sexta-feira, 16 de março de 2012

Moscas alcoólatras?: o condicionamento operante em moscas

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro

Em recente estudo feito por cientistas da Universidade da Califórnia nos EUA, moscas macho foram separadas em dois grupos. (Clique para ver a reportagem). Um grupo teve acesso a fêmeas receptivas, enquanto o outro teve acesso a moscas arredias. O grupo que teve acesso a moscas arredias pôde acessar em seguida dois tipos de alimentos, um com álcool e outro sem álcool. Com isso os cientistas puderam constatar que as moscas rejeitadas gostam mais da bebida alcoólica.


De acordo com os cientistas isso acontece por causa de uma substância produzida pelo sistema de recompensa do cérebro. Quanto menor for a produção desta substância, maiores são as chances da mosca ingerir a bebida alcoólica. Embora este estudo revele alguns dos mecanismos cerebrais relacionados com a ingestão de bebida alcoólica, de modo que se possa pensar se existem ou não mecanismos semelhantes na espécie humana, e provavelmente eles existem, não precisamos reinventar a roda na tentativa de explicar o comportamento de animais ou mesmo o comportamento humano, ou seja, mesmo que as ciências do cérebro não tivessem avançado ao ponto de revelar estes mecanismos, a ciência do comportamento humano (Análise Experimental do Comportamento) evoluiu o bastante para revelar as leis comportamentais responsáveis pelo comportar-se, sem que seja necessário invocar mecanismos neurofisiológicos ou mentais para explicar como agimos.

Não se trata de ignorar os avanços das ciências do cérebro, mas suas descobertas podem contribuir para a ressureição das teorias do homúnculo - se é que elas de fato morreram -, mas agora este deixa de ser mental para ser cerebral. As teorias do homúnculo são aquelas que invocam a existências de entidades interiores ao organismo para explicar o comportamento, teorias que propõem uma espécie de eu iniciador, um eu localizado nas entranhas do ser. É o velho dualismo mente/corpo, mas agora revestido do discurso das ciências do cérebro. O homúnculo deixa de ser a mente e o cérebro assume o seu lugar. Assim ficamos a um passo de uma proposta medicalizante, de uma proposta que queira produzir modificações comportamentais por meio de mudanças na química cerebral, e isso seria um reducionismo terrível.



Comportamento animal ou humano, ambos estão submetidos às mesmas leis. Mesmos os “organismos inferiores” como os insetos têm comportamentos que são afetados por suas consequências. Logicamente que a quantidade de comportamento operante nestes organismos é muito menor do que em humanos. No experimento relatado as moscas rejeitadas buscaram mais o alimento com álcool do que o alimento sem álcool.  Disto podemos inferir que não podendo obter satisfação por meio da cópula, as moscas puderam obtê-la por meio do álcool. Se o comportamento de buscar o álcool entre moscas rejeitadas aumentou de frequência, pode se pensar que o álcool atuou como reforçador para o comportamento de buscá-lo. Temos então neste caso uma relação entre um comportamento e a consequência por ele gerada. 


Fazendo uma transposição para uma situação humana, não é difícil imaginar que alguém que não encontre reforços na relação com o(a) parceiro(a) possa empreender esforços para buscá-los em outras fontes. Isso ao menos serve para pensarmos nossas relações. Se elas não estão sendo reforçadoras, podemos estar criando um precedente para que nossos parceiros busquem satisfação em outros lugares. Fica a dica!

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