segunda-feira, 1 de julho de 2013

Doma Racional e Condicionamento Operante

Por: Bruno Alvarenga Ribeiro.

Este post é para os aficionados por animais, mas não somente para estes. Ele também é dirigido aos aficionados pela Análise do Comportamento. A Análise do Comportamento enquanto ciência demonstra que no contexto do laboratório ou fora dele o comportamento está sob constante controle do ambiente. No ambiente do laboratório o método experimental é utilizado para delinear com exatidão que variáveis estão controlando o comportamento, ou seja, que variáveis estão afetando o modo como o comportamento ocorre, se sua ocorrência é menos ou mais frequente e se ela depende da maneira como muda o ambiente, se a probabilidade é maior ou menor quando se apresentam ou retiram determinados estímulos e assim por diante. Sendo assim, o método experimental permite a criação de arranjos experimentais que possibilitam testar a relação entre determinados eventos ambientais de um lado e eventos comportamentais de outro.

Quando Skinner estudou o comportamento operante em sua famosa caixa, que mais tarde foi chamada de Caixa de Skinner, ele fez nada mais e nada menos do que criar arranjos experimentais. Nestes arranjos pôde observar os comportamentos de sujeitos experimentais e como tais comportamentos se alteravam em função da modificação em determinados aspectos do ambiente relacionados a ocorrência destes. No clássico experimento do roedor que pressiona uma barra para obtenção de alimentos, criou-se um arranjo experimental que permitiu que determinados comportamentos fossem seguidos de consequências claramente especificadas, consequências que poderiam ser quantificadas quanto ao número de vezes que ocorriam, de modo a se estabelecer uma relação entre a força do comportamento e a quantidade de ocorrência destas consequências. No texto "Condicionamento Operante: definição e aplicações", o leitor encontrará uma descrição do experimento de Skinner, e entenderá os princípios comportamentais que ele ilustra.

Por ora é importante assinalar que o método experimental é um importante recurso metodológico que permite a criação de arranjos experimentais relevantes para a identificação das variáveis que afetam o comportar-se e de que modo elas afetam. Logicamente não podemos esperar que o mundo fora do laboratório apresente-se de maneira tão didática quanto o mundo controlado dos arranjos experimentais. No entanto, isso não nos impede de analisar o comportamento, pois conhecendo quais são os processos por trás de sua ocorrência, não é impossível identificar como eventos comportamentais e ambientais se influenciam mutuamente. Uma vez que seja possível identificar tais eventos, alterações podem ser introduzidas no ambiente de modo a testar o quanto existe entre eles uma relação de dependência. Se eu sei que determinados reforços podem aumentar a ocorrência de um determinado comportamento, posso utilizá-los para tornarem este comportamento mais frequente, bastando para isso esperar que o comportamento ocorra para em seguida apresentá-los, e é exatamente isso o que faz Monty Roberts em sua doma racional.

O que é a doma racional? É um método criado pelo norte-americano Monty Roberts para domar cavalos sem a utilização de violência, sem a utilização de controle coercitivo. Sabemos que o controle coercitivo está baseado no uso de punição e de ameaça de punição. Sabemos ainda quais são os subprodutos que podem ser gerados por este tipo de controle: agressividade, medo, submissão, ansiedade etc. Mas Monty Roberts abole o uso deste tipo de controle. Ele não usa punição, não usa de nenhum método coercitivo para fazer o animal sentir dor ou sofrimento. O que ele usa então? Ele simplesmente usa reforço positivo, e o utiliza da maneira correta. Vejam o vídeo abaixo, ele tem apenas 6:52 (seis minutos e cinquenta e dois segundos) e vale muito a pena ser visto e apreciado:



Lógico que Monty não chamaria seu método de condicionamento operante, e talvez não reconheceria jamais as semelhanças entre a doma racional e o clássico experimento do roedor na Caixa de Skinner. Monty não é um analista do comportamento e talvez falte-lhe o repertório adequado para notar tais semelhanças e entender que o que ele faz é criar as condições adequadas para apresentar reforços positivos contingentes aos comportamentos que ser quer modelar no animal, algo que Skinner fez quando reforçou por aproximações sucessivas os comportamentos que se aproximavam do comportamento almejado para o seu sujeito experimental, neste caso o comportamento de pressionar a barra para a liberação de alimento. Em seu repertório o roedor não tinha esse comportamento, mas reforçando por aproximações sucessivas os comportamentos que dele se aproximavam, ao final da sessão experimental o roedor conseguiu pressionar a barra. Magia? Não!!! Condicionamento operante, essa é a resposta mais adequada.

Monty por vezes é chamado de encantador de cavalos. Ele parece mesmo encantar os cavalos com sua docilidade que abole o uso de punições. Mas não há nenhum encanto ou magia em todo o processo de doma dos cavalos. Há apenas liberação de reforços positivos contingentes aos comportamentos de docilidade do animal. O resultado é que tais comportamentos tornam-se mais frequentes, e ao final da doma o animal se apresenta mais dócil do que quando ela foi iniciada, podendo ser montado por qualquer pessoa. É isso que o vídeo acima demonstra. Ele é uma excelente aula sobre condicionamento operante. É um bom exemplo de um experimento sendo feito a céu aberto, e o redondel é o laboratório utilizado para esse fim. 

O vídeo tanto mostra a modelagem de novos comportamentos, neste caso os comportamentos de docilidade, quanto a extinção de comportamentos já estabelecidos no repertório do animal, que são os comportamentos de demonstração de agressividade. Estes últimos são colocados em extinção, por isso Monty deixa o cavalo correr ao redor do redondel. Como ele havia sido submetido anteriormente à doma tradicional com uso de violência, humanos representavam possibilidade de punição, ou seja, eram estímulos discriminativos que sinalizavam a possibilidade de uso de controle coercitivo. Por esse motivo o cavalo age com agressividade no início da sessão quando Monty se aproxima. Mas como a aproximação não é seguida de punição, logo o estímulo "humanos" perde a função de ser estímulo sinalizador de punição.

É notável como a aproximação do animal com relação a Monty é seguida de pequenos gestos que funcionam como reforços positivos, gestos como coçar o animal e acariciá-lo. Com o prosseguimento da sessão os comportamentos de docilidade vão se estabelecendo no repertório do animal. Em apenas 25 minutos de doma Monty consegue celar o cavalo e colocar sobre ele uma pessoa. Esta façanha ilustra o poder do reforçamento positivo. Reforços positivos utilizados da maneira correta podem produzir resultados notáveis!  Use reforço positivo em seus relacionamentos, eu recomendo!



2 comentários:

  1. Oi Bruno,
    Parabéns pelo blog, parabéns pelo texto. Uma abordagem técnica e clara bem exemplificada sem ser cansativa e que finalizou com a chave para um bom relacionamento, o reforço positivo, aplico em todas as minhas relações e o saldo é também positivo sem o fator manipulação facilmente confundido com a relação não é clara, tema também que muito me interessa e fica a sugestão.
    Conheci o seu blog através da Silvana e já estou te seguindo!

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    1. Obrigado Dalila pela participação. De fato os reforços positivos quando bem utilizados podem produzir resultados muito interessantes, podem tornar as relações mais amistosas.

      Abraços.

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