocorrência". O medo não é a causa da fuga. Ele é tão produto quanto o comportamento de fugir da situação temida. Emoções não são causas de comportamento. Emoção também é comportamento. Isso já foi longamente trabalhado em outras postagens, basta clicar aqui para acessá-las.

O Analista do Comportamento também derrubaria a condição de número quatro, pois o medo é um exemplo de comportamento emocional, o que significa que ele não é marcado apenas pelo aparecimento de respostas reflexas produzidas a partir de condicionamento respondente: taquicardia, tremor, sudorese etc. Ele também é marcado pela ocorrência de consequências que alteram a frequência com que ocorre, o que o caracteriza como comportamento operante. A consequência é manter afastada a situação temida. Sempre que exposto à situação temida o sujeito foge. Fugir é um exemplo de comportamento mantido por reforçamento negativo.

Portanto, a fobia não é uma doença. A fobia é um conjunto de comportamentos que envolve a fuga de uma situação temida. A situação temida é fonte de controle aversivo. O que a fuga faz é afastar os estímulos aversivos. Mas quanto mais o sujeito foge ou mesmo evita a situação temida, mais ele diminui as chances de que o medo enquanto comportamento emocional seja colocado em extinção. É aí que entra a análise funcional. Ela revelará a frequência com que o medo ocorre, que estímulos aumentam as chances dele ocorrer e, que, sobretudo, estabelecem a ocasião para o comportamento de fugir. Feito isso, podem ser planejadas intervenções que tenham como tônica a exposição do sujeito às situações relacionadas com o medo e com a fuga.

Está exposição contribui para que seja rompido o pareamento de estímulos estabelecido por meio de condicionamento respondente. Lembram-se do cão de Pavlov? Quando Pavlov apresentou o som sem que ele fosse associado com a comida, o que acabou acontecendo? O som perdeu a sua função de eliciar a resposta de salivação. A situação temida é o estímulo condicionado que provoca as respostas reflexas que constituem a dimensão respondente do medo: taquicardia, sudorese, tremor, desarranjo gastrointestinal etc. A exposição planejada ao estímulo condicionado diminuirá o mal estar provocado por todas estas respostas reflexas, pois este estímulo sofrerá uma extinção gradual, perdendo, assim, sua função de provocar as respostas enumeradas.

Algo novo ocorre quando o mal estar é minimizado. O sujeito diz para si mesmo: "sou capaz de enfrentar esta situação". Ele produz uma regra que sustentará o comportamento de enfrentamento da situação temida. Essa regra descreve as contingências de uma nova forma: "não preciso ter medo de enfrentar esta situação". As regras anteriores diziam: "tenho medo desta situação, não consigo enfrentá-la". O sujeito passa a descrever as contingências de reforçamento de um modo diferente, e nesta descrição os estímulos aversivos perdem o seu lugar de destaque. Caem por terra as antigas regras, aquelas que faziam com que a situação parecesse temerosa.

Portanto, numa análise comportamental, o que interessa é identificar as contingências que modelaram e que fazem a manutenção dos comportamentos fóbicos, comportamentos que envolvem as dimensões respondentes e operantes do medo. Isso é o mesmo que submeter a fobia a uma análise funcional, análise que fornecerá os parâmetros para a construção de intervenções que coloquem em extinção o comportamento de fugir das situações temidas, e ao mesmo tempo terminem o mal estar produzido por estas situações.


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terça-feira, 10 de junho de 2014

Cão de Briga: do controle coercitivo ao reforçamento positivo

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

O filme Cão de Briga não é um daqueles filmes que têm um roteiro brilhante, mas estimula-nos a pensar sobre os processos relacionados com a determinação do comportamento humano. Quando falamos de comportamento humano, inevitavelmente, estamos falando de comportamento operante, isso porque a maior parte dos comportamentos que constituem nossos repertórios comportamentais fazem parte desta classe de comportamentos que chamamos operantes. Clique aqui caso você queira saber um pouco mais sobre o comportamento operante.

O filme "Cão de Briga" pode ser analisado a partir de duas perspectivas: de uma perspectiva mais poética ou de uma perspectiva mais técnica. De uma perspectiva mais poética diríamos que o amor tudo transforma, mas incorreríamos no erro de analisar a determinação do comportamento conforme o senso comum e insistir na tese de que ele é um produto das emoções. Pelo conhecimento que a análise experimental do comportamento já acumulo até o momento, não há nada mais falacioso do que afirmar que o comportamento é um produto das emoções. Emoções são comportamentos como quaisquer outros comportamentos. Clique aqui se você quiser saber um pouco sobre como as emoções são analisadas a partir da perspectiva do Behaviorismo Radical.

Nosso interesse aqui é analisar o filme de uma perspectiva mais técnica. Mas não abandonaremos a premissa de que o amor tudo transforma, desde que amor seja entendido como um conjunto de disposições comportamentais modeladas a partir de contingências de reforço em que o reforçamento positivo seja predominante. Sendo assim, ser tocado pelo amor e ser por ele transformado é o mesmo que ser exposto a contingências de reforçamento positivo e sofrer as ações destas contingências. Quando amamos alguém é mais do que lógico que queiramos estar do lado da pessoa amada, pois os seus comportamentos são para nós fontes abundantes de reforçamento positivo.

Talvez seja por aqui que devemos iniciar a análise dos comportamentos do personagem principal: Danny (Jet Li). A grande lição que fica do filme Cão de Briga é que quando bem aplicados os reforços positivos podem modelar comportamentos que aumentam as chances de sucesso na interação do sujeito com o mundo ao seu redor. Já o controle coercitivo pode diminuir as chances de sucesso e produzir efeitos colaterais bastante nocivos. Saiba mais sobre o controle coercitivo clicando aqui. Você também pode clicar aqui.

As mudanças comportamentais observadas em Danny são produtos das mudanças que ocorreram nas contingências de reforçamento que modelaram os seus comportamentos. Danny fora criado pelo seu "tio Barty" (Bob Hoskins), um mafioso e agiota que usava a força bruta (espancamento e ameaças de espancamento) para cobrar a dívida daqueles que lhe deviam dinheiro. Danny era o "instrumento" utilizado por Barty para espancar os seus devedores quando eles ameaçavam não pagar.

Na verdade Barty não era tio de Danny. Barty criou Danny desde criança quando a sua mãe fora brutalmente assassinada em sua frente pelo mafioso. Barty criou Danny como se fosse um cachorro, sendo "adestrado" para atacar e matar. É relevante salientar que Danny chegava a usar uma coleira. Quando Barty queria que Danny atacasse ele tirava a coleira e dizia: "pega". Danny partia para cima do seu alvo e o espancava até que Barty mandasse parar. Para Danny não haviam alternativas, ou ele atacava ou era severamente punido por Barty. O comportamento de atacar era mantido por reforçamento negativo.

Danny vivia literalmente como um cão. Tinha um repertório de socialização e verbalizações muito limitado. Ele também comia com as mãos e não tinha hábitos de higiene pessoal. Era quase um autista. O uso de controle coercitivo gera produtos colaterais nefastos que interferem na aprendizagem de comportamentos mais úteis. Uma criança severamente punida na escola possivelmente apresentará problemas de aprendizagem. Ela passará a maior parte do tempo tentando fugir ou se esquivar das punições, e esses comportamentos vão interferir com os comportamentos de aprender, vão com eles se incompatibilizarem. Dificilmente ela conseguirá ao mesmo tempo aprender matemática e fugir das punições. Ou a criança faz uma coisa ou se dedica a outra. Esta análise pode ser estendida a Danny. Severamente punido por Barty, o controle coercitivo produziu efeitos nocivos que dificultaram na aprendizagem de comportamentos mais úteis.

Por um acaso do destino tudo se modifica quando Danny tem a oportunidade de conhecer a família de Sam (Morgan Freeman) e Victoria (Kerry Condon). Não entraremos aqui nos meandros de como esse acaso do destino se processou, assistam ao filme e descubram. Com Sam e Victoria Danny teve uma das primeiras oportunidades em sua vida de ter acesso a fontes de reforçamento positivo. Sua vida é transformada ao desfrutar desta possibilidade. Sam e Victoria acolheram Danny. Habilidosamente ofereceram carinho e atenção para cada iniciativa demonstrada por Danny no sentido de tentar estabelecer episódios de interação social. A princípio não questionaram a respeito do seu nome e nem muito menos a respeito da coleira que usava.

Quando o ambiente se tornara suficientemente confortável é que Victoria retirou a coleira de Danny. A esta altura Danny já percebera que não tinha mais do que fugir ou se esquivar, pois naquele ambiente não existiam punições. Naquele ambiente a coleira não sinalizava a possibilidade de ser punido, pois não existiam agente punidores. Aos poucos a coleira vai perdendo a sua função de estímulo discriminativo que sinalizava a possibilidade de ser submetido a punições. Naquele ambiente Danny fizera uma descoberta formidável, algo que sinalizava reforços positivos de um passado longínquo: a música e o piano.

Victoria tocava pianos e Sam era um afinador de pianos. Sam descobrira que Danny gostava de pianos. Depois de diversas idas e vindas na história do filme, com o retorno do "tio Barty" e outros contratempos, Sam e Victoria ajudaram Danny a se lembrar de seu passado. A mãe de Danny também tocava pianos e fora assassinada porque não conseguiu saldar sua dívida com Barty. O dinheiro havia sido utilizado pela mãe de Danny para pagar as mensalidades da faculdade de música. Piano para Danny era um estímulo discriminativo que sinalizava os reforços positivos proporcionados pela mãe. Os comportamentos de se lembrar do passado foram suscitados pela mudança nos estímulos discriminativos, ou usando uma linguagem um pouco mais técnica, foram suscitados pela mudança no controle de estímulos.

O que fica da história do filme "Cão de Briga"? Que entre usar controle coercitivo e reforçamento positivo é melhor usar reforçamento positivo. O reforçamento positivo evita os contratempos produzidos pelo uso do controle coercitivo e aumenta as chances de sucesso na interação do sujeito com o mundo ao seu redor. Coerção não é a melhor opção. Seus efeitos são drásticos, e vão desde o aniquilamento da saúde do indivíduo punido até a sua insurreição contra o agente punidor. Nem mesmo o agente punidor escapa dos efeitos da punição, pois a revolta é sempre uma reação que pode acontecer a qualquer instante, que o diga o nosso personagem Danny que no final do filme se voltou contra o seu tio Barty. Assistam ao filme e voltem para conversarmos...


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sábado, 9 de novembro de 2013

Dos Equívocos Sobre o Comportamento Operante

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Que o Behaviorismo Radical é a matriz teórica mal amada da Psicologia ninguém tem nenhuma dúvida. Tratei deste assunto em um dos primeiros textos postados aqui no blog: "Behaviorismo: a matriz teórica mal amada da Psicologia". No texto mencionado aponto alguns dos motivos que alimentam esse ódio dirigido ao Behaviorismo Radical. Em função de tantas incompreensões que rondam tal matriz teórica, é muito comum que equívocos sejam cometidos quando seus conceitos são tomados como alvo dos mais diferentes tipos de análises.

Neste texto, trataremos de alguns equívocos que aparecem em uma vídeo-aula do Departamento de Ensino a Distância da Fundação de Ensino Superior de Passos-MG (FESP-UEMG), que é uma das unidades da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) no interior do estado. O título da vídeo-aula é: "Os Componentes do Comportamento Operante". Segue o link do vídeo para a apreciação dos leitores: https://www.youtube.com/watch?v=eubQk8iasp0

Comecemos com uma indagação: componentes do comportamento operante? O que isso quer dizer? O pensamento parece um tanto gestáltico! Parece querer indicar que existe um todo e que também existem partes de um todo. O todo seria o comportamento operante e as partes seriam as operações que determinam as formas como as consequências afetam o comportar-se. Esta forma de pensar pode dá a entender que o comportamento é uma coisa e não uma função do organismo que se expressa pela relação entre o que é feito e aquilo que ocorre no ambiente. Aqui se revela o aspecto relacional do comportamento operante.

Ao invés de falarmos de componentes, melhor seria tratar dos eventos que participam do controle do comportamento operante: eventos consequentes e eventos antecedentes. A professora que aparece no vídeo começa sua aula pelos eventos consequentes, ou seja, tratando dos procedimentos de reforçamento, que são: reforçamento positivo e negativo. É bom não confundirmos reforçamento com reforço. Reforçamento é processo e reforço é estímulo.

Enquanto processo o reforçamento indica que as consequências produzidas pelo comportamento operante afetam a sua ocorrência. É um termo que envolve o comportamento emitido e a consequência produzida. De acordo com Catania (1999), observa-se que existe uma relação entre a consequência produzida e o comportamento emitido quando:

1) O comportamento ocorre com mais frequência do que quando não produz a consequência;
2) O comportamento aumenta de frequência quando somente a consequência ocorrer e não uma outra coisa;

Enquanto estímulo o termo indica que há certos tipos de consequências que afetam o comportamento que as produz, de modo que elas podem ser chamadas de "reforço". Dito isso, fica claro que nem tudo aquilo que sucede o comportamento temporalmente pode ser chamado de reforço. A relação temporal não tem preponderância sobre a relação que chamamos contingência. Contingência é um termo que indica que entre o comportamento e certos eventos ambientais existe uma relação de dependência, de modo que a ocorrência do evento ambiental cria as condições para que o comportamento se manifeste.

A professora nem chega a falar de reforçamento. Ela apenas faz referência ao termo reforço e começa sua explanação pela definição de reforço positivo. Há em sua definição uma clara confusão entre reforço positivo e recompensa. Este é um equívoco muito comum.O reforço positivo não é uma recompensa. O termo "positivo" faz referência ao fato de que um estímulo é acrescentado em decorrência da emissão de um comportamento e somente em decorrência da ocorrência deste e não de qualquer outra coisa, caso contrário, não se caracteriza a relação de dependência entre o comportamento e a consequência produzida.

O que seria, então, um estímulo? Uma modificação em qualquer parte do ambiente. Se Joãozinho aperta o botão ligar do controle remoto e o aparelho televisor começa a funcionar, e no futuro o comportamento de apertar o botão continua ocorrendo e a consequência "televisor ligado" continua sendo produzida, pode-se dizer que há uma relação de dependência entre o comportamento de usar o controle remoto e a consequência "ligar a televisão". Neste caso a parte do ambiente que se modificou foi o funcionamento da televisão. E se esta modificação tornou mais frequente o comportamento de apertar o botão, ela pode ser chamada de reforço positivo.

Imaginemos que seja a primeira vez que joãozinho aperte o botão. Diante do televisor ligado um adulto diz: "muito bem Joãozinho!" O elogio/recompensa pode funcionar como reforço positivo? A resposta só pode receber um afirmativo "sim" se for observado um aumento na frequência do comportamento de apertar o botão. A princípio o comportamento pode ficar sob o controle do reforço exógeno que é o elogio do adulto. Exógeno apenas quer dizer que a consequência não foi produzida diretamente pela emissão do comportamento. Posteriormente o comportamento de apertar pode ficar sob o controle da consequência TV ligada, o que dispensa a "recompensa" por parte de um adulto. Neste caso se diz que o reforço é endógeno, ou seja, produzido mecanicamente pela ocorrência do próprio comportamento.

No entanto, nem toda recompensa se configura necessariamente como um reforço positivo, isso porque nem toda recompensa assume uma relação de dependência com o comportamento por ela precedido. Nem tudo que ocorre após a emissão do comportamento passa a assumir o controle de sua emissão. Outras variáveis com poder reforçador muito maior podem concorrer com a recompensa no momento em que ela for apresentada, tornando, assim, a recompensa um estímulo neutro em relação ao comportamento, ou seja, um estímulo sem qualquer função de reforçar. Estados de saciação podem afetar o poder reforçador da suposta recompensa. Depois de muitos elogios e menções honrosas vindas de pessoas importantes, uma que vier de uma pessoa de posição social menos significativa pode ser insignificante para o comportamento que se quer reforçar. Portanto, reforço positivo não se confunde com recompensa, ou dizendo de uma outra forma, nem toda recompensa é necessariamente um estímulo reforçador positivo.

A professora usa um exemplo interessante para tornar mais clara sua conceituação de reforço positivo. Um aluno fez uma boa prova e recebe um elogio do professor. Segundo ela, isso aumenta a autoestima e consequentemente melhora o desempenho do aluno. Outro grande equívoco! Não são os estados emocionais os responsáveis pela melhora observada no comportamento do aluno, mas as consequências produzidas pelo seu comportamento de estudar. Emoções são comportamentos, o que quer dizer que também estão sujeitas a ação das consequências que produzem. Tanto o que é sentido enquanto emoção, quanto a melhora no desempenho do aluno, são produtos gerados pela exposição às contingências de reforço. A este respeito há diversos textos neste blog. Clique aqui para ter acesso a eles. Como a professora fala de autoestima, em especial, sugiro o seguinte texto: Autoestima: uma breve análise comportamental.

A seguir a professora entra na definição de reforço negativo. Novo equívoco é cometido. Segundo ela, o reforço negativo é importante porque pode ser usado para eliminar comportamentos inadequados. Confunde-se reforço negativo com punição. E mesmo a punição não elimina comportamento. Há diversos estudos sobre isso e não vou me alongar no assunto. Indico o livro do Murray Sidman para maiores esclarecimentos sobre o uso do controle coercitivo: "Coerção e suas implicações". Ao contrário do que se imagina, além de não eliminar comportamento a punição produz diversos efeitos colaterais indesejáveis. Há diversos textos neste blog sobre essa questão, mas indicamos um em especial: "Prisões e punições: algumas reflexões preliminares". E, sobretudo, punição não se confunde com reforço negativo.

O reforço negativo é aquele estímulo que quando removido pela ocorrência de um comportamento, observa-se um aumento na frequência deste em decorrência da eliminação do estímulo. Skinner (1993) é categórico a este respeito, e diz que reforçamento negativo produz comportamento. Dito isto, não se pode afirmar que reforço negativo elimina comportamento. O termo negativo faz referência ao fato de que o estímulo é removido (subtraído) pela ocorrência do comportamento. Joãozinho liga a TV e coloca em seu canal favorito. Mas, Joãozinho observa que o canal está fora do ar. Joãozinho muda então para outro canal, eliminando, assim, o estímulo aversivo. Se todas as vezes que o canal favorito de Joãozinho estiver fora do ar e for observada uma mudança de canais, pode-se dizer que o comportamento de mudar o canal ou mesmo desligar a TV é reforçado negativamente.

Para exemplificar o reforço negativo a professor fala dos vigilantes do peso. Quem perde peso recebe uma pontuação e quem ganha peso não recebe a pontuação. O comportamento de ganhar peso não está sendo punido e nem mesmo reforçado negativamente. Neste caso ele apenas está sendo colocado em extinção pela suspensão dos reforços positivos que funcionam sob a forma da pontuação. Logicamente que a suspensão de reforços positivos é aversiva. Para eliminar tal condição a pessoa terá que emagrecer para voltar a receber a pontuação. O que tem mais peso para o comportamento de emagrecer, a eliminação da condição aversiva ou a pontuação que reforça positivamente esse comportamento? Esta resposta precisa ser investigada individualmente, ou seja, cada caso é um caso e precisa ser analisado em seus detalhes. Então, o exemplo da professora não ilustra necessariamente o uso de operações de reforçamento negativo.

Por fim, a professora chega a sugerir que o efeito do reforço negativo vai depender das "estruturas de personalidade". Eis aí um erro conceitual muito grave, para não usar adjetivo pior como "bizarro" ou "grotesco". O Behaviorimo Radical rompe com o mentalismo e não aceita explicações para o comportamento que apelem para o uso de entidades metafísicas, entidades que dão origem a sistemas causais circulares, de modo que a única evidência da causa é o efeito. No mentalismo a única evidência da causa (mente) é o efeito (comportamento). Não se pode usar o efeito para explicar as causas quando o que está em jogo é a produção de conhecimento científico. Para o comportamentlismo proposto por Skinner, as causas devem ser buscadas nas relações estabelecidas entre comportamento e ambiente.

Em seguida a professora fala da punição. Ela diz que a punição remove temporariamente o comportamento. Bem, ela não está completamente incorreta. De fato, como já explanado, a punição não remove comportamentos. Além de não fazer isso, ela gera efeitos colaterais indesejáveis. A pergunta que se faz é a seguinte: será que a professora está comparando a punição com o reforço negativo e está sugerindo que este último remove definitivamente comportamentos e a primeira não? Ao menos parece ser esta a função da comparação que ela faz, o que seria conceitualmente incorreto e enganoso pelos motivos já apontados. E tudo indica que esta seja a intenção dela, pois logo adiante menciona que a punição não resolve definitivamente os problemas humanos e cita as prisões e as penitenciárias como exemplo. Então, perguntemos a ela: a punição não remove comportamentos definitivamente e o reforço negativo remove? Novamente fica a ideia do reforço negativo como operação para remover comportamentos, o que é um erro.

Por fim ela entra nas operações de controle de estímulos. Estamos no terreno dos eventos antecedentes. Como sabemos o operante é afetado pelas consequências e pelo contexto em que ocorre. O contexto faz referências aos eventos antecedentes, aos eventos que antecedem a emissão de determinados comportamentos, aumentando, assim, a probabilidade de ocorrência destes. Isso acontece porque eles sinalizam a ocorrência dos reforços que seguirão a emissão do comportamento. Adquiriram esta função por terem sido associados aos reforços que seguiram o comportar-se. A operação que torna possível esta associação é chamada de discriminação. Por sua vez, esta associação é estabelecida entre estímulos: os antecedentes e os consequentes.

O organismo não discrimina nada como quer sugerir a professora entre 5:25 e 5:30: "o estímulo tem que estar muito bem discriminado". Entre 5:30 e 5:39 ela menciona que a discriminação "é a capacidade da pessoa perceber, diferenciar o estímulo condicionado de outros estímulos". Mais um erro que ocorre com frequência entre os que não conhecem a Análise do Comportamento. Não é o organismo que discrimina. A discriminação ocorre no ambiente. Apresente um cubo vermelho a uma criança que está aprendendo formas e cores. Imagine que ela responda apenas "vermelho". O estímulo é o cubo vermelho. Vermelho é uma das propriedades deste estímulo. Na resposta da criança fica evidente que apenas a propriedade "vermelho" controla o seu comportamento com referência ao cubo.

Imaginemos que a resposta da criança seja "cubo vermelho". Então o "cubo vermelho" é o estímulo discriminativo que controla a emissão da resposta "cubo vermelho" no momento da apresentação do cubo. Dizendo cubo vermelho ela é reforçada de alguma forma: ganha uma bala, um elogio, etc. A partir de então o comportamento de nomear corretamente os objetos pode ser uma fonte potencial de reforçamento. Toda vez que uma situação de nomear objetos se fizer presente, há a probabilidade do comportamento de nomear acontecer. Situações de nomear exercem um controle sobre o comportamento de nomear, aumentando, assim, a probabilidade de ocorrência deste comportamento. Não foi a criança que "discriminou" que situações de nomear estão associadas a reforços. Simplesmente houve a associação entre situações propícias para nomear objetos com os reforços que seguiram o comportamento de nomear. Estas situações são sinalizadoras de reforços, exercem um controle discriminativo sobre o comportamento. As operações que tornam este tipo de associação possível são chamadas de situações de controle de estímulos.

A professora insiste em dizer que é o organismo quem "discrimina", e reforça tal intencionalidade ao falar dos clássicos exemplos de laboratório para estudar o controle de estímulos. No clássico experimento de discriminação de estímulos, o comportamento de pressionar a barra por parte do rato só é reforçado quando uma luz está acesa dentro da câmara experimental. Quando está apagada o comportamento é colocado em extinção. Ao final do experimento o roedor só pressiona a barra quando a luz está acesa. Isso significa que a luz sinaliza a possibilidade de reforçamento, ou seja, ela estabelece as condições em que o reforço pode acontecer. Sendo assim, ela assume um controle discriminativo sobre o comportamento de pressionar a barra. O rato não discriminou nada! Como ela pode afirmar isso? Como faríamos para saber se o rato discriminou/diferenciou qualquer coisa se ele não pode nos contar nada a esse respeito? Mais uma vez é bom lembrar que não é o organismo que discrimina. A discriminação é uma operação que ilustra o controle de estímulos.

Após a operação de discriminação ela fala da generalização de estímulos. Mas, faz uma confusão conceitual tão grande que não é fácil entender o que ela diz. A generalização diz respeito ao fato de que estímulos que guardem qualquer propriedade em comum com o estímulo discriminativo, passam também a ter controle sobre a emissão do comportamento controlado por este. O rato vai emitir a resposta de pressionar a barra com a luz acesa e também em outras situações em que a luz seja mais fraca. Quanto mais fraca é a luz e quanto mais ela se aproxima da situação luz apagada, menor a taxa de comportamentos de pressionar a barra. Há aí uma generalização de estímulos. Luz mais intensa produz taxas maiores e luzes menos intensas produzem taxas menores. Luz intensa se aproxima mais da situação em que a luz está completamente acesa e se encontra em seu grau máximo de intensidade e luz fraca se aproxima mais da situação luz apagada.

A sensação de dejavu ilustra a generalização de estímulos. Dejavu é aquela situação em que nos sentimos mais ou menos assim: "conheço este lugar, mas nunca estive aqui. Parece que já vivi esta situação, mas tenho a certeza de nunca ter vivido". A situação se assemelha em algum aspecto a alguma outra situação já vivenciada e que de alguma forma assumiu o controle discriminativo de alguns comportamentos de nossos repertórios. Não se trata de experiências que são produtos de vidas passadas como querem as diversas formas de espiritismo. É nada mais e nada menos do que uma situação que ilustra a generalização de estímulos.

E o último erro é tão grave quanto os anteriores. Nele a professora diz que é complicado depender apenas dos processos de condicionamento, pois estes não permitem a mudança nas estruturas de personalidade. Mais uma vez o mentalismo vem à tona. E já fomos enfáticos a este respeito: o behaviorismo radical rejeita qualquer forma de mentalismo. Não há espaço para o mentalismo dentro do Behaviorismo Radical, e o mínimo de conhecimento sobre a obra de Skinner é suficiente para tecer conclusões a este respeito.

Que lição fica disso tudo? Que só devemos nos meter a falar de algo quando tivermos certeza do que estamos falando. É muito perigoso explanar sobre teorias que não conhecemos. Tal atitude é anti-científica e pode contribuir para a propagação dos mais diversos tipos de simplificações grosseiras. E se você quer saber mais sobre o comportamento operante, recomendamos o seguinte texto deste blog: "O condicionamento operante: definição e aplicações".

Abraços e até a próxima!

REFERÊNCIAS:

CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.

SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy, 1995.

SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 1993.





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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Lei da Atração e Comportamento Encoberto

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Dizem por aí que basta pensar positivo para que tudo ao nosso entorno se transforme. Será? A literatura de autoajuda chama esse fenômeno de "lei da atração". Funciona mais ou menos assim: o pensamento positivo agiria como um imã capaz de atrair a ocorrência de eventos positivos. Da mesma forma o pensamento negativo atrairia a ocorrência de eventos negativos. É como se os pensamentos tivessem propriedades magnéticas e por isso atraíssem a ocorrência de fenômenos com polaridades similares.

No entanto, esse paralelo com a física não pode ser levado muito longe. Primeiro porque os pensamentos não possuem propriedades magnéticas. Quando pensamos até ocorre no córtex mudanças neuroquímicas que produzem impulsos elétricos, e estes impulsos se fazem por meio do rearranjo de elétrons, o que acaba criando um pequeno campo magnético, mas nada suficiente para atrair qualquer objeto metálico, muito menos a ocorrência de eventos positivos ou negativos, se é que os termos positivo e negativo querem dizer alguma coisa. No máximo eles fazem referência ao tipo de controle que está operando sobre o comportamento, indicando se este está sendo submetido a controle aversivo ou reforçamento positivo. Se fosse assim, todos seríamos como o Magneto, inimigo número um do Professor Charles Xavier dos X-Men. Viveríamos, portanto, a atrair ou repelir metais.

O pensamento é comportamento. O pensamento é um evento privado. O Behaviorismo Radical não se furta a explicar os eventos privados. O pensamento é chamado de comportamento encoberto. O termo encoberto faz referência ao fato de que este comportamento ocorre num num nível que só pode ser acessado por quem se comporta. Pensamento não é causa de comportamento. Ele até pode ser um elo numa cadeia de comportamentos, produzindo estímulos discriminativos que aumentam a probabilidade de ocorrência de comportamentos públicos. Eis aqui uma explicação plausível para a "Lei da Atração". Para entender o que são estímulos discriminativos e como eles agem, é aconselhável que o leitor leia o texto "Condicionamento operante: definição e aplicações". 

Quando alguém pensa positivamente, este comportamento encoberto pode alterar estímulos que aumentam a probabilidade de ocorrência de comportamentos públicos. Uma pessoa que pensa que vai ganhar na loteria, até pode vir a ganhar na loteria, mas não porque pensou que ganharia e o pensamento se concretizou. Ao pensar que iria ganhar na loteria, tal comportamento encoberto gerou estímulos que aumentaram a probabilidade de ocorrência dos comportamentos de apostar. Os comportamentos de apostar acabam produzindo chances reais de se ganhar na loteria. Alguém pode pensar que vai se tornar um profissional excepcional. Este pensamento aumenta as chances da pessoa se comportar de modo a se tornar um profissional excepcional.

Vejam, então, que o que muda o mundo são comportamentos. É o que aprendemos com a definição de comportamento operante, um comportamento que opera no mundo modificando-o, e por sua vez também é modificado pelas alterações que produz. São ações que mudam o mundo ao nosso entorno. Mas, muitas vezes agimos sem que tenhamos consciência de que estamos agindo de determinada forma e quais são as variáveis relacionadas às maneiras como nos comportamos. Essa inconsciência a respeito do que se faz, do como se faz e do porque se faz, acaba gerando a impressão de que muitos eventos estão relacionados ao que pensamos. Mas não é o pensamento que altera o mundo. Ele pode até criar as condições para que certos comportamentos sejam emitidos. Todavia, são os comportamentos que alteram o mundo em que vivemos e por sua vez estas alterações acabam nos modificando sem que muitas vezes tenhamos a consciência de que as mudanças estão acontecendo.

Como qualquer outro comportamento, o pensamento também está sujeito às ações de suas consequências. Da mesma forma, ele também está sujeito às ações dos contextos em que ocorre. Pensamentos são comportamentos que foram aprendidos publicamente. Posso imaginar que estou dirigindo o meu carro. Consigo visualizar que estou segurando o volante, virando a chave, posicionando a marcha, alterando as posições dos pedais etc. Posso até sentir o carro se deslocando. Mas tudo isso é possível porque o comportamento de dirigir um veículo foi aprendido depois que fui exposto a contingências de reforço que tornaram possível a sua modelagem. No meu caso aprendi a dirigir um automóvel com o instrutor de uma auto-escola. Ele dizia o que eu devia fazer e eu seguia as suas instruções. Na medida em que o comportamento de seguir suas instruções eram consequenciados com reforçamento positivo, seja o reforçamento proporcionado pelo próprio instrutor, ou o reforçamento gerado pelo carro em movimento, criou-se as contingências para a modelagem do comportamento de dirigir.. A princípio meus comportamentos estiveram sob o controle de regras formuladas pelo comportamento verbal do instrutor, mas depois ficaram sob o controle das contingências arranjadas pela mecânica do carro.

Pensamento não é a mente em movimento! Pensamento é comportamento que precisa ser analisado à luz das contingências de reforço. São estas que serão reveladoras no sentindo de apontar porque um determinado comportamento está ocorrendo em nível encoberto e não em nível aberto. Alguém pode pensar na presença de uma outra pessoa: "que sujeito chato!". Se dissesse isso abertamente poderia estar sujeito a punições. O pensar permitiu a esquiva de contingências de controle aversivo. O pensar também pode proporcionar reforços positivos não encontrados na realidade, e neste caso ele seria chamado de fantasiar. Alguém pode imaginar-se rico, morando em uma mansão e andando de carro importado. Momentaneamente estes pensamentos proporcionarão reforçamento positivo. A questão é se o sujeito se torna refém do reforçamento gerado por meio de fantasias, o que o faz se distanciar da realidade. Neste caso só as contingências revelariam o motivo deste sujeito agir desta forma.

Portanto, a lei da atração é um bom exemplo de controle de estímulos. Comportamentos encobertos podem gerar estímulos que alteram a ocorrência de comportamentos públicos, e por sua vez os comportamentos públicos tornam mais provável a concretização daquilo que foi imaginado em pensamento. Não há nenhuma magia nisso. Mas é bom que se saiba, o que muda o mundo são as ações! Você até pode pensar positivo, mas tente agir de modo a aumentar as chances de ocorrer aquilo que tanto almeja.



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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Doma Racional e Condicionamento Operante

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Este post é para os aficionados por animais, mas não somente para estes. Ele também é dirigido aos aficionados pela Análise do Comportamento. A Análise do Comportamento enquanto ciência demonstra que no contexto do laboratório ou fora dele o comportamento está sob constante controle do ambiente. No ambiente do laboratório o método experimental é utilizado para delinear com exatidão que variáveis estão controlando o comportamento, ou seja, que variáveis estão afetando o modo como o comportamento ocorre, se sua ocorrência é menos ou mais frequente e se ela depende da maneira como muda o ambiente, se a probabilidade é maior ou menor quando se apresentam ou retiram determinados estímulos e assim por diante. Sendo assim, o método experimental permite a criação de arranjos experimentais que possibilitam testar a relação entre determinados eventos ambientais de um lado e eventos comportamentais de outro.

Quando Skinner estudou o comportamento operante em sua famosa caixa, que mais tarde foi chamada de Caixa de Skinner, ele fez nada mais e nada menos do que criar arranjos experimentais. Nestes arranjos pôde observar os comportamentos de sujeitos experimentais e como tais comportamentos se alteravam em função da modificação em determinados aspectos do ambiente relacionados a ocorrência destes. No clássico experimento do roedor que pressiona uma barra para obtenção de alimentos, criou-se um arranjo experimental que permitiu que determinados comportamentos fossem seguidos de consequências claramente especificadas, consequências que poderiam ser quantificadas quanto ao número de vezes que ocorriam, de modo a se estabelecer uma relação entre a força do comportamento e a quantidade de ocorrência destas consequências. No texto "Condicionamento Operante: definição e aplicações", o leitor encontrará uma descrição do experimento de Skinner, e entenderá os princípios comportamentais que ele ilustra.

Por ora é importante assinalar que o método experimental é um importante recurso metodológico que permite a criação de arranjos experimentais relevantes para a identificação das variáveis que afetam o comportar-se e de que modo elas afetam. Logicamente não podemos esperar que o mundo fora do laboratório apresente-se de maneira tão didática quanto o mundo controlado dos arranjos experimentais. No entanto, isso não nos impede de analisar o comportamento, pois conhecendo quais são os processos por trás de sua ocorrência, não é impossível identificar como eventos comportamentais e ambientais se influenciam mutuamente. Uma vez que seja possível identificar tais eventos, alterações podem ser introduzidas no ambiente de modo a testar o quanto existe entre eles uma relação de dependência. Se eu sei que determinados reforços podem aumentar a ocorrência de um determinado comportamento, posso utilizá-los para tornarem este comportamento mais frequente, bastando para isso esperar que o comportamento ocorra para em seguida apresentá-los, e é exatamente isso o que faz Monty Roberts em sua doma racional.

O que é a doma racional? É um método criado pelo norte-americano Monty Roberts para domar cavalos sem a utilização de violência, sem a utilização de controle coercitivo. Sabemos que o controle coercitivo está baseado no uso de punição e de ameaça de punição. Sabemos ainda quais são os subprodutos que podem ser gerados por este tipo de controle: agressividade, medo, submissão, ansiedade etc. Mas Monty Roberts abole o uso deste tipo de controle. Ele não usa punição, não usa de nenhum método coercitivo para fazer o animal sentir dor ou sofrimento. O que ele usa então? Ele simplesmente usa reforço positivo, e o utiliza da maneira correta. Vejam o vídeo abaixo, ele tem apenas 6:52 (seis minutos e cinquenta e dois segundos) e vale muito a pena ser visto e apreciado:



Lógico que Monty não chamaria seu método de condicionamento operante, e talvez não reconheceria jamais as semelhanças entre a doma racional e o clássico experimento do roedor na Caixa de Skinner. Monty não é um analista do comportamento e talvez falte-lhe o repertório adequado para notar tais semelhanças e entender que o que ele faz é criar as condições adequadas para apresentar reforços positivos contingentes aos comportamentos que ser quer modelar no animal, algo que Skinner fez quando reforçou por aproximações sucessivas os comportamentos que se aproximavam do comportamento almejado para o seu sujeito experimental, neste caso o comportamento de pressionar a barra para a liberação de alimento. Em seu repertório o roedor não tinha esse comportamento, mas reforçando por aproximações sucessivas os comportamentos que dele se aproximavam, ao final da sessão experimental o roedor conseguiu pressionar a barra. Magia? Não!!! Condicionamento operante, essa é a resposta mais adequada.

Monty por vezes é chamado de encantador de cavalos. Ele parece mesmo encantar os cavalos com sua docilidade que abole o uso de punições. Mas não há nenhum encanto ou magia em todo o processo de doma dos cavalos. Há apenas liberação de reforços positivos contingentes aos comportamentos de docilidade do animal. O resultado é que tais comportamentos tornam-se mais frequentes, e ao final da doma o animal se apresenta mais dócil do que quando ela foi iniciada, podendo ser montado por qualquer pessoa. É isso que o vídeo acima demonstra. Ele é uma excelente aula sobre condicionamento operante. É um bom exemplo de um experimento sendo feito a céu aberto, e o redondel é o laboratório utilizado para esse fim. 

O vídeo tanto mostra a modelagem de novos comportamentos, neste caso os comportamentos de docilidade, quanto a extinção de comportamentos já estabelecidos no repertório do animal, que são os comportamentos de demonstração de agressividade. Estes últimos são colocados em extinção, por isso Monty deixa o cavalo correr ao redor do redondel. Como ele havia sido submetido anteriormente à doma tradicional com uso de violência, humanos representavam possibilidade de punição, ou seja, eram estímulos discriminativos que sinalizavam a possibilidade de uso de controle coercitivo. Por esse motivo o cavalo age com agressividade no início da sessão quando Monty se aproxima. Mas como a aproximação não é seguida de punição, logo o estímulo "humanos" perde a função de ser estímulo sinalizador de punição.

É notável como a aproximação do animal com relação a Monty é seguida de pequenos gestos que funcionam como reforços positivos, gestos como coçar o animal e acariciá-lo. Com o prosseguimento da sessão os comportamentos de docilidade vão se estabelecendo no repertório do animal. Em apenas 25 minutos de doma Monty consegue celar o cavalo e colocar sobre ele uma pessoa. Esta façanha ilustra o poder do reforçamento positivo. Reforços positivos utilizados da maneira correta podem produzir resultados notáveis!  Use reforço positivo em seus relacionamentos, eu recomendo!



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terça-feira, 16 de abril de 2013

Textos, Contextos, Pretextos e Protestos


“Um texto fora do contexto vira pretexto para protestar.” Este ditado popular nos informa algo muito importante sobre a comunicação, um fenômeno tipicamente humano, pois só os homens possuem comportamento verbal, e com ele podem descrever as contingências que modelam os seus comportamentos e os comportamentos das pessoas com quem se relacionam. A questão é que nem sempre as descrições que são feitas das contingências são de fato fiéis a elas e isso leva a erros de percepção, ou melhor dizendo, levam a erros comportamentais, pois as pessoas podem agir com base em suas descrições e desconsiderarem as contingências de reforço.

O ditado também informa que o contexto de um texto ajuda a dar sentido à narrativa. Opa, narrativa é comportamento humano. Comportamentos humanos, verbais ou não, ocorrem em contextos, e estes contextos estabelecem com os comportamentos relações de causalidade, aumentando ou diminuindo suas probabilidades de ocorrência. Este tipo de relação de causalidade é conhecido como controle de estímulos. Isso significa que o comportamento, pelo menos no caso do comportamento operante, é causado pelas consequências que produz e pelos contextos em que ocorre. Esta teorização é a materialização da famosa contingência de reforço, conceito que indica que consequências e contextos exercem controle sobre o comportar-se.

Textos e contextos, outra forma de dizer: comportamento e controle de estímulos. Outra forma de dizer que entenderemos mais claramente um comportamento quando olharmos para os contextos em que ocorrem. Se a narrativa sobre um comportamento  descontextualiza-o do contexto em que ocorre, somos privados de informações importantes sobre as variáveis relacionadas à sua emissão, o que leva a enganos de percepção, pois podemos acreditar que alguém agiu de determinada forma quando na verdade os motivos são outros completamente diferentes.

Imagine que você convide uma pessoa para ir ao museu. Vocês passeiam pelas galerias durante horas sem que a pessoa emita nenhuma palavra. Você certamente acha estranho e pode pensar: “que pessoa antipática, não deu nenhuma opinião sobre nenhuma das obras que estavam em exposição”. Este é um julgamento, uma tentativa de explicar o comportamento de não emitir nenhuma palavra a respeito das obras expostas no museu. O problema deste julgamento é que ele não considera as contingências de reforço responsáveis pelo comportamento do convidado de passeio. Esta pessoa conhece alguma coisa sobre obras de arte? Imagine que você é um crítico de obras de arte e esta pessoa não saiba nada a respeito. Ela pode se sentir constrangida e evitar qualquer comentário por temer as críticas que podem ser feitas. Trata-se de um comportamento de esquiva que evita possíveis punições. Outra causa possível para o seu comportamento é não conhecer nada sobre obras de arte.


Se ela não conhece nada sobre obras de arte, não tem em seu repertório comportamentos apropriados para emitir qualquer tipo de comentário. Em outras palavras, o contexto “museus com suas obras de arte” não exerce nenhum controle especial sobre os comportamentos que constituem o seu repertório comportamental. Ora, como ela vai então emitir qualquer comportamento verbal a respeito das obras? O rótulo “antipático” adjetiva o comportamento do convidado especulando sobre as causas relacionadas à sua emissão. É uma descrição de contingências descontextualizada, que não leva em conta o controle do contexto sobre o comportamento. Se levado a sério, o rótulo pode ser tomado como verdade e daquele episódio em diante se transformar em pretexto para não convidar a pessoa para outros tipos de passeios, produzindo até mesmo um afastamento, pois ele sinaliza que aquela relação é aversiva ou pouca reforçadora. O rótulo age como estímulo discriminativo sinalizando a ocorrência de possíveis consequências aversivas.

Um pacifista e defensor dos direitos dos animais pode se rebelar ao ver alguém chutando um cachorro na rua. Pode mover um processo contra o agressor. Pode denunciá-lo às autoridades competentes. Enfim, pode fazer muitas outras coisas. A questão é que este pacifista pode ter visto apenas parte da cena. Às vezes o cachorro tenha avançado sobre a pessoa e num ato de autodefesa ela acabou chutando-o. Por ter visto apenas parte da cena o pacifista acabou descontextualizando o comportamento de chutar o cachorro do contexto em que ele ocorreu e transforma o que viu em motivo para a realização de um protesto sem medidas.

Os dois exemplos ensinam que devemos ter cuidado com o que vemos e com o que ouvimos. Sobretudo, eles nos ensinam que devemos ter cuidado com o que falamos. Será que o que falamos é fiel às contingências responsáveis pelos comportamentos das pessoas com quem nos relacionamos, ou procedemos de modo a descontextualizar o que as pessoas fazem para privilegiar apenas a nossa percepção da situação? Dependendo da resposta à pergunta corremos o risco de nos conscientizarmos de que somos tagarelas que criam pretextos para protestar por motivos tão pequenos e banais, transformando, assim, nossas relações em infernos existenciais.

Há outro ditado que diz que "boca fechada não entra mosquito." Melhor manter a boca fechada do que protestar sem motivos e correr o risco de engolir mosquitos!


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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Metamorfoses

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Há não muito tempo vi na foto de capa do facebook de alguém uma foto de um milho de pipoca e do lado do milho uma pipoca. Logo abaixo estava escrito que grandes mudanças ocorrem de dentro para fora. A imagem você pode ver aí ao lado. Fiquei pensando sobre o assunto e me perguntei: "o Behaviorismo Radical concorda com esta afirmação?" Se ela estiver se referindo a possibilidade de que mudanças são originadas por um eu interior, o Behaviorismo Radical vai discordar diametralmente.

Mas mesmo sabendo a posição do Behaviorismo Radical com relação a este tema, confesso que continuei encantado com a metáfora do milho que quando aquecido se transforma em pipoca. Muita gente gosta de usar essa historinha da pipoca para justificar que é dentro do organismo que se processam as mudanças que se fazem visíveis em seu exterior. No entanto, poucos são os que param para pensar que para o milho se transformar em pipoca precisam existir algumas condições:

1. É necessário um fogão com uma panela, ou um microondas e um pacote de pipoca de microondas;
2. A panela precisa ser aquecida com um pouco de óleo em um fogão, o mesmo é válido para o pacote de pipoca, mas este é aquecido no microondas;
3. É preciso existir alguém para controlar o ponto de estouro das pipocas, pois elas podem se queimar ou se transformarem em piruá. Aqui em Minas Gerais piruá é o milho de pipoca que não estourou.

Sem as condições 1, 2 e 3 não há pipocas. Simples assim! A mudança não está no interior do milho. O milho pode até reunir as características genéticas para se transformar em pipoca. Isso é fato! Mas estas características de nada adiantariam se as condições 1, 2 e 3 não fossem atendidas. Penso que o leitor já deva estar capitando a minha mensagem. O que são as condições 1, 2 e 3? Estas se referem às contingências de reforço. Elementar meu caro Watson!

Se alguma coisa ocorre dentro do organismo como as mudanças fisiológicas, e se estas são descritas como a emoção "x" ou "y", é porque houveram contingências de reforço que possibilitaram a ocorrência destas mudanças. Antes que me acusem de desconsiderar as contingências filogenéticas, trato de adiantar que elas também têm um papel em tudo isso. Mas como isso é quase uma obviedade, não entrarei no mérito da questão.

O que quero que fique claro é que o que é sentido é produto das contingências de reforço da mesma forma que o comportamento também o é. Se não houvesse fogo todo o potencial genético do milho não entraria em ação e ele não se transformaria em pipoca. Então, o que de fato é relevante são as condições que possibilitam a manifestação deste potencial. Transpondo a metáfora para o caso humano de modo que possamos explicar porque nos comportamos assim ou assado, o que é relevante é identificar as contingências que produzem tanto o que é sentido quanto aquilo que fazemos enquanto nos sentimos desta ou daquela maneira.

Portanto, a origem das mudanças não estão no interior do organismo, mas nas condições que afetam o seu comportar-se. Estas condições também afetam o que sentimentos, pois os sentimentos também são comportamentos. Clique aqui para ser direcionado para outros textos em que o comportamento emocional é debatido com mais detalhes. Se é comum tomarmos sentimentos como exemplos de causas de comportamentos, é porque geralmente eles ocorrem enquanto nos comportamentos, próximos ou antes de nos comportarmos. A proximidade temporal entre o sentir e o agir acaba gerando toda esta confusão.

Por conseguinte, para que os comportamentos se modifiquem e as metamorfoses possam operar, não são os sentimentos que precisam ser alterados. Qualquer mudança é produto em modificações que se processam nas contingências de reforço. Alterando as contingências alteramos comportamentos e sentimentos. Então, sempre que alguém te contar a história da pipoca, lembre-se de olhar para as contingências responsáveis pela transformação do milho. Agindo assim você aumenta as chances de olhar para as contingências que operam em sua vida. Não se esqueça, as metamorfoses estão nas contingências!

Vixe, termino este post com vontade de comer pipoca! Rs!!! E você, o que achou do texto? Poste seu comentário abaixo.

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Professora Helena: a professora que encantou o Brasil

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

A novela "Carrossel" exibida pelo SBT no horário nobre tem aterrorizado a concorrência. Vem batendo facilmente o IBOPE de programas exibidos no mesmo horário, e tem assustado inclusive a Globo, pois a emissora vê parte da audiência do Jornal Nacional migrar para o SBT. A dupla William Bonner e Patrícia Poeta têm enfrentado um forte concorrente, uma novela infantil que é o remake de uma novela mexicana filmada na década de 1980 e exibida pelo SBT nos anos de 1991 e 1995.

A criançada está adorando. Mas também existem muitos adultos vidrados na novela, seja para seguirem seus filhos, ou porque os personagens de Carrossel conseguem exercer um fascínio sobre o público adulto. Um destes personagens é a professora Helena. Helena é professora de uma escola conhecida como Escola Mundial. Ela leciona no terceiro ano, e enfrenta uma turminha que lhe apresenta muitos desafios. Mas com muito afeto e carinho ela consegue se aproximar de seus alunos ajudando-os a superarem os seus problemas, não somente os educacionais, como também os problemas da vida pessoal.

Contrastando com o modelo de docência da professora Helena, existe de outro lado a diretora Olívia. Olívia defende uma linha de educação mais rígida, e nesta linha a disciplina é conseguida através de controle coercitivo, ou seja, através de punições ou de ameças de punições. Por um lado temos então Olívia, representante de um modelo educacional em vias de falência, ou seja, de um modelo educacional que usa a punição ou a ameaça de punição como meio para a obtenção de disciplina. De outro lado temos a professora Helena, representante de um modelo educacional que rompe com o paradigma da autoridade disciplinar, aquele paradigma ao estilo Foucaultiano, que mantém a ordem por meio da vigilância.

Foucault (2006) fala-nos do panóptico, um modelo de prisão que tem no centro uma torre. As selas da prisão ficam dispostas ao redor da torre, de modo que por meio desta a vigilância pode ser mantida com um contingente menor de funcionários. O panóptico é um dispositivo que ajuda a manter a vigilância e o controle através do uso de coerção, através do uso de ameaças de punições, punições que podem ocorrer quando menos se espera. Punições inesperadas e apresentadas em esquemas de reforçamento intermitente ajudam a criar um ambiente bastante hostil.

Foucault (2006) extrapola sua reflexão sobre o panóptico e a lógica das prisões para outras esferas, mencionando, que a cultura da vigilância se faz presente em outras instituições, inclusive nas escolas. Ela não é exclusiva das prisões e forças armadas. A vigilância é um meio para se manter o controle. Nas escolas de padrões arquitetônicos mais antigos podemos ver os traços desta cultura. É comum a existência de um palanque nas salas de aula. Neste palanque o professor mantém-se em um degrau mais alto que seus alunos. Esta é uma forma de demonstrar a posição de poder que o professor ocupa, de demonstrar que não pode existir aproximações entre ele e seus alunos, que ele é a fonte do saber, e os alunos devem receber esse saber passivamente.

A diretora Olívia é produto deste tipo de concepção educacional, ela e muitos professores que ainda usam o controle coercitivo como forma de manterem a disciplina, e mal sabem estes professores que coerção gera comportamentos emocionais que interferem na aprendizagem. Pobres coitados, precisam rever seus conceitos. Já a professora Helena é a legítima representante de um modelo educacional que rompe com a distância estabelecida entre professores e alunos.

Helena estabelece com seus alunos relações bastante reforçadoras. Ela traz para estas relações o componente da afetividade, componente banido pelo paradigma educacional que defende o uso da coerção como meio para a obtenção de disciplina. Quem disse que não pode existir afeto na relação entre professores e alunos? Não existem relações humanas desprovidas de afetividade. Sempre que nos comportamos estamos sentindo alguma coisa. O sentir é componente essencial do comportar-se, e é ele mesmo um comportamento.

Quando tentamos reprimir nossa afetividade, nossos comportamentos emocionais, desta repressão surgem outros produtos emocionais bastante nocivos: ansiedade, medo, raiva, tristeza etc. Relações perpassadas por ansiedade, medo, raiva, tristeza, tendem a se tornarem insípidas, ou seja, tendem a se tornarem pouco saborosas ou sem nenhum sabor. Se tornam relações bastante rígidas. Relações assim se transformam em uma potencial fonte de estímulos aversivos que provocam comportamentos de fuga e esquiva. Tais comportamentos se fazem notar pela evasão escolar, depredação do patrimônio escolar, notas baixas, pouco envolvimento em tarefas escolares etc.

A professora Helena mostra-nos que é possível resgatar a afetividade nas relações entre alunos e professores. Ela ensina que estas relações podem ser reforçadoras e que o professor pode usar o reforço positivo em seu benefício, ou seja, que ele pode usar o reforço positivo para reforçar comportamentos mais produtivos por parte dos seus alunos. Contudo, é necessário ter o cuidado para não apresentar reforços positivos contingentes a comportamentos improdutivos, comportamentos problemáticos.

Não é o uso indiscriminado de reforçamento positivo que vai transformar o sistema educacional. Reforço positivo pode fortalecer comportamentos geradores de problemas. Esta talvez seja uma das questões a se levantar com relação a Professora Helena. Ela age de modo bastante afetivo. Mas vale questionar: ela discrimina bem os comportamentos que reforça, ou seja, ela usa reforço positivo contingente a comportamentos mais produtivos por parte de seus alunos?

A professora Helena mostra-se sempre muito preocupada com os problemas pessoais de seus alunos. Ela se desdobra para resolver estes problemas. É preciso cuidado! Existem as diferentes especialidades e elas devem ser respeitadas. Nenhum professor deve achar que é um profissional da psicologia. Problemas comportamentais são fenômenos da alçada dos psicólogos(as)! Professores que agem como se fossem profissionais da psicologia contribuem e muito para a patologização de problemas do cotidiano escolar, o que acaba abrindo precedente para uma medicalização desnessária destes problemas. E dá-lhe ritalina para tantos transtornos de déficit de atenção e hiperatividade! A indústria farmacêutica agradece!

E você, o que achou deste artigo? Opine deixando sua observação no campo de comentários.

Curso online de Psicologia Escolar

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Referências:

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 31 ed. Petrópolis (RJ), Ed. Vozes, 2006.


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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Ditados populares: uma análise comportamental

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Ditados populares são expressões de uso comum em uma dada população. São usados para fazer referência a modos de agir que quando evitados ou promovidos acarretam em determinadas consequências. Portanto, servem como sinalizadores de consequências, como descrições de contingências de reforço. Como descrições de contingências de reforço podem dizer muito sobre uma determinada cultura e sobre os modos de agir de um povo, afinal de contas uma cultura é um conjunto de contingências de reforços que agem umas sobre as outras e determinam a maneira como grupos de pessoas se comportam. Se os ditados populares sobrevivem como práticas culturais, é sinal que descrevem contingências importantes para a sobrevivência da cultura. Abaixo serão transcritos alguns ditados populares e será apresentada uma possível análise que se pode fazer deles.

Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Poderíamos dizer assim: quem pune também está sujeito a ser punido. Coerção gera coerção. Coerção é o uso de punição ou a ameaça de uso de punição. Habitualmente pensamos que punição elimina comportamento. Mas não é bem assim que acontece. Punição suprime temporariamente o comportamento punido. Todavia, os efeitos emocionais colaterais gerados pelo uso da punição podem ser devastadores: ansiedade, medo, submissão, tristeza, raiva, etc. Outro efeito é que o punidor se torna uma fonte de punição, algo a ser evitado ou contra-atacado. Então, punicão gera comportamentos de contracontrole, ou seja, comportamentos de atacar a fonte geradora de punição. A temática da punição já foi analisada extensamente em outros posts. Para ter acesso a estes posts clique aqui. Um post em especial eu recomendo aos leitores: "Prisões e punições: algumas reflexões preliminares." Evitar o uso desnecessário de punição é fundamental para que tenhamos relações interpessoais que promovam o bem estar.

Galinha que acompanha pato morre afogada. É lógico que a galinha vai acabar morrendo afogada se acompanhar um pato, pois ela não tem o equipamento biológico (anatomia e fisiologia) de um pato para poder ter o mesmo desempenho na água. O mesmo acontece conosco. Somos todos diferentes uns dos outros. Podemos ter o mesmo equipamento biológico, mas há diferenças abismais entre nós, diferenças determinadas pela herança genética e também pela história de vida. Sobretudo, temos repertórios comportamentais bastante distintos uns dos outros, o que nos torna pessoas únicas. Se alguém for acompanhar um exímio nadador nas corredeiras de um rio pode acabar morrendo afogado, pois não tem em seu repertório comportamentos para saber nadar com destreza em correntezas. A pessoa pode até nadar bem em uma piscina, mas não terá o mesmo desempenho em rios com fortes correntezas. Saber reconhecer tais diferenças pode ser fundamental para a sobrevivência! Reconhecer que somos diferentes uns dos outros pode evitar muitos problemas! Sobretudo, respeitar as diferenças é fundamental para nos relacionarmos bem com o mundo ao nosso entorno.

A fruta proibida é mais apetecida. O que é proibido geralmente parece ter um gostinho especial. O que pode estar por trás da atração sentida pelo proibido são operações de privação. Se alguém está privado de reforçamento sexual, pode acabar buscando esse reforço de diferentes maneiras. Pode se sentir atraído por parceiros que nunca pensou cobiçar. Privação em excesso gera estimulação aversiva. O que puder ser feito para eliminar a estimulação aversiva acabará sendo reforçador. É preciso, então, muito cuidado ao lidarmos com privações, pois seus efeitos podem gerar tendências comportamentais que produzem muitos problemas. Privar nossos parceiros de afeto pode resultar em um esfriamento da relação. Privar nossos filhos de carinho pode resultar em relações pouco amistosas.

A união faz a força. Determinadas contingências de reforço podem ter seu poder maximizado se forem capazes de atingirem mais pessoas num intervalo maior de tempo. Isso pode ser conseguido através do comportamento grupal. O comportamento de um grupo pode ser muito mais efetivo do que o comportamento de pessoas agindo individualmente. Imagine pessoas se mobilizando para combater a pedofilia. A campanha vai ter mais resultados quanto mais ela for divulgada. Quanto mais pessoas contribuírem na divulgação, maiores são as chances de outras pessoas serem sensibilizadas. Quanto mais pessoas envolvidas na divulgação, maior é a probabilidade de que a campanha se mantenha nos meios de comunicação por mais tempo. Isso nos faz lembrar que podemos e devemos contar com os outros, pois não temos a capacidade de fazermos tudo sozinhos!

A ignorância é a mãe de todas as doenças. Alguém pouco consciente das consequências de seus comportamentos está mais sujeito a aborrecimentos. Certamente está mais sujeito a envolver-se com problemas que podem acarretar em prejuízos para a saúde. Tomar consciência das contingências de reforço que movem nossos comportamentos pode ter como resultado uma vida mais saudável. Dessa forma, poderemos manipular as contingências e diminuir a probabilidade de comportamentos que produzem problemas e aumentar a probabilidade de comportamentos que produzem benefícios. Mas a consciência, que é comportamento descritivo, só surge quando a comunidade verbal arranja as condições apropriadas. Portanto, estar atento ao que os outros nos dizem ou aos seus questionamentos, é fundamental para termos mais consciência acerca de nós mesmos.

Não vamos aumentar demasiadamente nossa lista de ditados. Os que foram apresentados são suficientes, pois são capazes de demonstrar que os ditados populares podem nos fornecer pistas importantes sobre as contingências de reforço em vigor em uma determinada cultura. Os ditados podem fornecer pistas importantes sobre como as pessoas pensam, agem e sentem. E por serem importantes eles têm sobrevivido enquanto práticas culturais. Analisá-los pode nos ajudar a entender determinadas práticas culturais comuns em uma dada cultura.

E você, usa muitos ditados populares? Cite nos comentários algum ditado que você conheça e apresente sua análise a respeito.

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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Uma Análise Comportamental da Dor de Amor

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Ahhhh, o amor... Nobre sentimento que inspirou pelos séculos os poetas e artistas. Quantas pinturas não foram feitas para expressar um amor? Quantos poemas não foram escritos por amor? Queria muito nesta postagem tratar deste tema sem recorrer à ciência, pois a ciência parece fria, distante, e aparentemente o que ela teria a dizer sobre o amor? Bem, ela tem muita coisa, principalmente a ciência do comportamento, ciência que tem o Behaviorismo Radical como seu fundamento filosófico.

O amor tem um grande poder. Como estímulo reforçador ele pode modelar os mais diferentes comportamentos. Uma pessoa apaixonada escreve cartas de amor, manda ao longo do dia mensagens de sms para expressar o seu querer, posta no facebook imagens e mensagens para tornar público sua alegria de amar. Ahhh, eu não poderia deixar de citar os "sms's" e o "facebook", pois em pleno século XXI o amor encontra nestes meios as suas formas de expressão... Rs!!! É a modernidade atualizando os meios para se expressar o amor.

Amor é comportamento! Sim, é comportamento. Sei que parece esquisito, mas amor é comportamento emocional sujeito a ação das consequências que produz. Um(a) amante expressa seu amor pela(o) amada(o) através do facebook, orkut (morto ou não?! Rs...), twitter, youtube etc, porque desta forma obtém a atenção e as carícias da(o) parceira(o). Vejam, então, o condicionamento operante de fato operando... O comportamento opera no ambiente modificando-o e é ao mesmo tempo modificado, ou seja, o amado que manifesta seu amor modifica o ambiente ao aumentar a probabilidade de que a amada responda satisfatoriamente com carícias e juras de amor.

O amado faz isso com seus próprios comportamentos, como os já citados: postando no facebook, usando sms, etc. Estes comportamentos geram estímulos que aumentam a probabilidade da amada agir de forma a reforçar o que o amado faz e vice-versa. Assim o amor enquanto comportamento vai sendo fortalecido, de modo que sua frequência de emissão vai aumentando. Mas, como "nem tudo são flores", o amor também enfrenta problemas, e isso os poetas sabem muito bem, tanto que Camões assim descreveu este nobre sentimento (compotamento): "Amor é fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É dor que desatina sem doer."

O amor "é dor que desatina sem doer". Quem já amou e perdeu um amor sabe o que é isso! A dor da perda de um amor costuma se manifestar por comportamentos respondentes bastante distintos: ansiedade com aquela pontada no coração, o que faz parecer que o coração é o reduto do amor; estômago nauseado; rigidez muscular, etc. Quando se ama alguns comportamentos reflexos ficam sob o controle dos estímulos gerados pelo comportamento da pessoa que se ama. Ao se perder quem se ama, perde-se algo importante, o que produz controle aversivo, ou seja, quem perde um amor diz que a perda dói, e isso acontece porque a perda produz punição (controle aversivo). Punição produz todos estes estados emocionais colaterais, que são na verdade exemplos de comportamentos reflexos.

Mas a perda de um amor também é ocasião para a emissão de muitos comportamentos operantes. Quem já perdeu um amor, provavelmente nos primeiros dias e semanas sentiu a todo instante uma vontade de estar com a(o) amada(o), ouviu músicas que lembravam o amor perdido, ensaiou pegar o telefone várias vezes para ouvir a voz daquele(a) que era a fonte de todo o amor, chorou, falou da pessoa perdida para todo mundo, etc. Essa é uma experiência universal para o fim de todos os amores.

É universal porque o que ocorre quando se perde um amor é que todos os comportamentos que antes eram dirigidos à pessoa amada começam a entrar em extinção. Todo comportamento quando emitido e não reforçado entra em extinção, ou seja, começa a perder sua força até voltar ao que era antes de ser modelado, de ser fortalecido pelos diversos reforços que o seguiram. Mas no início do processo de extinção os comportamentos ao invés de declinarem aumentam de frequência. Por isso no início da perda de um amor se pensa tanto em quem se perdeu, se ensaia ligar para o(a) amado(a) que se foi, são ouvidas músicas que lembram os velhos tempos, etc.

Todavia, a cada ocorrência destes comportamentos, se eles não são reforçados, acabam se enfraquecendo, até desaparecerem. Então, caro leitor, não se assuste se no início da perda de um amor você se ocupa apenas do amor perdido. Não se preocupe, pois cada vez que se engajar nestes comportamentos e eles não forem reforçados, inevitavelmente entrarão em extinção. Ou seja, a dor acaba passando. Lógico que ela passa mais fácil se você se engajar em outros comportamentos que sejam capazes de produzirem reforços que substituam aqueles que eram gerados pelos comportamentos da pessoa amada.

Não necessariamente você precisa entrar numa nova relação imediatamente, pois isso nem sempre ajuda. Quando falo de reforços que possam substituir àqueles gerados pelo amor que foi perdido, me refiro aos reforços que podem surgirem como consequências de você se expor a novas contingências de reforço, contingências que podem ser experimentadas em atividades como lazer, uma boa leitura, um bom filme, um papo com os amigos, uma atividade esportiva, etc. Se expor a novas contingências é o melhor remédio! Tente e depois me diga.

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