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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Lei da Atração e Comportamento Encoberto

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Dizem por aí que basta pensar positivo para que tudo ao nosso entorno se transforme. Será? A literatura de autoajuda chama esse fenômeno de "lei da atração". Funciona mais ou menos assim: o pensamento positivo agiria como um imã capaz de atrair a ocorrência de eventos positivos. Da mesma forma o pensamento negativo atrairia a ocorrência de eventos negativos. É como se os pensamentos tivessem propriedades magnéticas e por isso atraíssem a ocorrência de fenômenos com polaridades similares.

No entanto, esse paralelo com a física não pode ser levado muito longe. Primeiro porque os pensamentos não possuem propriedades magnéticas. Quando pensamos até ocorre no córtex mudanças neuroquímicas que produzem impulsos elétricos, e estes impulsos se fazem por meio do rearranjo de elétrons, o que acaba criando um pequeno campo magnético, mas nada suficiente para atrair qualquer objeto metálico, muito menos a ocorrência de eventos positivos ou negativos, se é que os termos positivo e negativo querem dizer alguma coisa. No máximo eles fazem referência ao tipo de controle que está operando sobre o comportamento, indicando se este está sendo submetido a controle aversivo ou reforçamento positivo. Se fosse assim, todos seríamos como o Magneto, inimigo número um do Professor Charles Xavier dos X-Men. Viveríamos, portanto, a atrair ou repelir metais.

O pensamento é comportamento. O pensamento é um evento privado. O Behaviorismo Radical não se furta a explicar os eventos privados. O pensamento é chamado de comportamento encoberto. O termo encoberto faz referência ao fato de que este comportamento ocorre num num nível que só pode ser acessado por quem se comporta. Pensamento não é causa de comportamento. Ele até pode ser um elo numa cadeia de comportamentos, produzindo estímulos discriminativos que aumentam a probabilidade de ocorrência de comportamentos públicos. Eis aqui uma explicação plausível para a "Lei da Atração". Para entender o que são estímulos discriminativos e como eles agem, é aconselhável que o leitor leia o texto "Condicionamento operante: definição e aplicações". 

Quando alguém pensa positivamente, este comportamento encoberto pode alterar estímulos que aumentam a probabilidade de ocorrência de comportamentos públicos. Uma pessoa que pensa que vai ganhar na loteria, até pode vir a ganhar na loteria, mas não porque pensou que ganharia e o pensamento se concretizou. Ao pensar que iria ganhar na loteria, tal comportamento encoberto gerou estímulos que aumentaram a probabilidade de ocorrência dos comportamentos de apostar. Os comportamentos de apostar acabam produzindo chances reais de se ganhar na loteria. Alguém pode pensar que vai se tornar um profissional excepcional. Este pensamento aumenta as chances da pessoa se comportar de modo a se tornar um profissional excepcional.

Vejam, então, que o que muda o mundo são comportamentos. É o que aprendemos com a definição de comportamento operante, um comportamento que opera no mundo modificando-o, e por sua vez também é modificado pelas alterações que produz. São ações que mudam o mundo ao nosso entorno. Mas, muitas vezes agimos sem que tenhamos consciência de que estamos agindo de determinada forma e quais são as variáveis relacionadas às maneiras como nos comportamos. Essa inconsciência a respeito do que se faz, do como se faz e do porque se faz, acaba gerando a impressão de que muitos eventos estão relacionados ao que pensamos. Mas não é o pensamento que altera o mundo. Ele pode até criar as condições para que certos comportamentos sejam emitidos. Todavia, são os comportamentos que alteram o mundo em que vivemos e por sua vez estas alterações acabam nos modificando sem que muitas vezes tenhamos a consciência de que as mudanças estão acontecendo.

Como qualquer outro comportamento, o pensamento também está sujeito às ações de suas consequências. Da mesma forma, ele também está sujeito às ações dos contextos em que ocorre. Pensamentos são comportamentos que foram aprendidos publicamente. Posso imaginar que estou dirigindo o meu carro. Consigo visualizar que estou segurando o volante, virando a chave, posicionando a marcha, alterando as posições dos pedais etc. Posso até sentir o carro se deslocando. Mas tudo isso é possível porque o comportamento de dirigir um veículo foi aprendido depois que fui exposto a contingências de reforço que tornaram possível a sua modelagem. No meu caso aprendi a dirigir um automóvel com o instrutor de uma auto-escola. Ele dizia o que eu devia fazer e eu seguia as suas instruções. Na medida em que o comportamento de seguir suas instruções eram consequenciados com reforçamento positivo, seja o reforçamento proporcionado pelo próprio instrutor, ou o reforçamento gerado pelo carro em movimento, criou-se as contingências para a modelagem do comportamento de dirigir.. A princípio meus comportamentos estiveram sob o controle de regras formuladas pelo comportamento verbal do instrutor, mas depois ficaram sob o controle das contingências arranjadas pela mecânica do carro.

Pensamento não é a mente em movimento! Pensamento é comportamento que precisa ser analisado à luz das contingências de reforço. São estas que serão reveladoras no sentindo de apontar porque um determinado comportamento está ocorrendo em nível encoberto e não em nível aberto. Alguém pode pensar na presença de uma outra pessoa: "que sujeito chato!". Se dissesse isso abertamente poderia estar sujeito a punições. O pensar permitiu a esquiva de contingências de controle aversivo. O pensar também pode proporcionar reforços positivos não encontrados na realidade, e neste caso ele seria chamado de fantasiar. Alguém pode imaginar-se rico, morando em uma mansão e andando de carro importado. Momentaneamente estes pensamentos proporcionarão reforçamento positivo. A questão é se o sujeito se torna refém do reforçamento gerado por meio de fantasias, o que o faz se distanciar da realidade. Neste caso só as contingências revelariam o motivo deste sujeito agir desta forma.

Portanto, a lei da atração é um bom exemplo de controle de estímulos. Comportamentos encobertos podem gerar estímulos que alteram a ocorrência de comportamentos públicos, e por sua vez os comportamentos públicos tornam mais provável a concretização daquilo que foi imaginado em pensamento. Não há nenhuma magia nisso. Mas é bom que se saiba, o que muda o mundo são as ações! Você até pode pensar positivo, mas tente agir de modo a aumentar as chances de ocorrer aquilo que tanto almeja.



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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A Difícil Tarefa de Falar de Sentimentos

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Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Você já percebeu que falar de sentimentos e emoções não é uma tarefa muito fácil? Nós psicólogos vivenciamos isso todos os dias na clínica. Muitos dos nossos clientes querem falar de seus sentimentos, mas as palavras parecem escapar-lhes, e quando alguma palavra é encontrada ela parece não descrever com exatidão aquilo que se sente. No entanto, não é um "privilégio" dos psicólogos poder observar de perto a dificuldade que a maior parte das pessoas têm de falar de seus sentimentos. Aliás, é bom que se diga que os profissionais da psicologia não estão isentos desta dificuldade, afinal de contas nós também somos humanos, e como o resto da humanidade aprendemos a falar de nossos sentimentos com quem não tem acesso ao que estamos sentindo.

Já assinalamos em outros textos que emoções são comportamentos.Tenha acesso a alguns destes textos clicando aqui. O behaviorista não atribui às emoções nenhum status especial. Ele não considera as emoções como os fatores causais daquilo que fazemos. Tanto o que sentimos quanto o que fazemos são comportamentos selecionados (modelados) pelas contingências de reforço que fomos sendo expostos ao longo da vida. Isso não quer dizer que as contingências filogenéticas, aquelas relacionadas à sobrevivência da espécie humana e as contingências culturais não tenham um papel na causação do comportamento emocional.

As contingências filogenéticas selecionaram os comportamentos respondentes que são eliciados quando nos emocionamos. Quando alguém, por exemplo, diz sentir ansiedade, na verdade está relatando algumas transformações fisiológicas que estão se processando no organismo: taquicardia, respiração ofegante, queimação no estômago ou ânsia de vômito, tensão muscular, etc. Estas transformações fisiológicas são os respondentes eliciados quando se sente ansiedade. Isso é apenas parte do comportamento emocional de se sentir ansioso. Outra parte se manifesta através de comportamentos operantes: agitação, fala acelerada, dificuldade de concentração, impaciência, etc.

As transformações fisiológicas foram selecionadas ao longo da evolução das espécies por causa do seu valor de sobrevivência. Imaginemos o caso da ansiedade. Taquicardia e respiração ofegante, por exemplo, ajudam o organismo a entrar num estado de alerta que o prepara para a fuga e contra-ataque. Nos primódios da civilazação humana o Homem disputava alimentos e abrigo com outras espécies, fugir e contra-atacar foram respostas adaptativas selecionadas por contngências filogenéticas. O problema do mundo moderno é que qualquer sinal insignificante de perigo é interpretado como motivo para fugir e contra-atacar, e isso explica porque tantas pessoas têm problemas relacionados com a ansiedade e porque muitas outras vivem explodindo e contra-atacando aquilo que se considera um objeto de temor.

Mesmo os comportamentos de contra-atacar e fugir não são puramente filogenéticos. Há neles um componente operante. Se o contra-ataque minimiza ou elimina os sinais de perigo, acaba por se estabelecer uma contingência de reforçamento negativo. Se a fuga evita danos à integridade física, também se estabelece uma contingência de reforçamento negativo. Mas as respostas de aceleração cardíaca, respiração ofegante, entre outras são puramente filogenéticas, cuja função é colocar o organismo em condições para fuga ou contra-ataque. Neste sentido, podemos dizer que ansiedade enquanto comportamento emocional é um comportamento adaptativo, pois ajudou o homem na luta por alimentos e abrigo.

Mas se a ansiedade como qualquer outro comportamento emocional pode ser um comportamento adaptativo, por que temos padrões emocionais que acabam produzindo problemas, que acabam colocando a integridade do organismo em risco? A resposta está nas contingências de reforço. Se alguém é muito ansioso, pode ser que tenha tido uma história repleta de muitas punições. Sendo assim, vários foram os estímulos que se associaram às punições e por isso se tornaram estímulos aversivos. Então, a pessoa age como se tudo fosse aversivo, como se estivesse prestes a ser punida, por isso precisa manter-se alerta. Uma generalização de estímulos é responsável por este estado de prontidão.

As contingências culturais também têm um papel na causação do comportamento emocional. É dito, por exemplo, que os brasileiros são bastantes expressivos, enquanto que os ingleses são mais frios e introspectivos. Se analisarmos a cultura brasileira encontraremos contingências que favorecem a extroversão, enquanto na Inglaterra encontraremos outras contingências completamente diferentes. Uma análise completa dos comportamentos emocionais também deve levar em consideração estas contingências. Um psicoterapeuta brasileiro atendendo um inglês deve ter o cuidado de não forçar a ocorrência de certos comportamentos emocionais, caso contrário pode criar contingências de controle aversivo que levem o cliente a fugir do tratamento.

Até aqui aprendemos que emoções são comportamentos. Por trás da causação dos comportamentos emocionais estão contingências filogenéticas, contingências de reforço (ontogenéticas) e contingências que envolvem o processo de transmissão da cultura. Resta responder a seguinte pergunta: por que é tão difícil falar de emoções? Lembremos que parte do que ocorre enquanto nos emocionamos são comportamentos respondentes (mudanças fisiológicas). Boa parte destes mudanças geram transformações no interior do organismo, geram estímulos interoceptivos, estímulos que ocorrem no interior do organismo, estímulos que correspondem exatamente aquilo que sentimos quando nos emocionamos.

Estes estímulos são privados, pois só quem tem acesso a eles é aquele que se emociona. Quando descrevemos que estamos sentindo determinada emoção, estamos na verdade descrevendo a ocorrência destes estímulos gerados por comportamentos respondentes. A questão é que aprendemos a descrever tais estímulos, ou descrever nossos estados emocionais com quem  não tem acesso ao que estamos sentindo. Chamamos de comunidade verbal aqueles que nos ensinam tal tarefa. A comunidade verbal é formada por todos os membros que fazem parte dos grupos aos quais frequentamos ao longo da vida: família, escola, grupos sociais, etc.

Se a comunidade verbal não tem acesso ao que sentimos, como ela nos ensina a falar de nossas emoções? Ela faz isso com base em eventos públicos que acompanham nossos estados emocionais. Vamos a um exemplo. Imagine uma criança que ao aprender a dar os seus primeiros passos acaba caindo e ferindo a boca. Imediatamente ela começa a chorar. A mãe presume que ela está sentindo dor e começa a dizer: "oh dó, está doendo bebê? Machucou a boquinha? Fez dodói?" Assim a criança aprende que aquilo que está sendo sentido se chama dor.

Mas não é em todos os estados emocionais que há um evento púbico claro acompanhando um estímulo privado que se presume estar ocorrendo. A comunidade verbal vai sempre inferir a presença de um estímulo privado a partir de eventos públicos correlatos, mas estes últimos nem sempre são assim tão evidentes. Deste fato deriva-se a dificuldade que geralmente temos em falar de emoções, pois aprendemos a relatá-las de modo bastante impreciso, e toda imprecisão decorre do acesso que a comunidade não tem aos estímulos que se originam da ocorrência de comportamentos respondentes.


Este é um dos principais motivos que explicam a dificuldade que todos temos em falar de emoções. Há outros. Emoções que geram estimulação aversiva também vão ser relatadas com dificuldades, pois os estímulos aversivos irão gerar comportamentos que concorrerão com o comportamento de relatar a emoção sentida. Pessoas com pouco treino em habilidades sociais também podem sentir muita dificuldade ao falar de emoções, pois o falar pressupõe um ouvinte (plateia), e a ausência de comportamentos que permitam a socialização transforma as situações sociais em fontes de estímulos aversivos.

Portanto, antes de julgarmos alguém, é bom que nos questionemos se estamos em condições de descrever o que a pessoa está sentindo. Nem sempre os eventos públicos que acompanham os comportamentos emocionais são pistas confiáveis para aquilo que as pessoas estão sentindo. Ao lembrarmos disso evitamos os riscos de chegarmos a conclusões precipitadas a respeito daquilo que as pessoas sentem.

E você, o que achou deste texto? Manifeste sua opinião.

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sexta-feira, 9 de março de 2012

Garçonetes de uma cafeteria nos EUA usam lingerie para aumentar as vendas: conversando sobre emoções

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Você já foi em uma cafeteria, restaurante ou lanchonete em que as garçonetes usassem lingerie? Provavelmente não. Mas pasmem, este tipo de estabelecimento existe. No estado da Flórida nos EUA um grupo de garçonetes resolveu usar lingeries para aumentar as vendas entre o público masculino (clique para ler a reportagem). A questão é que provavelmente esta estratégia apelativa vá funcionar como tem funcionado na mídia há bastante tempo.


É comum vermos, por exemplo, em propagandas de cervejas mulheres sensuais usando biquinis ou outro tipo de peça íntima.


Há alguns anos atrás algo parecido ocorria em propagandas de cigarros. Não acontece mais porque a legislação que regula a venda de tabaco tem proibido esse tipo de estratégia de marketing. Mas por que este tipo de estratégia geralmente funciona?


Há quem diga que estas estratégias funcionam porque provocam certas emoções que levam a pessoa ao uso do protudo que está sendo vendido. Mas não são as emoções as responsáveis pelo comportamento de comprar. Então esta é uma boa oportunidade para explanarmos sobre como de modo geral as emoções são entendidas pelo Behaviorismo Radical.

Primeira coisa a ser entendida: emoções são comportamentos. Isso mesmo, emoções são comportamentos. Geralmente estamos acostumados a pensar as emoções como a força motriz que nos impulsiona a nos comportarmos desta ou daquela forma. Pensamos assim porque o que sentimos ocorre pouco antes de nos comportarmos ou mesmo durante o momento que estamos nos comportando, e como em nossa civilização ocidental fomos educados para entender que causa é todo evento que antecede e provoca um determinado efeito, acabamos por tomar as emoções como causa do comportamento.

Não só estamos acostumados a tomar as emoções como causa do comportamento, como também estamos acostumados a entendê-las como estados mentais. Já vimos em outros posts a posição do Behaviorismo Radical com relação ao mentalismo. O Behaviorismo Radical rejeita toda forma de explicação mentalista do comportamento porque este tipo de explicação geralmente são ficções explanatórias, ou seja, são invenções conceituais que ao invés de explicarem precisam ser explicadas.

Muito embora o Behaviorismo Radical rejeite toda forma de mentalismo, ele não exclui dos estudos da psicologia os eventos privados. Como já tivemos oportunidade de mostrar em outro post a subjetividade encontra no Behaviorismo Radical um lugar de estudos, mas não como sinônimo de vida mental.

As emoções são exemplos de eventos que normalmente chamamos de subjetivos. Por subjetivo geralmente se entende algo que é interno e intrínseco ao indivíduo que se comporta. A dicotomia dentro/fora do sujeito não transforma  um evento em algo especial regido por leis comportamentais diferentes daquelas que regem os eventos públicos.

Os eventos privados - e privado é tudo que não é público e diretamente acessível - não são regidos por leis que sejam diferentes dos eventos públicos. Os eventos privados também são eventos comportamentais, portanto devem ser entendidos a partir das contingências de reforço do qual fazem parte. A questão é que a acessibilidade a estes eventos tornam as contingências responsáveis por sua ocorrência mais difíceis de serem estudadas. E esta é a razão porque se inventam tantas explicações fictícias que apelam para a existência de eventos e estados mentais.

Parte do ato de emocionar-se ocorre de modo privado. Por isso é tão difícil falar de emoções. É difícil falar de emoções porque aprendemos a falar de nossos estados emocionais com quem não tem acesso diretamente a estes estados. Aprendemos a falar do nosso mundo privado, ou seja, aprendemos a nomear os eventos privados - e as emoções são exemplos de eventos privados - com a comunidade verbal em que estamos inseridos. Entendam comunidade verbal como os outros que fazem parte do mundo em que vivemos.

A questão é que a comunidade verbal não tem acesso aos eventos privados que ela nos ensina a relatar. Por isso todos os termos que geralmente se referem às emoções são geralmente imprecisos, pois a descrição dos eventos privados é também imprecisa na medida em que é aprendida com quem não tem acesso a eles. Imagine uma criança que ao dar seus primeiros passos cai e machuca. Ao cair ela começa a chorar. Então um dos pais (comunidade verbal) pega no colo e diz: "coitadinho(a) fez dodói". A comunidade verbal inferiu a existência de um evento privado (dor) a partir da ocorrência de um evento público (cair). Assim vamos aprendendo a nomear nossos eventos privados, inclusive as emoções.

Mas no exemplo da criança tanto a dor (evento privado) quanto o  comportamento de chorar foram provocados pelo mesmo evento: a queda. Logicamente que com isso a criança aprende alguma coisa: ao cair ela pode contar com o amparo dos pais, sobretudo pode chamar a atenção destes. Ou seja, o comportamento de chorar pode ser selecionado por esta contingência de reforço. E este comportamento pode se generalizar, e em outras ocasiões a criança pode fazer algo errado ou simular que se machucou para obter a atenção dos pais. Logicamente que os pais irão discriminar quando é simulação ou não, e colocarão em extinção o comportamento de simular.

Opa, apareceu um novo conceito que ainda não conhecíamos: extinção. No comportamento operante a extinção diz respeito ao processo de enfraquecimento de um comportamento pela remoção dos estímulos reforçadores. Deixando de apresentar os reforços para o comportamento de simular, logo este comportamento se enfraquecerá e desaparecerá. Mas antes de desaparecer provavelmente ele será emitido muitas vezes, e diversas vezes quando for emitido certamente será acompanhado de birras e choro.


Se o comportamento de simular foi reforçado muitas vezes no passado, mais intesas serão as birras e choros. Estas reações emocionais de birra e choro são consequências da operação de suspenção do reforçamento positivo. Vamos a outro exemplo. Quando alguém que gostamos morre ou vai embora para longe, nos sentimos tristes e as vezes choramos. Mas choramos e nos sentimos tristes pelos mesmos motivos, ou seja, por causa que a partida da pessoa levará a suspensão dos reforços que só ela é capaz de apresentar. Não é a tristeza que provoca o choro. Choro e tristeza são provocados pela contingência de reforço que envolve a partida da pessoa que gostamos.


Então emoções são produtos das contingências de reforço ao qual somos expostos. Neste sentido elas são comportamentos, pois são modeladas pela exposição às contingências. Como comportamentos as emoções se manifestam tanto por meio de modificações que ocorrem em nosso corpo (comportamentos respondentes) quanto por disposições que sentimos ao nos emocionarmos.

Votemos às garçonetes e musas das propagandas de cervejas. Alguém que for à cafeteria tomar café poderá desfrutar do prazer de ver mulheres bonitas usando lingeries. Mulheres usando lingeries são estímulos discriminativos que sinalizam a possibilidade de obtenção de prazer via comportamento de observação.  Enquanto tomam café os homens sentem prazer por observarem as garotas com lingerie, sendo assim torna-se mais provável que voltem à cafeteria, e também é provável que o comportamento de beber café se torne um hábito ainda mais prazeroso.

Por associação do reforço "garotas de lingerie" com o comportamento de beber café, pode ser que o beber café naquela cafeteria se torne mais provável. Se o efeito desta associação se generalizar, provavelmente estes homens passarão a beber mais café e todas as vezes que o fizerem sentirão um prazer a mais sem se darem conta disso. Há dois componentes neste comportamento de ir à cafeteria para beber café ou mesmo no comportamento de beber café que se generalizou para outros ambientes. Há o prazer que pode se manifestar via excitação sexual. Claramente trata-se de um comportamento respondente. Há ainda a disposição para beber mais café na cafeteria ou em outros ambientes por causa do prazer associado ao beber. Esta disposição é comportamento operante selecionado pelas consequências associadas ao ato de beber café. O mesmo princípio está embutido nas propagandas de cervejas.

Mais um exemplo para que fique tudo claro. Imagine alguém com raiva. Uma pessoa com raiva ao mesmo tempo sente seu estômago queimando, seu rosto ardendo, seu coração acelerado e seus membros inferiores tremendo. Estômago queimando, rosto ardendo, coração acelerado e membros inferiores tremendo são exemplos de modificações no organismo, são exemplos de comportamentos respondentes. Certamente, por causa destas modificações que sentiu em seu corpo a pessoa dirá que está com raiva, pois outras vezes que sentiu a mesma coisa no passado, a comunidade verbal ensinou-a a descrever estes comportamentos respondentes (modificações fisiológicas) como algo que pode ser chamado de raiva.



Mas ao mesmo tempo a pessoa com raiva sente uma disposição de atacar a fonte provocadora deste sentimento. Esta disposição é comportamento operante. Talvez no passado quando a fonte da raiva foi atacada, o sentimento foi cessado, por isso no presente volta a sentir a mesma disposição. Neste caso contingências do passado modelaram esta disposição. Se atacar a fonte da raiva não for possível, a pessoa pode atacar um outro objeto. Muitas pessoas que sofrem contrariedades no trabalho e não podem revidar por receio de perder o emprego, ao chegarem em casa maltratam os familiares, neste caso se os familiares revidarem nenhum mal mais grave acontecerá, pelos menos é o que se presume.

Portanto, na estratégia de marketing das garçonetes e das propagandas de cervejas estão embutidos os princípios do condicionamento respondente e operante. Tais princípios geram certas disposições emocionais. Mas não são as emoções que levam a maior ingestão de café ou cerveja. Tanto as emoções quanto o ato de ingerir estas bebidas são produtos das contingências que os selecionaram. Sendo assim, fica claro que há um lugar para as emoções no Behaviorismo Radical, mas estas são comportamentos como  quaisquer outros, e só serão entendidas se forem analisadas à luz das contingências de reforço responsáveis por sua seleção.

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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O condicionamento operante: definição e aplicações


Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Chamamos de condicionamento operante o processo pelo qual certa classe de comportamentos fica sob o controle de suas consequências. Esta classe de comportamentos recebe o nome de Operante. O termo faz referência ao fato de que esta classe de comportamentos opera no meio modificando-o, e por sua vez estas modificações também alteram o comportamento.

O comportamento operante foi descoberto por B. F. Skinner. Primeiro Skinner começou trabalhando com animais em laboratório. No seu clássico experimento um rato ou um pombo foram colocados em uma caixa experimental. Nesta caixa existia uma barra e/ou um disco (botão) e um recipiente que liberava água ou comida. O rato ou o pombo privados da água ou comida tiveram acesso tanto a água ou a comida toda vez que exibiram um certo comportamento. No caso do rato o comportamento seria pressionar a barra e no pombo seria o comportamento de bicar um disco (botão) iluminado na parede da caixa experimental.


No entanto, antes das sessões experimentais estes comportamentos não existiam no repertório de comportamentos dos animais. Os mesmos foram modelados. Cada resposta que se aproximava do comportamento almejado (pressionar barra / bicar disco) era imediatamente seguida da consequência ter acesso a comida e/ou a água. Percebeu-se que estas respostas foram se tornando mais fortes. Logo Skinner entendeu que foi estabelecida uma relação de dependência entre a resposta e a consequência por ela produzida (liberação de água ou comida). Ao final do experimento o rato conseguia pressionar a barra e o pombo bicar o disco para que houvesse liberação da comida ou água.

Este simples arranjo experimental foi um passo grandioso, pois ele levou à descoberta da classe de comportamentos que Skinner chamou de operantes. Diferente dos comportamentos respondentes, o comportamento operante não é causado por um estímulo que antecede a sua ocorrência. O comportamento operante é causado (determinado) pelas consequências que produz, pelas alterações que provoca no ambiente. A descoberta da classe de comportamentos operantes rompe com o paradigma de causalidade linear mecanicista.

Rompe porque demonstra que nem todo comportamento é provocado por estímulos que antecedem sua ocorrência, e porque demonstra também a necessidade de se entender a relação que o comportamento estabelece com o meio ao seu entorno para que este possa ser analisado. Sem que conheçamos o comportamento e as modificações por ele produzidas no ambiente, não somos capazes de entender os motivos por trás da sua ocorrência. Disto conclui-se que comportamento é relação e nos dois polos desta relação existem modificações que se processam, e o entendimento do comportamento passa pelo entendimento destas modificações. Um polo é a resposta exibida pelo organismo e o outro polo são as consequências produzidas por esta resposta.

Pode parecer um modelo aparentemente muito simples. No entanto, a coisa fica mais complexa quando descobrimos que a forma como as consequências seguem determinadas respostas são determinantes para a força desta. Mede-se a força de uma reposta pela sua frequência de emissão. Muitas variáveis se interpõem no intervalo entre uma resposta (um curso de ação) e a consequência por ela produzida. A consequência pode seguir imediatamente a resposta, pode segui-la depois de um tempo, ou segui-la depois de ser exibida uma quantidade de vezes etc. Tudo isso faz diferença na análise da resposta, sendo esta a menor fração de uma classe de comportamentos.

Uma classe de comportamentos é formada por várias respostas que têm a mesma função, ou seja, por respostas que produzem o mesmo resultado. Por exemplo, a classe de comportamentos abrir uma torneira pode ser formada por várias respostas que produzem o resultado torneira aberta. Posso abrir a torneira com a mão esquerda, com a mão direita, com as duas mãos, lentamente, vigorosamente etc. Todas estas respostas produzem o resultado torneira aberta. Logicamente que a circunstância em que a torneira é aberta também afeta o comportamento de abri-la. Se for uma torneira com mistura de água quente e fria, posso abrir mais lentamente para testar a mistura. Se abrir rapidamente a água quente posso me queimar, ou se abri-la lentamente a água pode demorar a atingir a temperatura que desejo. Estes exemplos envolvem outros estímulos presentes na circunstância em que o comportamento de abrir a torneira ocorre, mas por enquanto não vamos falar destes estímulos. Fiquemos apenas com a relação entre comportamento e suas consequências.

Vamos dar nomes aos bois, pois assim tudo fica muito mais fácil. Já aprendemos a definir operante. Sabemos que as consequências que um operante provoca são o princípio para entendermos esta classe de comportamentos. Mas estas consequências têm nomes. Vamos introduzir alguns destes nomes (conceitos). Chamamos de reforçadores, estímulos reforçadores ou simplesmente reforços as consequências produzidas por um operante. Estas só podem ser chamadas desta forma se for possível observar que a resposta que gera estas consequências torna-se mais forte. Se isso for observado podemos dizer que existe entre a resposta e a consequência produzida uma relação de contingência. Contingência é um termo técnico para designar relações de dependência entre eventos comportamentais e eventos ambientais.

A relação entre resposta e reforçadores é no condicionamento operante uma contingência. Assim como é uma contingência a relação entre estímulos incondicionado/condicionado e respostas incondicionada/condicionada no paradigma do condicionamento respondente. Dizer que existe uma contingência entre um evento comportamental e um evento ambiental, é o mesmo que dizer que a presença de um aumenta a possibilidade de ocorrência do outro, ou seja, é o mesmo que dizer que existe uma relação de dependência entre estes eventos. Neste sentido, podemos afirmar junto com Skinner que a Psicologia é uma Ciência Natural, pois seu objeto de estudos (comportamento) envolve relações de dependência entre eventos naturais. O vídeo abaixo faz um bom resumo da obra de Skinner e destas relações aqui teorizadas:

                                         

Há dois tipos de operações através do qual as consequências podem modificar o comportamento: operação de reforçamento positivo e operação de reforçamento negativo. Os termos positivo e negativo não têm nenhuma relação com energias positivas ou negativas ou com os efeitos emocionais provocados pela apresentação de reforços negativos e positivos. Energias positivas e negativas são entidades metafísicas que não têm lugar na psicologia skinneriana, são especulações a respeito do comportamento. Não são eventos naturais. Sendo assim, não podem possuir o status de agentes causais do agir humano, assim como a mente e assemelhados. Não podemos, por exemplo, com o conceito de mente (id, ego, superego, inconsciente, cognição etc) fazer qualquer previsão sobre o comportamento humano. Mas podemos com o conceito de reforço criar esta margem de previsibilidade, bastando que se identifique a resposta, o reforço que ela produz e o efeito deste reforço sobre a resposta. Feito isso, posso alterar o comportamento nesta ou naquela direção, bastando que eu modifique a relação entre resposta e reforço. Esta é a vantagem da prosposta de Skinner, pois ela nos permite transitar no mundo dos eventos naturais, o que consequentemente permite também a utilização do método experimental no estudo do comportamento, sendo a utilização deste método um avanço científico considerável, uma vez que o que se estuda no mundo simplificado do laboratório não é diferente do mundo externo, ou seja, não há uma ruptura entre a natureza do mundo dentro do laboratório e a natureza do mundo fora deste. São o mesmo mundo. Existe uma continuidade entre ambos. Sendo assim, as leis descobertas por meio de arranjos experimentais no laboratório podem perfeitamente serem aplicadas ao mundo cotidiano, desde que se resguardem as devidas proporções na complexidade das relações entre eventos ambientais e eventos comportamentais dentro e fora do laboratório.

Voltemos às operações de reforçamento positivo e negativo. Na operação de reforçamento positivo o comportamento é fortalecido por um estímulo que é acrescentado à situação. Diga-se de passagem, que este estímulo é produzido por este comportamento, já que há entre ambos uma relação de dependência. Veja a tirinha abaixo:

                                            Clique na imagem para ampliar.

O comportamento de “olhar de biscoito” de Snoopy é reforçado positivamente por Charlie Brown. Possivelmente Snoopy agiu assim porque outras vezes no passado quando lançou sobre Charlie Brown este mesmo olhar, acabou recebendo alguns biscoitos de chocolate. E há na tirinha informações que nos permite tal conjectura, pois Snoopy afirma ao final: “O velho olhar fixo de biscoito de chocolate”. Certamente este mesmo comportamento foi reforçado positivamente em outras circunstâncias semelhantes no passado, em função disso continua acontecendo. Um estímulo foi acrescido à situação: o comportamento de dar biscoitos por parte de Charlie Brown. Portanto, o termo positivo faz referência ao estímulo que é acrescentado.

Associado ao reforçamento positivo estão os sentimentos de bem-estar, motivação, alegria, exaltação etc. Mas um estímulo não é um reforçador positivo por causa de seus efeitos emocionais, e sim por causa de seus efeitos sobre o comportamento que o provoca. No caso do estímulo reforçador positivo, seu efeito é fortalecer o comportamento que o produz.

É visível como Snoopy ficou feliz. Então há uma relação entre o uso de reforçamento positivo e os sentimentos de alegria, realização, felicidade etc. Se quisermos construir um mundo em que as pessoas sejam mais felizes, temos que pensar no tipo de reforçamento que utilizamos em nossas relações. No entanto, isso não quer dizer que reforçamento positivo reforce apenas comportamentos adaptativos. Ele também pode ser responsável pela produção de comportamentos desadaptativos. Um bom exemplo é a dependência química. A droga enquanto estímulo reforçador positivo reforça todos os comportamentos que envolvem o seu uso, inclusive o tráfico, o roubo etc. E a longo prazo ela destrói relações e também a saúde de seus usuários. Então reforçamento positivo, embora, esteja associado a sentimentos positivos, também pode produzir comportamentos desajustados, por isso se deve tomar muito cuidado ao se analisar um comportamento e as relações que ele estabelece com o ambiente.

Na operação de reforçamento negativo um comportamento é fortalecido pela remoção de um estímulo. Neste caso a consequência do comportamento é a remoção do estímulo. Vejamos a tirinha abaixo:


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Na tirinha Linus faz o sanduíche para livrar-se da ameaça de agressão. O estímulo (comportamento) “ameaça” é removido pelo comportamento de fazer o sanduíche. Então o termo negativo faz menção ao fato de que um estímulo é subtraído. Este estímulo chamamos de estímulo reforçador negativo, ou simplesmente reforço negativo. No exemplo da tirinha o comportamento de Linus está sendo mantido através de reforçamento negativo. Se Linus agiu tão prontamente é porque provavelmente no passado ele recebeu outras ameaças, e talvez algumas delas chegaram a se concretizar. Associado ao reforçamento negativo está geralmente o sentimento de alívio quando o estímulo reforçador negativo é romovido. Mas quando este ainda está em operação é comum a ansiedade, angústia, medo, apreensão, mal-estar etc. Todos estes são exemplos de reações emocionais que comumente chamamos negativas, mas não é por causa disso que a operação é chamada de reforçamento negativo, mas sim por causa da função que tem o estímulo removido como consequência da ocorrência de um determinado comportamento, e esta função é o fortalecimento deste comportamento.

Vejam, portanto, que as operações de reforçamento, sejam elas de reforçamento positivo ou negativo produzem (fortalecem) comportamento. É bom que isso fique claro, pois comumente reforçamento negativo é confundido com punição. Embora exista uma estreita relação entre as operações de punição e reforçamento negativo, punição não produz (fortalece) comportamento. Punição suprime temporariamente o comportamento punido, mas somente enquanto ela estiver agindo. Cessada a punição o comportamento punido provavelmente volta a ocorrer.

A estreita relação entre punição e reforçamento negativo ocorre porque o agente punidor torna-se por causa do uso da punição um estímulo do qual fugimos ou tentamos evitar. Quando fugimos o comportamento de fuga é mantido por reforçamento negativo. Mas por que o agente punidor pode se tornar por si só um estímulo do qual temos a tendência a fugir e/ou evitar (esquivar)? Aqui aproveitamos para introduzir mais uma operação comportamental relacionada à ocorrência do comportamento operante. Esta operação é chamada de discriminação.

Já entendemos que o comportamento operante é afetado por suas consequências. Entendemos também que a relação entre comportamento e suas consequências é uma contingência. Mas existe outro tipo de contingência quando o que está em jogo é o comportamento operante. Este comportamento também mantém relações de dependência com estímulos presentes no contexto em que ocorre e é reforçado.

Todo comportamento ocorre em um contexto. Os estímulos do contexto podem se associar aos estímulos reforçadores. Quando isso acontece eles adquirem a função de sinalizarem a ocorrência de reforços, sejam eles positivos ou negativos. Estes estímulos são chamados de estímulos discriminativos, e a operação de estabelecimento dos mesmos é chamada de discriminação. Voltemos ao exemplo de Linus e a irmã. Provavelmente Linus foi punido pela irmã outras vezes no passado. Porque isso aconteceu certos comportamentos da irmã se tornaram estímulos sinalizadores de punição. O punho armado da irmã na figura age neste sentido, ou seja, ele sinaliza uma operação de punição em andamento. Para fugir da punição sinalizada pelo comportamento da irmã, Linus acaba fazendo o sanduíche. O comportamento agressivo da irmã é o estímulo discriminativo que tornou mais provável o comportamento de fazer sanduíche por parte de Linus.

Neste exemplo aprendemos algo importante. Estímulos discriminativos não agem como os estímulos incondicionado e condicionado no comportamento respondente. Eles não provocam o comportamento, eles tornam mais provável o comportar-se neste ou naquele sentido. Então os estímulos discriminativos aumentam a probabilidade de ocorrência de um determinado comportamento. A relação entre comportamento, suas consequências e os estímulos do contexto chamamos de contingências do reforço. A análise do comportamento passa pela análise das contingências do reforço.

Estímulos discriminativos também podem sinalizar a ocorrência de reforçamento positivo. Veja a tirinha abaixo:

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Vemos na cena Snoopy beijando Paty Pimentinha. O beijo de Snoopy sinaliza que ele está disposto a se envolver em outros comportamentos de manifestação de carinho. Quando, por exemplo, o amado quer surpreender a sua amada e torná-la predisposta a manifestar comportamentos de carinho, ele dá a ela um buquê de flores ou a chama para jantar. A surpresa do amado sinaliza que ele está disposto a reforçar comportamentos de carinho de sua amada e sinaliza que naquela noite ele quer um encontro especial. A surpresa sinaliza ainda para a amada que o amado naquela noite está predisposto a ser carinhoso. O buquê ou o convite para jantar são estímulos discriminativos sinalizadores de reforçamento positivo.

Estímulos parecidos, ou seja, que guardam alguma propriedade com algum estímulo discriminativo também têm a função de aumentar a probabilidade de certos comportamentos. Uma mulher com saudades do amado que está viajando pode achar que o viu na rua porque cruzou com algum homem que se parece com ele. O cheiro de um perfume doce pode nos lembrar alguém com quem nos relacionamos no passado e que também usava perfumes doces. Esse princípio chamamos generalização. A generalização ocorre tanto no condicionamento respondente quanto no condicionamento operante.

A mesma operação que produz estímulos discriminativos produz também um tipo de reforço que chamamos reforçadores condicionados. Existem os estímulos reforçadores incondicionados e os estímulos reforçadores condicionados. Estímulos reforçadores incondicionados e condicionados podem ter tanto a função de reforços positivos ou negativos, ou seja, podem reforçar comportamento pela sua adição ou subtração. Estímulos reforçadores incondicionados são aqueles de importância biológica: comida, bebida, sexo, abrigo contra calor ou frio etc. Estímulos reforçadores condicionados são aqueles estímulos que adquiriram a função de reforçar porque foram associados a algum estímulo reforçador incondicionado. O dinheiro é um bom exemplo de reforçador condicionado, pois com ele compramos comida, bebida, nos abrigamos contra o frio e nos protegemos do calor etc. Carinho, afeto, atenção são outros exemplos de reforçadores condicionados.

Desde muito cedo recebemos carinho, afeto e atenção de pessoas próximas de nós. Estes costumam ser acompanhados de comida e bebida. A mãe que amamenta e acaricia seu bebê é a cena perfeita para o estabelecimento destes reforçadores desde muito cedo. Desta forma novos reforçadores vão sendo construídos. Na medida em que novos estímulos ao longo da vida vão sendo pareados (associados) a reforçadores incondicionados ou a outros reforçadores condicionados, vão surgindo novos reforçadores condicionados.

Mas fica a pergunta: por que o reforço reforça? Da mesma forma que a evolução das espécies selecionou alguns comportamentos por causa de seu valor de sobrevivência, selecionou também a capacidade de certos comportamentos serem afetados pelas consequências que produzem. Estes comportamentos são os operantes. O operante corrige uma falha da evolução. A evolução só selecionou aqueles comportamentos adequados ao ambiente em que a espécie se desenvolveu. Num ambiente em constante mutação estes comportamentos selecionados pela evolução não permitiriam a espécie se adaptar eficazmente. Para corrigir esta falha o mesmo processo evolutivo selecionou a susceptibilidade de alguns comportamentos serem afetados por suas consequências, permitindo a espécie se adaptar a novos ambientes pela aquisição de novos comportamentos.

O mesmo princípio presente na seleção de comportamentos que têm valor de sobrevivência para a espécie, opera na determinação (causação) dos comportamentos operantes, ou seja, estes são selecionados pelas consequências que produzem por causa de seu valor adaptativo. Mas este processo também tem uma falha, pois ele pode produzir comportamentos desadaptativos como já tivemos oportunidade de assinalar. Para correção desta falha surgiu a “linguagem” (comportamento verbal). Veja que linguagem está entre aspas porque para o Behaviorismo Radical não existe linguagem enquanto entidade metafísica. Linguagem enquanto sinônimo de língua empregada por um povo é nada mais do que a codificação do conjunto de comportamentos verbais deste mesmo povo, mas deixemos esta querela para outros posts.

Através do comportamento verbal podemos descrever nossos comportamentos e as relações que ele estabelece com o meio, criando para nós mesmos e para a cultura que vivemos regras que evitam que incorramos em comportamentos que podem nos prejudicar e prejudicar aqueles com quem vivemos, ou regras que aumentam a probabilidade de comportamentos que promovam o bem-estar da cultura. Regras do tipo: “o uso de drogas destrói a saúde”. Logicamente que a regra não impede que sejam criadas ocasiões para o reforçamento de comportamentos pouco adaptativos, mas aumentam as chances de acertos e minimiza as chances de erros. O caso das drogas é um bom exemplo, pois a imediaticidade dos reforços positivos produzidos pelo seu uso é muito mais poderosa do que as adversidades produzidas a longo prazo. Mas tudo que a regra faz é sinalizar para estas consequências adversas a longo prazo. Neste caso existem duas contingências concorrendo uma com a outra: a contingência imediata e a contingência a longo prazo.

Portanto, o modelo de causalidade proposto pela psicologia skinneriana apresenta-nos três níveis de seleção: a filogenética, a ontogenética e a cultural. A filogenética diz respeito aos comportamentos selecionados ao longo da evolução da espécie. A ontogenética à susceptibilidade de certos comportamentos serem afetados por suas consequências e a cultural aos comportamentos que permitem-nos descrever as contingências que governam nossos comportamentos nos três níveis. Em outros posts exploraremos com mais detalhes os dois últimos níveis.

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