segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Behaviorismo: a matriz teórica mal amada da Psicologia


Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Este post pretende apresentar em linhas gerais o Behaviorismo. O Behaviorismo é uma das mais mal amadas e mal compreendidas abordagens teóricas da Psicologia. São frequentes as críticas dirigidas a ele, críticas que muitas vezes são edificadas sobre argumentações frágeis e sensacionalistas. O sensacionalismo se dá em função do Behaviorismo romper com a tradição mentalista em Psicologia e propor uma nova forma de investigação do comportamento humano.

Então neste post duas propostas de Behaviorismo serão analisadas: a proposta de Watson e a de B. F. Skinner. Existem outras propostas, mas nos limitaremos à análise destas duas. Por que somente estas duas? Por motivos óbvios. A proposta de Watson é o princípio de tudo. Ele é o responsável pela cunhagem do termo “Behaviorismo” (Comportamentalismo). Já Skinner apresenta-nos uma proposta capaz de romper com a tradição mentalista em Psicologia, algo que não ocorre totalmente em Watson, definindo assim um programa de estudos adequado à investigação do comportamento de modo geral. E é por causa da capacidade da obra de Skinner em definir um programa de estudos adequado à investigação do comportamento, que seu Behaviorismo, chamado de Radical, ganhou tanta repercussão não somente no interior da Psicologia, como também no interior de outras áreas do saber. Passemos então ao nosso objetivo.

É frequente ouvirmos críticas as mais variadas possíveis sobre o Behaviorismo. Críticas que tratam pejorativamente os conceitos usados pelo Comportamentalista e/ou Behaviorista por não se referirem "ao mais profundo da alma (mente) humana". E se estes conceitos não se referem, não tratam minuciosamente o funcionamento da mente humana, é porque o behaviorista acha desnecessário fazer uso de conceitos metafísicos para explicar o comportamento humano. O behaviorista não desconsidera o mundo privado do sujeito, mas afirma que é possível explicar o comportamento a partir somente da relação entre homem e ambiente.

O behaviorismo nasceu em 1913 com o cientista americano John Watson. Watson teve como pretensão fazer da psicologia uma ciência empírica. Sendo influenciado pelo positivismo comteano que estabelecia como verdade científica aquilo que pudesse ser consensualmente observado, acabou por estabelecer como objeto de estudos da psicologia o comportamento observável, negando, portanto, à mente o status de agente causal do comportamento. Apesar de Watson não negar a existência da mente, ele a ignora por considerá-la substancialmente diferente do corpo, e sendo assim os órgãos sensoriais não poderiam fornecer informações a respeito dessa substância distinta. A causa do comportamento segundo Watson são os estímulos ambientais que atingem o organismo forçando-o a emitir uma resposta. Por este motivo sua proposta de investigação ficou conhecida como a Psicologia do estímulo-resposta.

Mais tarde, entre 1938 e 1945, B. F. Skinner o criador do Behaviorismo Radical, lança seus primeiros estudos definindo o conceito de operante, produzindo assim uma reviravolta nos estudos sobre o comportamento. Com a criação do conceito de operante Skinner rompe com a psicologia do estímulo-resposta e define o seu modelo de investigação do comportamento de modo geral, um modelo baseado na utilização do método experimental, pois o comportamento é um evento natural (evento com dimensões físicas e temporais) como qualquer outro objeto de estudos de outras áreas do saber, podendo, portanto, ser investigado com os métodos das ciências naturais. Então para Skinner a Psicologia é uma ciência natural.

Existem duas classes de comportamentos: respondentes e operantes. Toda obra de Skinner e o modelo de causalidade por ele adotado para explicar o comportamento estão assentados sobre o conceito de operante. É tarefa de outros posts definirem estas duas classes de comportamentos, como também analisar a repercussão do conceito de operante na obra de Skinner. Por enquanto nos contentemos com uma definição geral de operante, de modo a entendermos o que o Behaviorismo Radical tem a nos oferecer quando o assunto é a explicação do agir humano.

Operante é aquela classe de comportamentos que opera no meio ambiente produzindo determinadas modificações. Por sua vez estas modificações também alteram o comportamento, tanto em sua função (sentido/intencionalidade) quanto em sua topografia (forma). Nesta perspectiva o operante é selecionado (determinado) pelas consequências que produz. A grosso modo operantes são aqueles comportamentos que chamamos voluntários. Vejam que eu disse a grosso modo, pois não existe comportamentos voluntários, uma vez que todo comportamento é determinado pelo ambiente e pela história de relações estabelecidas com o meio circundante (físico e social). O termo voluntário está sendo usado para distinguir operantes de comportamentos respondentes (reflexos). Estes últimos ocorrem sem necessidade de aprendizagem, por isso são comumente chamados de involuntários. A título de uma diferenciação grosseira os operantes são produtos de aprendizagem e os reflexos são instintivos. Em outros posts analisaremos e exemplificaremos estes dois tipos de classes de comportamentos.

Voltemos ao que interessa: uma apresentação panorâmica do Behaviorismo Radical. O Behaviorismo Radical não concorda com as prerrogativas do positivismo comteano, ou seja, ele não defende a utilização do critério de verdade por concordância, critério que faz Watson banir da Psicologia os eventos privados, a subjetividade. Mas para Skinner o que é privado não precisa ser mental. Skinner admite o estudo dos eventos privados, eventos que se passam sob a pele. Mas estes continuam sendo eventos naturais. A única diferença entre eventos privados (pensamentos, imaginação etc) e eventos públicos (manifestos) é a acessibilidade.


Comportamentos públicos são acessíveis por todos. Já os eventos privados são acessados somente por quem se comporta. Mas ambos continuam sendo determinados pelo ambiente. Em Skinner a subjetividade encontra lugar, mas não como sinônimo de vida mental, e sim como sinônimo de singularidade. O Behaviorismo Radical admite que cada ser é único, pois cada organismo tem uma história de interações com o ambiente completamente diferentes. Então, de uma ótica do Behaviorismo Radical a subjetividade (emoções, sentimentos, desejos, vontade etc) sempre precisa ser analisada a partir da história de relações estabelecidas entre o organismo que se comporta e os ambientes aos quais este organismo foi exposto ao longo de sua existência.

Portanto, fica claro que a proposta de Skinner não se furta a explicar a subjetividade. Não se trata de uma proposta de Psicologia que nega as emoções e os sentimentos. A obra de Skinner resgata as emoções e os sentimentos, ou seja, resgata a subjetividade, mas mostrando que esta não é sinônimo de vida mental. O que é privado não precisa ser mental. E por ser privado não precisa ser banido do quadro de estudos da Psicologia. A acessibilidade aos eventos privados é uma dificuldade, mas não um impedimento ao estudo deste tipo de evento. Em outros posts veremos como Skinner analisa a questão das emoções. 

4 comentários:

  1. Ótimo post, Bruno! Digno de partilha!
    Além de apresentar as noções básicas do Behaviorismo, conseguiu em poucas palavras justificar alguns conceitos equivocados daqueles que interpretam essa ciência sob uma perspectiva preconceituosa.
    Nada é, senão, falta de esclarecimento. =)

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  2. Mais uma vez obrigado por suas observações Francine. De fato o Behaviorismo é mal compreendido por falta de esclarecimentos, e estes foi um dos motivos que me levou criar este blog.

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  3. Parabéns pelo post! Conciso e esclarecedor.
    Todavia no sétimo parágrafo creio que haja um equivoco ao afirmar que o comportamento respondente não necessita de aprendizagem. O condicionamento pavloviano é um modelo básico de aprendizagem no comportamento respondente.
    Imagino que seu objetivo era abordar conceitos de forma "grosseira" como você mesmo afirma no texto, entretanto, o grosseiro acabou por ocultar informações importantes para o melhor entendimento entre "respondente" e "operante".
    No mais, abraços, parabéns pela iniciativa do blog.

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  4. Caro Jordano, no condicionamento respondente não há aprendizagem de novas respostas, apenas extensão do controle. Estas que anteriormente eram eliciadas apenas pelo estímulo incondicionado, passam a ser eliciadas também por estímulos condicionados. Neste caso, nenhuma resposta nova é aprendida. Ocorre apenas que uma resposta selecionada pelo processo evolutivo por causa de seu valor de sobrevivência, passa a ser eliciada por outros estímulos que foram associados ao estímulo que originalmente provoca esta resposta. No entanto, não há aprendizagem de novas respostas, isso só ocorre no condicionamento operante.

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