domingo, 15 de abril de 2012

Jovem "puxa gato" e morre eletrocutado: reflexões sobre o jeitinho brasileiro

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Neste domingo 15 de abril de 2012 um jovem de 14 anos morreu eletrocutado depois de tentar “puxar um gato” da rede elétrica em Esmeraldas, cidade situada na região metropolitana de Belo Horizonte. Clique aqui para ver reportagem. Certamente o que o jovem estava fazendo é um crime. Não sei nada sobre direito, mas imagino que deve existir algum tipo de punição para estes casos, principalmente porque a parte lesada seria a poderosa CEMIG.


Cabe uma análise da situação? Sim, certamente. Tentemos imaginar porque um jovem de 14 anos estava roubando energia da rede elétrica. Poderíamos levantar várias hipóteses. Uma hipótese plausível é o famoso “jeitinho brasileiro”. Brasileiro tem um jeito para todo tipo de situação. Este é um comportamento que é parte da cultura do nosso país. Ser brasileiro quase que virou sinônimo de fazer de tudo para dar jeito em qualquer tipo de situação. Ser brasileiro é praticamente sinônimo de tirar alguma vantagem em cima dos outros.

E a mídia reforça bastante este tipo de comportamento chamando-nos de guerreiros para que compremos cerveja, para que nos sintamos mobilizados a deixar em dia nosso título de eleitor, blá, blá, blá etc e tal. Fico aqui pensando com os meus botões se os maiores interessados neste padrão comportamental não são nossos políticos corruptos. Se tudo pode ser feito para tirar vantagem, não há problema algum em desviar alguns milhões de recursos públicos para a própria conta em paraísos fiscais.

Talvez queiram banalizar a cultura do “jeitinho brasileiro” para que tudo que se faça seja aceitável, inclusive o desvio de alguns milhões de recursos públicos que quando desviados deixam de serem investidos na saúde, educação, lazer, pesquisas científicas etc. Uma vez que acreditemos que é normal tirar vantagem em cima do outro, passamos a aceitar quase qualquer tipo de situação sem muita indignação. Assim criam-se contingências que diminuem a probabilidade de comportamentos de contracontrole, fazendo com que sejamos bons cordeirinhos e não nos rebelemos contra o cabresto que nos é imposto.

Tomando a cultura do “jeitinho brasileiro” como normal, deixamos inclusive de nos rebelarmos contra uma CEMIG que tem a tarifa de energia mais cara do país. Aceitamos sem muita rebeldia as tarifas que nos são impostas. Os que não aceitam tentam “puxar um gato” arriscando a própria vida. Então outra hipótese plausível para o comportamento de “puxar um gato” é que este é uma forma de contracontrole, de roubar de quem rouba primeiro, neste caso quem rouba primeiro é a concessionária de energia, que recebe todo o respaldo do governo do estado para nos assaltar com suas tarifas exorbitantes. Mas este é um comportamento de contracontrole -  comportamento que tenta eliminar uma fonte de estimulação aversiva - pouco efetivo, pois, além de colocar a vida em risco pode ser enquadrado como crime. Além do mais não contribui para a mudança das contingências de reforço, de modo que possam ocorrer alterações na legislação, alterações que poderiam modificar a tarifação de energia e outros serviços públicos.

Fica a pergunta: ao acreditarmos na “normalidade” do “jeitinho brasileiro” quem acaba saindo perdendo?

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5 comentários:

  1. Sua análise do "jeitinho brasileiro" foi hilária. Ri em alguns trechos. Mas descontração a parte, seu texto nos faz refletir sobre pequenas atitudes que desenvolvemos no cotidiano sob a lógica do "jeitinho", mas que desencadeiam consequencias nocivas numa ampla dimensão. Muito bacana!

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    1. Isvânia quando tinha uns 12 anos ouvi uma piada e até hj a tenho comigo:
      -Vou me formar em direito.
      -Pra que? Pra soltar bandido?
      -Não, pra roubar com respaldo da lei!
      Foi o Azambuja que questionou o amigo malandro e, pra mim o Azambuja como tantos outros do mestre Chico Anísio (C A kkk) retratam muito bem essa realidade.

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  2. Obrigado Isvânia. Realmente a lógica do "jeitinho brasileiro" pode ser bastante nefasta. Como vc assinalou ela pode produzir consequências nocivas em uma ampla dimensão, mas, sobretudo, no que tange ao impedimento de comportamentos de contracontrole.

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    1. Polidas e belas palavras! Ouvi do Gerson outro dia quando argumentava sobre a abertura das lutas na tv plim-plim com o Rodrigo que achava ruim a banalização das lutas, enquanto o Gerson colocou que era a chance das classes mais oprimidas de ascenderem! E é lógico que os "brameiros" são pessoas que não podem nem beber cervejas e vão na cachaça mesmo só que no final "tomam uma brahma, pra lavar a prensa".
      Bruno esse tema, digo "condicionar as massas" é muito importante, tem gente que fica no meio da madrugada em semáforo vermelho pra não dar exemplo ruim pros filhos que estão em kza dormindo...
      Fala sério! Enquanto existir otário, malandro não morre de fome. (Azambuja)
      Abraço.

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    2. De fato este é um tema muito importante e que não é estranho ao Behaviorismo Radical. E na proposta de Skinner encontramos todo o suporte que precisamos para debatê-lo.

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