sexta-feira, 12 de abril de 2013

Por que a Terapia Comportamental é Comportamental?

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

É comum ouvirmos as pessoas dizerem: "a Terapia Comportamental dá muitos resultados em casos de fobias, principalmente as específicas." Que terapeuta comportamental nunca ouviu esta frase ou algo bem próximo disso? Se nunca ouviu não é terapeuta comportamental! Rs!!! Brincadeiras à parte, esta forma de pensar a terapia comportamental revela algo muito sério. Revela que as pessoas não sabem o que é a terapia comportamental. No imaginário coletivo a terapia comportamental é equivalente à aplicação de um conjunto de técnicas para a modificação do comportamento.

Nada mais enganoso do que achar que a terapia comportamental simplesmente se limita à aplicação de técnicas para a modificação de comportamentos. Uma determinada forma de conduzir o processo psicoterápico pode fazer uso de técnicas de modificação de comportamentos e mesmo assim não ser uma terapia comportamental, isso porque a terapia comportamental vai muito além da aplicação das técnicas pelas técnicas. As técnicas fazem parte do arsenal de intervenção em terapia comportamental, mas constituem apenas parte do setting clínico, e não constituem a parte mais importante. Isso mesmo, as técnicas de modificação de comportamentos não constituem a parte mais importante do setting clínico em terapia comportamental.

Então, vem a pergunta: o que faz com que a terapia comportamental mereça a denominação "comportamental"? De cara já sabemos que não é a simples aplicação das técnicas que fazem com que a terapia comportamental mereça tal denominação. É preciso entender que as técnicas são recursos para a realização de intervenções. Imagine um cientista que trabalha com tubos de ensaios e pipetas. Tubos de ensaios e pipetas fazem parte do arsenal que constitui o arranjo experimental sem o qual não seria possível o estudo de algumas reações químicas. Podem até ser parte do cenário que constitui este arranjo, mas não definem o que faz o profissional que estuda estas reações, neste caso o químico.

Seria muito grosseiro identificar o que faz o químico com a utilização de tubos de ensaios e pipetas. O que o químico faz vai muito além da utilização de tubos de vidro. Ele até precisa destes instrumentos para fazer a sua ciência, mas ela poderia muito bem ser construída sem eles. A comparação é válida para definir o que se faz na terapia comportamental. Técnicas de modificação do comportamento são análogas às pipetas e tubos de ensaio, mas não definem o que é a terapia comportamental. Como recursos para a realização de intervenções elas podem produzir modificações comportamentais. No entanto, estas modificações precisam estar ancoradas naquilo que é chamado de análise funcional do comportamento.

Somente com a análise funcional do comportamento o terapeuta tem condições de selecionar que comportamentos vão se tornar o alvo da intervenção e que contingências de reforço precisam ser modificadas para que os comportamentos sejam alterados. Isto joga por terra a crítica de que a terapia comportamental não consegue elucidar quais são os significados por trás de cada tipo de conduta. A terapia comportamental não faz outra coisa que não seja tornar claro quais são estes significados. Quando é elucidada qual é a função de um comportamento, ou seja, que variáveis estão relacionadas à sua ocorrência, estão sendo esclarecidos os seus significados, os motivos que fazem com que ele ocorra desta e não daquela forma.

O que faz com que a terapia comportamental mereça a denominação "comportamental", são os procedimentos analíticos que permitem uma análise minuciosa das contingências de reforço relacionadas à ocorrência dos comportamentos clinicamente relevantes. Estes procedimentos incluem a análise do comportamento, de suas consequências, dos contextos em que ocorre e dos esquemas relacionados às formas como as consequências seguem os comportamentos por elas mantidos. Há esquemas que produzem comportamentos resistentes à extinção, enquanto que outros produzem comportamentos menos vigorosos e facilmente extinguíveis.

Se todas as variáveis citadas forem levadas em consideração, dificilmente o comportamento modificado voltará a se manifestar, o que joga por terra outra crítica dirigida à terapia comportamental, de que nesta modalidade de terapia não há mudanças significativas, pois são abordadas apenas as manifestações sintomáticas. Em outras palavras, é dito por aí que a terapia comportamental lida apenas com sintomas. Esta clássica visão do comportamento como sintoma de processos mentais é descartada pela terapia comportamental.

O comportamento é produto de contingências de reforço. Ele também é produto de contingências filogenéticas e culturais, mas estas não estão ao alcance do trabalho terapêutico. Ele não é produto de processos mentais. Se as contingências de reforço forem efetivamente modificadas o comportamento também será. Então, não há probabilidade de ocorrerem novas manifestações sintomáticas, ou seja, de que o comportamento modificado volte a ser fonte de problemas.

Portanto, o que torna a terapia comportamental uma modalidade de intervenção psicoterápica que mereça a denominação "comportamental" são todos os procedimentos relacionados à analise e modificação dos comportamentos clinicamente relevantes. Não há modificação efetiva de comportamentos sem uma análise minuciosa das contingências de reforço. As modificações até podem ser alcançadas, mas sem uma análise das contingências de reforço elas não serão duradouras.

E você, entendeu o que é a terapia comportamental? Deixe os seus comentários sobre o texto nos campos destinados para este fim.

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2 comentários:

  1. Oi Bruno, bom dia !
    Obrigada pela visita em meu blog, seja bem vindo !
    Obrigada pelo convite da parceria, é um prazer para mim, o seu banner já está no meu blog na página Parcerias, aproveitei e levei também o banner do Café com ciência, espero que não se importe,, já estou seguindo aqui também, parabéns pelos blogs !
    Abraços
    http://coisassimplesmeencantam.blogspot.com.br/ Acessórios e personalizações de blogs

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    Respostas
    1. Obrigado pela gentileza Patrícia! Não importo por ter levado para o seu blog o banner do Café com Ciência. Ao contrário, fico muito feliz. Postarei seu banner por aqui e também no Portal da Assistência.

      Abraços.

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